Ao apresentar hoje em Oviedo, no norte da Espanha, seu mais recente filme, You Will Meet a Tall Dark Stranger, Woody Allen garantiu que não faz autobiografia com seu cinema. "Não tem nada a ver com minha vida. Me tranco em um quarto e começo a criar", disse Allen à imprensa em Oviedo, onde filmou algumas cenas de Vicky Cristina Barcelona (2008).

 

A frustração continua sendo o ponto em comum entre todas suas criaturas cinematográficas em You Will Meet a Tall Dark Stranger, estrelado por Naomi Watts, Antonio Banderas e Anthony Hopkins. Em entrevista à Agência Efe, o cineasta faz jus a sua fama de insatisfeito e faz críticas inclusive ao seu sucesso. "A Rosa Púrpura do Cairo, Maridos e Esposas e Tiros na Broadway são melhores que Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Manhattan, mas as pessoas lembram desses filmes e não estão de acordo por alguma razão", reclama.

Agora, Allen apresenta a ruptura de um casamento da terceira idade: ele (Hopkins) quer aproveitar o que resta de vida ao lado de uma explosiva prostituta, enquanto ela (Gemma Jones) se refugia no consolo de uma astróloga que lhe assegura que "conhecerá o homem de seus sonhos". Como em Tudo Pode Dar Certo, a diferença de idade no amor volta a estar em pauta.

"Por alguma razão, é divertido ver um velho que fica louco por uma mulher jovem, e é triste ver uma mulher mais velha com um homem jovem, mas a ideia me interessa. Há grandes filmes sobre isso, especialmente os baseados em obras de Tennessee Williams, mas eram muito dramáticos", analisou.

Também há espaço no novo longa para mostrar a crise de meia idade da personagem de Naomi Watts, que lida com um casamento com um escritor frustrado (Josh Brolin) e fantasia com seu chefe (Antonio Banderas). "Durante uma época, os melhores atores internacionais foram os italianos, como Sophia Loren e Marcello Mastroianni. Depois foram os franceses, os suecos... É a vez dos espanhóis e eu trabalhei com os melhores. (Javier) Bardem, Penélope Cruz e Antonio Banderas. São fáceis (de lidar) e brilhantes", disse.

Como sempre, quando Allen apresenta um filme, já está quase acabando o seguinte, que rodou em Paris e causou frisson por contar com Carla Bruni entre seus atores. "Um ano é muito tempo e um filme não leva mais do que alguns meses. Outros diretores como Bergman ou Buñuel faziam inclusive mais de um nesse tempo. Portanto, se tenho o dinheiro, posso seguir com este ritmo", explica.

E é exatamente o orçamento que forçou este "exílio" na Europa - ele enfrenta dificuldades para filmar nos EUA, mesmo quando as estrelas que reúne baixam seus cachês. "Há muito atores com talento por aí e nem tantos personagens bons. Portanto, quando leem um bom roteiro não pensam no dinheiro", argumentou.

Mas, nem entre tanta gente bonita e sendo o sexo um de seus temas favoritos, Woody Allen tem vontade de subir a temperatura de seus filmes. "Mostrar sexo é fácil, basta pôr os atores na cama. Mas não é interessante como as complicações que surgem dele. É a mesma coisa com a violência ou a morte", assegura.