O rigor utilizado na apuração do assassinato do designer Flavius Lessa foi cobrado por integrantes do movimento LGBT em Alagoas acerca dos 80 inquéritos inacabados de mortes envolvendo homossexuais. O presidente do Grupo gay de Alagoas (GGAL), Nildo Correia informou que ainda está aguardando um posicionamento do secretário de defesa Social, Dário César a quem foi enviado um ofício sobre o assunto.
Correia espera uma reunião com Dário César e também com integrantes do Ministério Público, Ordem dos advogados do Brasil (OAB/AL) e Tribunal de justiça. Entre as propostas está levar as reivindicações para executar um plano contra a homofobia, elaborado em uma conferência ocorrida em 2008, que nunca foi implantado, uma vez que essas ações já vêm sendo executadas nacionalmente.
“Pretendemos levar para essa reunião 80% dos grupos representantes de homossexuais no Estado. Nossa ideia era criar uma cartilha e vamos esperar até a próxima semana uma resposta do secretário, já que o ofício foi enviado dias depois do carnaval”, contou Nildo.
Segundo ele a distinção entre casos de assassinatos de homossexuais ricos e pobres tem ficado clara em Alagoas. Ele afirmou que isso também acontece devido à pressão feita pela mídia, visto que a morte de Flavius Lessa teve repercussão internacional, com a divulgação em vários sites, por ele ser uma pessoa influente e um profissional renomado.
“Infelizmente a cúpula da segurança pública só privilegiou o caso Flavius Lessa porque ele era uma pessoa conhecida, um dos arquitetos mais famosos do Estado. Isso conta muito, além da cobertura da mídia. O caso foi a bola da vez, com familiares cobrando justiça. É totalmente diferente quando morre um pobre coitado, até de forma mais bárbara como um homossexual que foi enterrado vivo em Ipioca”, afirmou.
Quanto ao assassinato do designer ter sido crime homofóbico, Correia disse que isso ficará a cargo da justiça, lembrando que casos dessa natureza foram catalogados desde 1980 e ainda aguardam investigação. “Constatamos 80 assassinatos, mas sabemos que existem bem mais. Esse estudo existe em todo Brasil, feito pelo antropologo Luiz Motti”, lembrou.
De acordo com o coordenador do GGAL a polícia precisa aprofundar a investigação sobre os casos, porque em alguns inquéritos não existem o nome civil das vítimas, informações sobre familiares. “Como saber porque uma pessoa morreu se não existem nem documentos?É difícil catalogar”, destacou.
Frente contra a homofobia
Nildo Correia adiantou que no dia 25 de abril será lançada no estado uma Frente de combate à homofobia, assim como existe em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além disso, existe a proposta de reativação da Frente parlamentar em maio, que vai lutar pelos direitos dos homossexuais em Brasília e que conta com o apoio do deputado federal Jean Willys (Psol) e da senadora Marta Suplicy (PT-SP).
“Alagoas será o primeiro estado do Nordeste a implantar essa frente contra a homofobia e precisamos unir forças com todos os movimentos LGBT. Queremos saber o que o judiciário vem fazendo e como a OAB e o MP têm atuado. Todos devem se comprometer com a nossa causa. O Jean Willys deve vir a Maceió e estamos tentando confirmar com a senadora”, contou.