Era a musa do sambão. Gelatinosa toda. Corpão, “estriadão”, gordurão... Não tinha quem não olhasse. E ela, flacidez e sobrepeso total, era só aborrecimento.

Tinha gente que para amenizar a chamava de “gordelícia” ou adjetivos afins. Mas Laureta queria mesmo era corpo de modelo, curvilíneo, porém mais para anoréxico. Seu sonho era ser que nem mulher de passarela da São Paulo Fashion Week. Magra similar a bacalhau de resguardo.

Mas não tinha jeito. Já passava dos 120 quilogramas, para uma estatura de 1,65 metros. Quase pigmeu em corpo de urso bem alimentado.

Já tinha feito dieta da sopa, da letra, do número, do sol e da lua. Já tinha tomado fitoterapia, homeo e halopatia. Cirurgia plástica, redução de estômago, greve de fome... Perdeu uns gramas e só. De caminhada na praia a triathlon... A cintura afinava, mas voltava a se dilatar. E como!

Era efeito sanfona com caráter inflacionado da gordura perpétua. Laureta, solteirona por opção da maioria dos homens que desdenhavam das gordinhas, gorda demais se mantinha, a contragosto.

Até que um dia...

Bem, era um sábado de sambão, prazer que Laureta não abria mão em hipótese alguma. Na quadra do clube requebrava, rebolava, ia até o chão, de vestido "tubinho" (ou "tubão"?) e micro calcinha...

Olhava para todos os lados, colocava dedinho na boca, fazia pose de mulher fatal. Mas ninguém dava bola. Nenhum “bofe” topava a parada.

Era desespero da moça, há anos na seca total de espécie masculina.

Quando tocava pagodaço romântico, ela se virava em 360º e todos os homens pareciam sumir. Agarravam-se a primeira mulher que vissem, à pilastra, à vassoura, menos à Laureta. Dançar agarradinho com a morena era risco de morte, alegavam os mais maledicentes.

Mas naquele dia, ao tocar pagode meloso, Laureta nem deu o giro. Estava pré-convicta de que ficaria sozinha de novo. Quando já se preparava para deixar o dancing, sentiu um pesinho na cintura. Era a mãozinha do Célio.

Em altura eles combinavam... mas em peso... Célio media 1,60 e pesava, se muito, 40 quilos. Braço curto, não conseguia pegar na outra mão quando envolto no corpo e na cintura de Laureta.

Magro que só vara de dar em doido, seu sonho era ser Míster Universo. Seu ídolo era Arnold Schwarzenegger. Alisou o cabelo para ficar a cara do “Conan, o Bárbaro”. Fazia musculação levantando 500 gramas por braço, o máximo que conseguia.

Poderia ser terrorista, já que na academia todo mundo o conhecia como o “homem-bomba” em virtude de seu uso e conhecimento profundo sobre esteróides anabolizantes.

Célio media diariamente o peitoral. Em 15 anos de malhação, foram 2 centímetros de acréscimo em massa muscular. Pronto: sentia-se o rei do halterofilismo.

Naquele dia no sambão Célio foi para o embate. Seu prazer e sua vontade: mergulhar nas carnes (aos montes...) da morena. Já “cevava” há tempo aquele “peixão”. E predador que se sentia, tinha certeza que sua “rede” comportava aquele animal feroz.

Ia tocando música açucarada e o casal dançando de corpo juntinho...

Rolou o primeiro beijo, no meio do salão, parecendo cena de filme. Suados e animados, muitos beijos e afagos trocaram em prazer mútuo: ela saciando sua vontade de homem, ele se fartando no volume da mulher.

Fim do baile, mãos dadas, o Gol “bola” de Célio pendia para o lado direito com a amada encaixada no bando do passageiro. Saíram do clube direto para Jacarecica. Seria aquela a noite dos sonhos.

Na guarita do motel, pediram o quarto com a maior cama da casa. Entraram animados. Dizem que foi Laureta quem carregou o baixinho no colo.

Naquela madrugada os gemidos foram ouvidos por que passava na AL 101 Norte. Não se sabe se gemidos ou gritos de prazer, ou de dor. Seria Célio “dando pressão” em Laureta? Ou Laureta “fraturando” Célio? Não se sabe...

Só há a certeza de que Célio e Laureta estão juntos até hoje, apaixonadíssimos. Dizem que se completam, encaixam-se perfeitamente.
 

 

 

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