Senhoras sofisticadas disputam a atenção dos profissionais do salão Jacques Janine do Jardim São Bento, em São Paulo, com belas modelos. Em meio ao som dos secadores e conversas discretas, Milene Domingues sobe as escadas de vidro do local. Sua presença atrai os olhares e um rápido silêncio toma conta do ambiente. De rabo de cavalo, agasalho preto e uma pequena mala, ela caminha calmamente enquanto reconhece os funcionários a quem cumprimenta um a um.

Atrasada em 20 minutos para a entrevista, Milene se aproxima da equipe de O Fuxico e explica. “Precisei resolver algumas coisas para meu filho e perdi a hora”, desculpou-se observando os figurinos de Lu Monteiro selecionados para o ensaio. Milene aproxima-se dos vestidos e pede para escolher os modelos que usará. “Gente, este aqui é um pouco decotado pra mim. Depois da amamentação, meus seios diminuíram... Não tenho muito que mostrar”, brincou.

O bom humor da célebre paulistana, de 31 anos – que foi casada durante quatro anos com o craque Ronaldo, pai de seu filho Ronald – marcou toda a entrevista, que foi interrompida três vezes. Em uma delas, uma amiga queria confirmar sua presença em uma partida de futebol ‘só de meninas’. “Claro que vou! Mas posso levar meu gatinho?”, disse a loira, referindo-se ao herdeiro.

Durante quase duas horas, o bate-papo rolou solto, com revelações, desabafos e lembranças de uma corintiana fanática que amadureceu a duras penas durante os dois anos e meio vividos na Itália e outros nove na Espanha.

Você voltou definitivamente para o Brasil?

Acho que sim. Meu filho torce para isso. Ele sempre sonhou em viver no Brasil, poder curtir a família... Na Espanha éramos só nós dois o tempo todo. Aqui, ele ficou mais próximo do pai e até já fez amigos na escola.

Ronald sentiu dificuldade na escola por não ter sido alfabetizado em português?

Pode parecer arrogante da minha parte, mas meu filho é muito inteligente. Ele tem fluência em inglês e espanhol, e um raciocínio matemático incrível. Mas minha grande preocupação foi mantê-lo próximo da cultura brasileira. Então, sempre que visitava o Brasil comprava dezenas de livros para ensiná-lo a ler. A diretora da escola elogiou muito seu desempenho no teste. Tinha muito medo dele não se adaptar, mas graças a Deus, ele está indo muito bem.

E pelo jeito vai seguir o caminho da música...

Não sei dizer. Mas, neste momento, é uma de suas paixões. Ronald tem sido muito elogiado por seu professor de sax. Desde os seis meses, meu filho faz natação e tem muito fôlego. Acho que isso ajudou bastante.

E o futebol?

Ronald gosta de assistir e jogar... Fez escolinha de futebol em Madri, mas não posso afirmar que essa será a praia dele no futuro. Além disso, imagina só a cobrança que ele vai enfrentar se escolher esse caminho. Nem quero pensar... Mas meu filho sabe que terá sempre o meu apoio e do Ronaldo para investir na carreira que escolher. Minha preocupação é investir na formação moral e intelectual dele. Quero que ele tenha responsabilidade, seja um homem bom, humilde. Batalho muito para isso.

De que forma?

Principalmente mantendo um cotidiano simples para que ele se sinta uma pessoa normal. Aos sábados, em Madri, eu o acordava e pedia para que arrumasse o quarto enquanto preparava o almoço. Ele também aprendeu que precisa doar roupas e brinquedos que não usa e faz isso pessoalmente. Ele sabe que somos pessoas privilegiadas e lida bem com o dinheiro.

Ele recebe mesada?

Agora, o Ronaldo dá uma quantia para ele comprar as coisinhas que deseja. Digo sempre que muito trabalhador ganha esse valor para sustentar sua família. Na Europa, eu costumava dar uns 20 euros sempre que ele me ajudava a limpar a casa ou dar banho nos cachorros. E ele não gastava à toa.

Não dá pra imaginar o filho do Ronaldo ajudando a mãe nos afazeres de casa...

Mas ele ajuda sim! O Ronald sabe que seus pais são de origem humilde. Hoje, o Ronaldo pode viajar por toda a Europa em jatinho particular e ser recebido por milionários, políticos, mas nem sempre foi assim. E ele não pode se deslumbrar com as conquistas do pai. Ronald tem que escrever sua própria história, assim como eu conquistei meu espaço no futebol.

Você não queria ter sua imagem vinculada ao Ronaldo?

