Maternidades particulares oferecem ‘mimos’ para fidelizar pacientes

12/12/2010 13:06 - Brasil/Mundo
Por Redação

São cerca de nove meses de espera e, de repente, chega a hora de o bebê nascer. Papai e mamãe pegam a mala da maternidade, checam se a carteirinha do convênio médico está em mãos e rumam para o hospital.

Mas se a maternidade escolhida for particular, é bom não esquecer também o cartão de crédito ou o talão de cheques: por mais que a parturiente tenha um bom convênio de saúde, é grande a chance de ela querer dos alguns serviços disponíveis nas grandes maternidades que não são cobertos por nenhuma seguradora.

As opções passam tanto pela modalidade médica quanto por uma série de “mimos”, como ser atendida por uma manicure ou cabeleireiro no próprio quarto do hospital, ter o parto filmado por um cinegrafista ou ficar instalada em uma suíte presidencial com sala de visitas.
Suíte com sala de estar na Pró-Matre PaulistanaSuíte com sala de estar na Pró-Matre Paulistana (Foto: Divulgação)

Além desses serviços, nas grandes maternidades de São Paulo há uma série de outras opções que também não são cobertas pelos convênios, e que podem interessar a muitos pais. Caso, por exemplo, da opção por aplicar a vacina BCG no bebê ainda no hospital, evitando um posterior deslocamento a uma clínica, ou por contratar uma empresa de congelamento do sangue do cordão umbilical.

Os gastos, na verdade, podem começar antes mesmo do parto: quase todas as maternidades oferecem cursos de preparação para pais e mães, que podem chegar a R$ 300.

Do princípio
Logo na chegada ao hospital, pode ser cobrada a taxa de paramentação do acompanhante. Por lei, toda parturiente tem o direito de escolher uma pessoa para estar ao seu lado na sala de parto. Como alguns convênios, às vezes, não incluem este custo no seu rol de atendimentos, as maternidades repassam o custo para a família.

“Tudo depende muito do convênio de cada paciente. Algumas coisas fazem parte do ‘pacotão geral’, outras têm custo porque varia de acordo com o convênio. Tem convênio que não paga fralda (para o pós-parto), então, a paciente tem que trazer”, explica Márcia Maria da Costa, coordenadora médica da maternidade do Hospital São Luiz, em São Paulo.

Conscientes do risco de o papai desmaiar na hora ‘H’, muitos optam por contratar os serviços de um profissional para filmar e fotografar o parto e os primeiros momentos de vida do bebê. No caso do São Luiz, o hospital tem contrato de exclusividade com a PubliVídeo há 17 anos, que cobra de R$ 390 a R$ 765 para filmar o parto; e de R$ 450 a R$ 1.500 por um book fotográfico do bebê. Outras maternidades indicam empresas que oferecem o serviço, mas permitem que a paciente leve alguém de sua confiança.
Hospital Santa Catarina, em São Paulo.Hospital Santa Catarina, em São Paulo.
(Foto: Divulgação)

Para a mamãe
Outra opção que tem valor cobrado à parte é a de ficar num quarto maior, diferenciado do modelo padrão, com sala de visita, por exemplo. “Temos vários tipos de apartamentos, entre eles as suítes, que são quartos com salas, e temos a suíte máster, que é a presidencial, com 70 m², e além da sala, quarto e banheiro, tem jardim de inverno climatizado”, explica Maria Augusta de Freitas, diretora de Qualidade da Pro Matre Paulista. Para desfrutar deste benefício, a mamãe vai pagar diária de R$ 1.200, mais R$ 450 de honorários do pediatra.

As maternidades ouvidas pelo G1 também oferecem o serviço de concierge – cujo leque de atuação é bastante extenso e pode incluir a ajuda para contratar lembrancinhas para serem entregues aos visitantes, a sugestão de um hotel nas proximidades, a ligação para um táxi ou mesmo a compra de algo fora do estabelecimento.

Se a mamãe foi surpreendida pelo parto e não está com o visual em dia, os hospitais oferecem serviços de beleza terceirizados: no Santa Catarina, também em São Paulo, é possível fazer a mão e pé, cortar cabelo e fazer escova por preços de R$ 25 a R$ 50. No São Luiz, há ainda serviços de maquiagem, massagem e depilação.

Para o bebê
Com relação ao bebê, os gastos adicionais costumam ser de natureza médica. Os pais podem, por exemplo, contratar uma empresa para congelar o sangue do cordão umbilical. Também é possível dar a vacina BCG e a contra a hepatite B, que são obrigatórias, dentro da maternidade. O preço de cada vacina nas maternidades consultadas gira em torno de R$ 95.

Quanto ao teste do pezinho, há três opções diferentes. Existe o básico, que detecta quatro grupos de patologia e cujo acesso é garantido por lei, portanto, não tem custo. Há, porém, um teste do pezinho que detecta dez tipos de patologias e um terceiro, capaz de prever mais de 40 doenças.

As maternidades garantem que a fonte de renda gerada por esses serviços adicionais não tem impacto importante no caixa do hospital, mas que servem, principalmente, para fidelizar a clientela. Para Márcia, do São Luiz, este é um valor agregado. “Quanto mais facilidades, melhor é. O ganho é indireto.”

“Óbvio que gera receita, mas não é o mais importante. O mais importante é que capta e fideliza mais clientes”, diz Maria Augusta de Freitas, da Pro Matre Paulista. Já Andréa Goulart, coordenadora administrativa do Hospital Santa Catarina, destaca que o hospital é filantrópico. “Não temos serviços que visam lucro. Eles têm que se pagar”.

Opinião médica
O médico obstetra Jorge Kuhn, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que estes serviços adicionais estão longe de ser essenciais, mas que podem ter seus benefícios. “É um benefício emocional, de conforto, mas não essencial. A suíte é um conforto a mais, (...) é uma forma de deixar as visitas à vontade, é uma forma de se preservar no momento da amamentação”, diz. “É um conforto que vale a pena, mas não é essencial.”

Mais importante, na opinião do profissional, seria optar pelas suítes de parto natural. “Suíte de parto é importante, ter uma opção de ter uma banheira, não só para ter o trabalho de parto como para ter o nascimento. (...) As pessoas ficam preocupadas com a cor da roupa do bebê e esquecem que tem coisas mais importantes.”

Quanto ao congelamento do cordão umbilical, a médica pediatra Sandra Regina de Souza, coordenadora da área técnica de Saúde da Criança do Estado de São Paulo é crítica: “as pesquisas estão engatinhando”, lembra. “A menos que a pessoa tenha na família uma doença grave, degenerativa e já tenha algum indício de que a terapia gênica vai poder ajudar.”

Quanto às vacinas, Sandra destaca que tanto a BCG quanto a Hepatite B integram o calendário oficial e, portanto, podem ser aplicadas gratuitamente em qualquer posto de saúde. “Sempre digo para os pais: ‘tem na rede pública, é de graça, é a mesma vacina. Por comodidade, pode fazer aqui (no hospital)’.”

Já em relação ao teste do pezinho, a pediatra recomenda, caso os pais possam e queiram pagar, o intermediário, que detecta dez doenças. “Fazer a fase três, que é o que é gratuito, que já são várias doenças, seria suficiente. Tendo a possibilidade, fazer aquele até dez doenças (..), mas é super opcional.” O mais completo, que detecta 42 patologias, seria dispensável, na opinião de Sandra, por serem “doenças de baixíssima prevalência”, ou seja, cuja incidência é muito mais rara.
 

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