Com patrimônio avaliado pelo Ministério Público em R$ 400 mil, a falsa psicóloga Beatriz Cunha, de 32 anos, pode ser processada pelas famílias que querem reaver o que gastaram com o tratamento indevido de seus filhos autistas. Na Decon (Delegacia do Consumidor), que investiga o caso, há 29 inquéritos abertos contra a falsária, que trabalhava há 12 anos sem ser formada em psicologia.

Porém, de acordo com o titular da Decon, Maurício Luciano de Almeida e Silva, o número de vítimas da falsa psicóloga pode ser ainda maior, já que desde 2009 foram atendidas por ela pelo menos 70 pacientes.

O advogado Gilson Moreira, de 48 anos, que denunciou Beatriz à polícia, conta que gastou cerca de R$ 50 mil com tratamento do filho Igor, de sete anos. Ele diz que vai processar a falsária por danos morais e materiais na tentativa de reparar o seu prejuízo.

- Vou processá-la para tentar reaver o dinheiro que gastei com um atendimento fajuto que só fez meu filho regredir. No início, só pensei nos danos causados à saúde do meu filho. Agora presa, ela vai ter que nos devolver o que gastamos na sua clínica de tratamento.

O advogado está à disposição de outras famílias que também estejam interessadas em processar a falsa psicóloga, que foi presa pela terceira vez na última segunda-feira (23). Moreira pretende apresentar à Justiça do Rio uma ação indenizatória conjunta para agilizar o processo.

- Todos nós que fomos lesados pela Beatriz Cunha temos que procurar pela Justiça, seja por uma ação conjunta ou individual.

O R7 procurou a defesa da acusada, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Durante depoimento à polícia, a falsária e o marido dela, Nelson Antunes de Faria Junior, mantiveram-se calados.

Patrimônio superior a R$ 400 mil

De acordo com a polícia, Beatriz cobrava R$ 800 pela primeira consulta e, posteriormente, a hora custava entre R$ 80 e R$ 90. E ela atendia cerca de 20 crianças por dia. Por isso, Moreira diz acreditar que o patrimônio de Beatriz deve ser bem superior ao valor de R$ 400 mil estimado inicialmente pelo Ministério Público.

- Conheço pais que gastaram mais de R$ 180 mil com tratamento dos filhos. Vamos esperar os resultados das quebras dos sigilos bancário e fiscal para saber o quanto ela lucrou com o trabalho de falsa psicóloga.

No dia 16 de maio, a Justiça autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal, nos últimos cinco anos, e o bloqueio dos bens de Beatriz e de seu marido, Nelson Antunes de Faria Junior, e do Centro de Análise do Comportamento, em Botafogo, na zona sul, onde eram atendidas as crianças autistas.

A Justiça decretou a prisão preventiva do casal na última segunda-feira. Beatriz e Junior são acusados pelos crimes de estelionato, falsidade documental, falsa propaganda e exercício ilegal da profissão, já que Beatriz tratava de pacientes com autismo e o marido era o gerente da clínica em que trabalhavam.

Beatriz também responde por falsidade ideológica e por crime de tortura, já que teria forçado um dos pacientes a se alimentar amarrado por cordas.

A pena para o casal é incalculável, caso seja condenado, já que para cada inquérito instaurado pode pegar até 23 anos de prisão.