Ex-"Xuxa cubana", Wendy Guerra diz que é "personagem de ficção" em seu país

08/08/2010 21:19 - Social
Por Redação

Ex-apresentadora de um programa infantil ("Eu era uma Xuxa cubana"), Wendy Guerra participou da Festa Literária Internacional de Paraty na estranha condição de ser uma escritora famosa na Espanha e na França, mas desconhecida em seu país, onde seus livros permanecem inéditos. "Não sou publicada em Cuba. Não existo em Cuba. Sou uma personagem de ficção."

"Obrigado ao governo cubano, que deu visto de saída para a Wendy", disse João Paulo Cuenca, mediador do encontro, que contou também com a participação da escritora Carola Saavedra, chilena naturalizada brasileira.

Além de ter sido a "Xuxa cubana", Wendy Guerra também já posou para ensaios sensuais, mas o assunto passou ao largo da conversa vespertina na Flip. "Minha literatura não é só feminina, mas mundana, algo mais violenta", disse essa admiradora confessa da obra do também cubano Pedro Juan Gutiérrez.

Cuenca relatou que, na véspera, passeou de lancha com a escritora pelo litoral fluminense. Ficou assustado que, a certa altura, Wendy resolveu pilotar a embarcação e acelerou muito. "Wendy me disse que, para ela, o mar é um muro. É proibido andar de lancha em Cuba, pois as pessoas podem fugir pra Miami". "Na lancha, tive a chance de dirigir a minha vida. Porque sou sempre levada de um lado para o outro", disse a escritora.
Cuenca observou que o sonho de um escritor brasileiro é ser publicado no exterior. "Já Wendy é respeitada na Espanha e na França, mas não é lida em Cuba". A escritora, que está lançando "Nunca Fui Primeira-Dama" no Brasil, respondeu: "Minha mãe morreu sem nunca ter sido editada. Sou uma versão pobre do que ela foi. Há muitos autores que devem ser publicados antes de mim. Cabrera Infante, por exemplo. Vou pegar a senha e esperar a minha vez."

Já Carola Saavedra, cujo mais recente romance se intitula "Paisagem com Dromedário", refletiu sobre o seu fazer literário. "A pergunta que me faço como escritora: como posso contar uma história? E se todas as histórias já foram contadas, o que nos resta? Nos resta contar as mesmas histórias de novas maneiras."

A escritora divagou sobre o que, para ela, é o grande tema: a incomunicabilidade. "A gente sempre quer recuperar a verdade, o que aconteceu. Esta é a armadilha: imaginar que só existe uma verdade. Há um vão, um espaço na comunicação, entre duas pessoas que se amam, por exemplo. Existe uma impossibilidade de saber o que aconteceu. Cada um tem a sua versão."

Carola ainda observou: "O que eu quis dizer não é necessariamente o que o outro leu. É uma luta inglória: as vezes o que você diz nem é o que você queria ter dito. Essa impossibilidade, desespero, de se comunicar já sabendo que vai perder, é o que move a gente."
 

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