A União Europeia (UE) decidiu nesta segunda-feira estender suas sanções financeiras contra a Líbia para continuar a aumentar a pressão sobre o regime do ditador Muammar Gaddafi, informaram fontes do bloco europeu.

Onze novas pessoas --em sua maioria membros do governo de Trípoli-- serão acrescentadas à lista de indivíduos que têm seus bens em solo comunitário congelados e que sofrem restrições para viajar, na qual já figuravam outras 27 pessoas.

Além disso, os ministros de Relações Exteriores decidiram sancionar nove entidades, que se somam às cinco cujas contas já tinha sido bloqueadas previamente, entre as que estava o Banco Central líbio e o poderoso fundo soberano do país.

As novas medidas entrarão em vigor na terça-feira, com sua publicação no Diário Oficial da UE, quando também anunciarão os nomes dos afetados.

Enquanto isso, os 27 seguem preparando um novo rodízio de sanções que pretendem aprovar nos próximos dias para cumprir com o fixado na resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Essas novas medidas, que nesta segunda-feira não foram aprovadas pelos ministros, mas que já foram acordadas pelos especialistas, afetarão o setor energético líbio, com o objetivo de cortar vias de financiamento ao regime.

Concretamente, se espera congelar os ativos da companhia estatal petrolífera líbia e suas filiais, uma ação reivindicada há semanas por vários Estados-membros.

A medida tinha sido bloqueada até agora por alguns países, especialmente pela Itália, que teria terminado por aceitá-la depois que a ONU decidisse ampliar suas sanções contra o regime de Gaddafi.

OFENSIVA INTERNACIONAL

Enquanto os rebeldes tentam reconquistar as principais cidades do país, aviões da coalizão internacional bombardeiam Trípoli. O céu da capital foi tomado por aviões da coalizão procedentes de bases na Itália e pelos disparos da defesas antiaérea líbia durante toda a madrugada e parte da manhã.

A Líbia é alvo há três dias da operação Aurora do Amanhecer, uma ampla ofensiva militar das forças ocidentais contra as forças de Gaddafi. A operação visa a impedir os ataques do ditador aos civis e rebeldes líbios, que pedem sua renúncia, e impor a zona de restrição aérea --medidas aprovadas na quinta-feira (17) pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Neste domingo, um míssil da coalizão atingiu um edifício do complexo residencial de Gaddafi. O prédio, situado a cerca de 50 metros da tenda onde Gaddafi recebe geralmente seus convidados importantes, foi totalmente destruído.

A coalizão alega que o prédio era de uso militar. Já o governo líbio disse se tratar de um prédio administrativo.

"Foi um bombardeio bárbaro, que poderia ter atingido centenas de civis congregados na residência de Muammar Gaddafi, a cerca de 400 metros do prédio atingido", declarou o porta-voz do regime, Musa Ibrahim, aos jornalistas estrangeiros, denunciando as 'contradições do discurso ocidental'.

"Os países ocidentais dizem querer proteger os civis, mas atacam uma residência onde sabem que há civis no interior", criticou.

A troca de fogo ocorreu mesmo com a declaração de um novo cessar-fogo pelo regime líbio, na tarde deste domingo. A trégua foi recebida com desconfiança pela comunidade internacional e o conselheiro do presidente americano para a Segurança Nacional, Tom Donilon, afirmou que o anúncio era "uma mentira" e que havia sido "imediatamente violado" pelas forças de Gaddafi.

ALVO

O ataque levantou suspeitas de que a coalizão internacional planeja matar Gaddafi, objetivo que não está incluso na resolução da ONU. Autoridades americanas correram para desmentir a informação, embora o ministro da Defesa do Reino Unido, Liam Fox, tenha insinuado o contrário.

"Posso garantir que (Gaddafi) não figura na lista dos nossos alvos. Não visamos sua residência", declarou o vice-almirante Bill Gortney, do Pentágono.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, assinalou que seria "insensato" matar Gaddafi na operação militar da coalizão para deter o regime em Trípoli.

Zohra Bensemra/Reuters

Imagem do prédio do complexo residencial de Muammar Gaddafi destruído em ataque da coalizão a Trípoli

"Acredito na importância de operarmos com base na resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Se começarmos a acrescentar objetivos, acredito que vamos gerar outro problema neste sentido. Não é sensato estabelecer metas que talvez não possamos atingir".

Já Fox explicou em entrevista a uma emissora britânica que "há uma diferença entre o fato de alguém ser um alvo legítimo e a decisão de passar ao ataque", pois para este último "seria preciso levar em conta o que pode acontecer aos civis na área".