Eu sempre desejei ser conhecida pelo meu trabalho. No Brasil, após me casar, passei a ser chamada de mulher do Ronaldo, mas na Espanha eu construí uma imagem bacana. Joguei no Torrejon até 2009 e depois fiz um curso para dar aulas e montar uma escolinha de futebol, que devo idealizar no próximo ano. Mas só depois de participar do reality ¡Mira quién baila!, em 2006, eu realmente me popularizei. Hoje, me respeitam muito como comentarista esportiva no país. Agora meu desafio é me firmar profissionalmente no Brasil. Há alguns anos, o SBT queria que eu comandasse um programa infantil. Adoro tevê, mas só apresentaria uma atração esportiva.

Pouco antes da Copa do Mundo você dividiu o comando do reality show Football Cracks, ao lado do ex-craque francês Zidane. Como foi essa experiência?

Fantástica. Dividir o palco com um ídolo internacional e vários especialistas no assunto foi muito importante. Além do mais, o programa era ao vivo e em espanhol. Fico muito à vontade diante do vídeo, ainda mais se tenho que falar sobre futebol. Muitas mulheres não entendem como posso gostar tanto desse assunto, mas desde novinha troco qualquer futilidade para comentar uma falta que o juiz não marcou, conheço juízes, jogadores...

Você já sofreu preconceito por gostar tanto de um esporte que durante anos foi tido como masculino?

Muito. Na minha adolescência algumas meninas não queriam andar comigo porque eu jogava. Apesar de sofrer um pouco com isso, eu não desanimei e fui em frente. E é a mensagem que eu tento passar para a nova geração: É preciso acreditar e correr atrás de seus sonhos. Eu nunca deixei de ser feminina por jogar bola.

Você é muito vaidosa?

Na medida certa. Durante anos, eu descoloria os cabelos com água oxigenada. Hoje, só faço luzes e hidratação profunda sempre que posso. Uso a linha da Clinique no rosto e intercalo hidratantes bacanas no corpo. Não gosto de exageros, mas acho importante estar sempre bonita.

Gosta de roupas sensuais?

A sensualidade não precisa estar na roupa e sim na pessoa. Meu estilo é mais discreto. Prefiro roupas confortáveis, mas para sair à noite uso saias e vestidos curtos, um leve decote, mas sem exageros. Nas férias, eu descansei, relaxei e, por consequência, engordei um pouco. Em agosto, volto a malhar e seguir uma dieta para recuperar a boa forma. Se eu não me cuidar, vou ficar sozinha... (rs).

Tem vontade de se casar novamente?

Acho que preciso encontrar alguém muito bacana para tomar uma decisão tão séria. Mas namorar seria legal. Até o momento não encontrei ninguém especial. Então, prefiro ficar sozinha e cuidar do meu filho.

O namoro com o David Aganzo (craque espanhol com quem se relacionou por seis anos) não tem volta?

Faz um ano que terminamos. Ele foi muito especial, teve um bom relacionamento com meu filho, mas não deu mais. Agora, esta tatuagem nas costas (M e D, que representava Milene e David) vai significar Milene Domingues. Olha que coincidência boa! Não vou precisar retocá-la... (rs).

Acha que seu filho teria ciúmes de vê-la com outra pessoa?

Ele quer muito que eu tenha outro filho... Mas sou sua musa e sei que enquanto ele não confiar na pessoa, vai se sentir acuado sim. Mas ele é meu melhor amigo e sabe que tenho direito de ser feliz.

Você se casou com um jogador, namorou alguns anos outro. O próximo eleito vai ser da área?

Nem imagino. Mas vivo nesse mundo... O importante é ser um cara legal e que goste de futebol. De preferência que seja corintiano. Fui casada com um flamenguista e briguei quando nossos times se enfrentavam.

Então, gostou de ver o Ronaldo no Corinthians...

Nem acreditei quando soube. Amo meu time, comecei minha carreira lá. É impossível ir ao estádio e não ficar arrepiada com a torcida do Timão. E a chegada do Ronaldo, que é um grande jogador, só acrescentou ao time. Torço para que ele mostre o seu melhor futebol.

Depois de se enfrentarem no Tribunal (o Ronaldo entrou com um pedido de diminuição da pensão de Ronald), a relação de vocês é de cordialidade?

Claro. Temos um filho, adoro a família dele. Já resolvemos nossas diferenças, as quais não comentamos, e está tudo bem. Ele tem sido um pai presente e isso é o que importa. Sou uma pessoa de fé e só posso desejar a ele que viva em harmonia, tenha saúde e seja muito feliz. É essa energia que vai voltar pra mim.