A morte do estudante Lenysson Rodrigo dos Santos Silva, 19 anos, que aconteceu na última quinta-feira, quando ele participava de um treinamento em um rio na fazenda Bamburral, no bairro de Ipioca, em Maceió, traz novamente à tona a rigidez aplicada aos recrutas durante a passagem pelas forças armadas. O jovem cursava Engenharia Civil na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e era aluno do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR), do Exército Brasileiro.
Lenysson Rodrigo se afogou e já chegou sem vida à Santa Casa de Misericórdia. Ele não conseguiu fazer a travessia do rio, ao contrário dos outros recrutas e segundo informações chegou a ser socorrido por oficiais que realizavam o treinamento. O comando do Exército esclareceu que todo o aparato de segurança necessário para este tipo de atividade estava disponível no local.
Em abril deste ano o soldado da Força Nacional da Polícia Militar de Alagoas, Abinoão Soares de Oliveira, morreu ao participar do treinamento aquático do Curso de Tripulante Operacional Multimissão, que tem o objetivo de capacitar os profissionais da segurança pública para atuarem em aeronaves em resgates, buscas, salvamento e combate a incêndio.
O treinamento aconteceu em um clube de golf, na estrada do Lago do Manso, em Cuiabá, no Mato Grosso. O soldado foi levado pelo helicóptero do Ciopaer ao Pronto Socorro Municipal, mas não resistiu. No local, outros dois policiais militares e uma bombeira militar também passaram mal. No hospital, eles fiaram em observação e foram liberados. A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) instaurou inquérito policial para apurar as causas do acidente.
No dia 22 de setembro o Comando Geral da Polícia Militar de Alagoas, homenageou Abinoão Soares, concedendo a patente de cabo post mortem. Durante a reunião da Comissão de Promoção de Oficiais e Praças, que aprovou por unanimidade a promoção do soldado, a esposa do militar, Shirley Barros e o pai, o tenente da reserva Afrânio Laurindo estiveram presentes.
Em 2002 Emerson Luiz Lima de Cerqueira, 21, também morreu afogado, durante um treinamento do Corpo de Bombeiros, na Lagoa Mundaú, a 300 metros da margem. Ele estudava Economia e estava em período de treinamento para ser guarda-vidas. Parentes da vítima realizaram vários protestos cobrando o julgamento dos militares instrutores que coordenavam o treinamento no dia da morte do jovem.
Segundo eles, Emerson pediu socorro, mas o instrutor, tenente Wellington e os auxiliares, sargentos Alexandre e Nelson ignoraram o pedido e deixaram o jovem na água, além de ficarem dando voltas com o jet-ski em torno dele. Mesmo em processo de indiciamento, o tenente Wellington foi promovido a primeiro tenente dentro da corporação do Corpo de Bombeiros.
Treinamento
O ex-recruta do Exército, Igor Barbosa, 20, relatou que na época em que serviu, o treinamento aquático era composto por circuitos, realizados na lagoa Mundaú, no Pontal da Barra. Ele afirmou que todas as medidas de segurança são tomadas e ainda, que os recrutas que não sabem nadar são separados, mas precisam concluir a prova.
“Eu entrei no exército em 2008 e fazíamos a transposição de curso d´água, que serve para os recrutas saberem como agir em combate ao se depararem com um rio. Recebemos todas as instruções e depois executamos, com toda segurança e com a presença de uma ambulância. Quem não sabia nadar ficava de camisa branca e quando entrava na água os oficiais já ficavam monitorando. O percurso é curto, 50 metros”, lembrou.
Ele afirmou que o treinamento é puxado, mas os recrutas não eram obrigados a executar todas as tarefas, embora tivessem que realizar boa parte delas. O ex-recruta afirmou que há muito desgaste físico nos testes de resistência, mas que no caso de Lenysson também pode ter sido uma fatalidade.
“Eu não achei que é muito rígido, não havia punição, mas se a pessoa não conseguisse fazer uma tarefa tinha que concluir outra mais fácil. Na água fizemos treinamento de cabo submerso, a gente vai puxando e atravessa o rio. Aprendemos também a boiar com cantil e garrafa peti, além da travessia. As três tarefas acontecem no mesmo dia e eu faria tudo de novo”, destacou.










