Tony Ramos, o Totó de ‘Passione’, 61 anos, casado há 41 com Lidiane, é pai de Rodrigo, que lhe deu os netos Henrique e Gabriela, de 10 e 6 anos, e de Andrea. Na Globo, já presenteou os telespectadores com personagens inesquecíveis como o Opash, de ‘Caminho das Índias’; Marcio Hayala, de ‘O Astro’; os irmãos Quinzinho e João Victor, de ‘Baila Comigo’; e tantos outros. No telão também fez recentemente ‘Tempos de Paz’ e ‘Se Eu Fosse Você 2’.
Apesar de ser um de nossos grandes atores, é simples, amável e, segundo ele mesmo, detesta a soberba ou o orgulho desmedido: “Acho a soberba um porre, uma das piores qualidades do ser humano. O orgulho desmedido, a pompa e circunstância são coisas dispensáveis e inimagináveis na minha cabeça”. Abaixo, Tony fala sobre a paixão pela família e pelo trabalho.
Foto: Divulgação
Como define Totó?
“Absolutamente franco, sincero, leal, trabalhador, de uma simplicidade e ao mesmo tempo de um grande requinte. Tem uma coisa que acho bonita no homem: a não ostentação, a não soberba. Ele é de uma franqueza e ao mesmo tempo, tão apaixonado, que, às vezes, essa paixão é confundida com ingenuidade. A ingenuidade nunca pode estar atrelada à paixão e vice-versa. O ser humano está sujeito a ser confundido com ingênuo porque não percebe a tempo certas coincidências da vida. É o caso dele. Se entrega por paixão a Clara (Mariana Ximenes) e não tem ideia do que vai acontecer.”
Se identifica com o personagem?
“Muito com a crítica que ele faz à soberba. Não confundir com não ter sofisticação. Gosto da sofisticação, de uma boa leitura, bom vinho, boa comida. Mas com naturalidade. Claro que não tenho nada a ver com o Totó, do ponto de vista comportamental, mas com esses valores claros e transparentes dele me identifico muito. A preocupação com a família, a defesa da mesma. E agora ele começa a perceber que ela está se desmantelando e escapando de seus dedos, o que vai criar nele uma depressão que a gente vai perceber após o capítulo 100”.
Acha que o casamento de um homem maduro com uma mulher jovem pode dar certo?
“Claro! Assim como o inverso. Jamais tive esse tipo de preconceito. A sociedade muitas vezes não está preparada, estranha, critica, até por uma questão estética. Alguns falam: “Ah, não monta”. O melhor exemplo pra mim é Oona O’Neill, de 18 anos, que foi casada com Charles Chaplin, de 50. Ficou com ele até a morte e tiveram oito filhos.”
O casamento depende do que para dar certo?
“Fundamentalmente da não traição entre as partes, do amor e afeto. A paixão existe e é bem-vinda, mas a paixão fugaz não interessa. Interessa a paixão que é o amor verdadeiro. É você olhar para a mulher que está ao seu lado e ver que tem uma parceria. A pessoa que não conseguiu na primeira ou terceira vez, tem que tentar até encontrar alguém e ser feliz. O ser humano é gregário, é tribal por natureza. E algo que nunca se deve esquecer: muito humor. Que, aliás, rima com amor”.
Como tem sido a reação do público com relação à vilania de Clara?
“Não tem um lugar onde eu vá que as pessoas não falem: “Totó, cuidado com a lourinha”. É fascinante alguém me chamar de Totó a essa altura da minha carreira. São 46 anos de TV, me chamarem de Totó sabendo que não sou eu é a glória! É um tal de falar ‘punto e basta’.”
O que vai acontecer com Totó?
“Não tenho ideia. Gosto de receber os capítulos e sentir o mesmo impacto que o espectador vai ter quando assistir à cena. É em cima desse impacto que trabalho minha reação de interpretação. O importante foi o resultado dos grupos de discussão. O carinho com que se referem a Totó. Estou muito feliz!”
Alguns telespectadores criticaram o italiano da novela. Houve alterações?
“Curioso que no grupo de discussão e nas críticas dos jornais de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná apontaram isso. E nada foi alterado. Nas cenas de casamento de Totó e Clara, gravadas em março na Itália, está tudo lá. Mas no Rio ninguém se aproximou para dizer que não estava entendendo. Se não estivessem entendendo, não acompanhariam. Jamais respondo a críticas porque é o direito, o livre arbítrio de quem as faz ”.
Ainda fica nervoso?
“Boca seca, nervoso. A rotina das gravações não me dá problemas. Claro que fico cansado, não sou mais criança. Mas faço com prazer. Adoro fazer novelas. É uma grande identidade nacional, comprovadamente. Jamais me considerei realizado e jamais vou me considerar. Isso é uma balela”.
Dá palpites para os autores?
“Quem sou eu pra ficar dando pitaco no que o autor imagina? Deixo rolar. Se por ventura o autor quiser, claro, pode telefonar. Mas o nervosismo de principiante continua. Felizmente! Por isso, quando acabo uma novela, sinto a missão cumprida, aí só penso em botar o bumbum na areia e ficar quieto.”
Seu casamento é um dos mais sólidos da classe artística. Quando se casou sabia que ia ser para sempre?
“Estou casado há 41 anos, mas nos conhecemos há 43. Nem ela nem eu sabíamos que seria para sempre. Mas o que ela e eu sabíamos é que queríamos que fosse para sempre. Por amor, afeto, determinação. Felizmente, achei uma parceira de humor, inteligente, muito culta, muito sábia. E é isso que move a vida”.
É romântico?
“Claro. Não tem data certa. Eventualmente, trago flores ou encomendo na floricultura. Às vezes, tomar um champanhe na temperatura certa, no fim do dia... É bom demais”.
Ciumento?
“Se você perguntar se sou ciumento neurótico ou obsessivo, negativo. Tenho pequenos ciúmes. Gosto de estar com a Lidiane do lado, não gosto muito de lero-lero em volta. Ciúme é uma coisa muito perigosa, muito negativa na relação. Imagina se Lidiane fosse ciumenta com a profissão que tenho?”
Não tem ciúme das cenas de beijo?
“Pelo contrário. Ela já cansou de ver atrás da câmera. Agora mesmo, na Itália, viu as cenas e até disse para mim: ‘Ficou bonita a cena!’. O que estabelecemos é uma parceria de amor, afeto. Não invejamos ninguém, não nos metemos na vida de ninguém, só queremos o nosso canto e cuidamos da nossa vida”.
Qual a receita para manter um casamento?
“Olha, se eu tivesse essa receita talvez ficasse rico com livros de autoajuda. Não tenho essa missão. Nem quero ser exemplo. Com sinceridade. Disse isso até para meus filhos quando se casaram: ‘Não peguem seus pais como modelo absoluto.’ Tudo bem que a gente possa servir como parâmetro, mas não como parâmetro absoluto. Por isso que digo: ‘O que nos mantém ativos é esse humor, a vontade de ser feliz, de curtir a vida.’ Tem uma coisa básica: o profundo amor que temos um pelo outro”.
Tem algo que você acha que ainda falta fazer?
“Não acho nada. Gosto sempre de ser surpreendido. Também acho certo a hora que entendo que tenho que dar uma parada longa. Sei exatamente qual é a hora. De repente, pode ser essa a hora e não quero pensar em nada. Tenho convite para fazer um filme, que lamentavelmente não posso te falar ainda, se farei ou não. Mas não farei TV em 2011. É importante o momento em que o público diz: ‘Ué, onde é que está aquele cara?’ É importante para a carreira e em benefício da própria televisão dar um tempo”.