Vivia no mundo da “erva mardita”. Quando viu a manifestação em São Paulo em defesa da maconha, exaltou-se: “aíííí merrrrmão. Mó ooonda! Qualhé malhuco! Parada massa!”

Julinho Morrão não fumava. Comia com farinha!

Acendia “umzinho” antes de dormir “só prá relaxar, brôu...” e outro ao acordar “só pra despertar, brôu..."

Podia tomar banho de alfazema suíça. Mas só cheirava à marijuana. A fumaça não saia de sua cabeça, roupas, pele e bafo!

Seus olhos já tinham se acostumado: vermelhos e pequenos. Não tinha colírio nem óculos escuros, achava “mó parada o lhance de olhar lombrêro, brôu...”

Estava decidido: faria a “Marcha da Maconha” em Alagoas. “Manêro, brôu, saca só a parada, galherinha na luta pelo béquizinho do dia! Qualhé?!”

Estava determinado! “Aieeeê, é só onda véi! Low fi!!!”

Juntou a “galhera”, fez cartazes, “panfletou”, divulgou nas “bocas”. “Vai bombar brôu!” afirmava. O dia seria um domingo de manhã, em plena praça do bairro. Contatou amigos adeptos em toda a cidade, com caravana da maconha prometida para vir do interior e tudo mais. Teve até delegação de outros estados que selaram compromisso. Usuários unidos jamais seriam vencidos...

Pois bem, no dia agendado, domingão de sol, Kombi toda decorada com folhagem verde, Julinho Morrão lá estava. Tinha uns 3 gatos pingados, mas “a galhera tava à caminho brôu, tinha parado prá dar um 'tapa na pantera' e viajar na onda da parada! Qualhé malhuco?!”

Onze horas, meio dia, uma da tarde... e nada do contingente defensor da “erva danada” aparecer. Julinho Morrão não se desesperava, porque a cada indício de stress ele se trancava na Kombi, dava um morrão e o fumacê tomava conta. Saia de lá às gargalhadas... e com uma fome!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Um laricão!!!!!!!!!!!!!!!

A PM passava e fazia vistas grossas. A Kombi só tocava Bob Marley. Ninguém mais aguentava. Quem passava na frente ganhava panfleto. “Legalize Já merrrmão, é cannabis pra galhera, uowuowuowuowuowuow”, defendia o líder do movimento.

Deu 4 horas e até os 3 “militantes” já tinham sumido. Só Julinho chapado, com olhos cor de fogo e quase fechados, rindo à toa e dançando reggae em plena praça. A vizinhaça o conhecia e até gostava do “Julinho” da maconha e por isso não se importava. A Kombi verde de folha tinha um "bloco" de fumaça dentro. Não precisava nem fumar. Bastava entrar lá para ficar “de barato, chapadóviski, de boa, brôu!”.

Foi aí que Julinho, animadíssimo, viu uma multidão se aproximar. Tinha até equipe de reportagem de TV. Ficou excitadíssimo! Vibrante! Pulava de alegria “Ai São Bob meu véi, sabia brôu, a galhera farrapa não. Uhuhuhu! É nóis na fita mano! É a cannabis na onda merrrmão”...

Aumentou o som do reggae e abriu os braços. Deitou no chão. Acendeu um baseado gigante, parecia uma bazuca com ponta de fogo, deitou na rua. Seria sua apoteose. Todos os “chegados” à erva em marcha. E sem polícia para reprimir. “Uhuhuhuhu... aí brôu, merrrmão, galhera, irado véi. Ducarai responsa”...

O povo vinha vindo e Júlio Morrão era só abraço. Se agarrou com umas “gatinhas”, todas de branco, com roupa que tinha até asa. “Que viagem véi! Aíeeê, visú irado hein mirrrrmã! Mana de responsa aíeeeê!”.

Tinha um velhinho de cabelo branco e de vestido, com faixa verde no ombro e na cintura, queimando erva num pote de alumínio furadinho, na frente da passeata. Julinho foi às alturas. Que glória! “Uhuhuhuhuhu”! Pitêra irada do coroa, veí! Todo mundo puxando um junto e o coroa cabuloso só balançando... Massa veí! Chêro de manga rosa! Merrrmão, que onda brôu! Puta véinho massa, ducarai...” gritava Julinho, em êxtase.

A comitiva passou o Julinho Morrão entendeu. Deveria segui-los. Naquele momento a Marcha da Maconha alagoana era maior que ele e sua liderança. "Topou" o som do Bob Marley e se uniu ao grupo.

Da Kombi ia “dando um tapa” no baseado e entoando palavra e ordem... ficou ainda mais irado quando constatou que o público feminino era maioria, todas vestidas de azul. “Uhuhuhuhuhuuuuhuhuhuhuhuhuhuhuhu! É a muiérada da erva brôu! E ainda tudo 'azulina'. Só mâna irada na cannabis, queimando até a última ponta! Uhuhu! Aíeeee. Só mina da mancha, do Mutange, sacou... é o CSA do béqui?”

Mas o ápice foi quando Julinho subiu no teto da Kombi dançando “Is This Love”... “I wanna love you and treat you right...” e viu de lá do alto um cara magrão, cabeludo e barbudo, só de sunga, com galho de cannabis na cabeça, doidão, sendo carregado pela multidão em cima de um pedaço de pau!

“Uhuhuhuhuhuuu... e este malhuco aíeeeê... doidêra merrrrmão... joga ele na kombi brôu... tá de larica ele. Chapadão!!!!! Mó onda véi. Já fiquei assim! Fumei 3 dias seguidos e apaguei brôu! Carai! Que massa! Uhuhuhuhuhuuu”. Ééééééhhh malhuco!

Julinho Morrão abraçou o “cara”, sob protestos de quem o carregava, e jogou o homem na Kombi para ele “ir curtindo uma e viajando no fumacê do baseado merrrmão”...

Naquele dia Julio Morrão fumou tanto, ficou tão louco, que desmaiou! Acordou no outro dia! Meio bambo, porém mais lúcido. Ligou a Kombi, antes acendendo “umzinho”.. Chegou em casa com a alma lavada: a Marcha da Maconha em Alagoas teria sido um sucesso.

Já era meio dia. Ligou a TV. Queria ver a repercussão da vitória de seu movimento. Mas quando viu o noticiário, vibrou mais ainda. A reportagem dizia:

- “Era para ser a procissão do Senhor Morto, organizada pela paróquia da comunidade. Mas um participante alterado que se juntou ao grupo desestabilizou a manifestação de fé católica. Ele se abraçou com jovens vestidas de anjo que pagavam promessa, cheirou o turíbulo do padre e agarrou senhoras do Sagrado Coração de Maria. Mas o máximo da loucura do integrante foi quando ele se jogou em cima da imagem do Jesus Morto e a aprisionou dentro de uma Kombi coberta de folhas verdes e ao som de reggae jamaicano”.

Julinho era só alegria: “Uhuhuhuhuhuuu, merrmão, qui lomba é essa! Malhuco demais esse aieeeê brôu! Quem será este lôco???? Vou ver com a galhera. Irado véi!!! Este malhuco tem que estar na marcha ano que vem. Depois dizem que só maconheiro é quem fica doidão”.
 

 

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