Bem menos inocentes que a brincadeira da “salada mista”, as pulseiras do sexo, que começaram a ser usadas em 2006 na Inglaterra viraram moda entre crianças e adolescentes de todo o Brasil desde o final do ano passado, levantando discussões sobre possíveis proibições. Câmaras municipais e Assembléias legislativas de vários Estados pretendem aprovar projetos de Lei para impedir a venda e o uso do adereço nas escolas.

Em março deste ano uma menina de 13 anos foi estuprada em Londrina (PR), após quatro estudantes - Três menores e um de 18 anos - arrebentarem as pulseiras, que corresponderiam ao direito de manter relações sexuais com a vítima. A menina contou que foi obrigada a fazer sexo com pelo menos três deles. Os rapazes negam a acusação, alegando que o ato foi consentido.

De acordo com o delegado William Douglas Soares, da 10ª Subdivisão Policial de Londrina “a alegação dos rapazes não muda nada, porque a menina é menor de 14 anos” e caso a denúncia seja comprovada, eles serão acusados por estupro de “vulnerável”, cuja pena é de oito a 15 anos de prisão.

As pulseiras de silicone são fabricadas na China e têm cores variadas, cada uma representa uma ação íntima que vai de abraços a posições sexuais. Aquele que tem a pulseira arrebentada por outro, tem que realizar o que a cor determina. Elas são vendidas em lojas e camelôs, custam de R$ 0,10 a R$ 0,20 a unidade e as mais procuradas são as de cor preta (sexo) e roxo (beijo de língua).

Nas escolas os jovens andam uns atrás dos outros durante os intervalos das aulas, na tentativa de arrebentar uma das pulseiras. Aqueles que não usam são excluídos da turma e os que têm as cores preto e dourado são mais respeitados . Um “amarrador” para cabelo também estaria sendo usado no pulso para substituir o acessório proibido em alguns locais.

Pulseiras do sexo em Alagoas

Para a pedagoga Elizabete Patriota o uso das pulseiras expressa a liberalidade sexual vivida pelos jovens, pelo fato da sociedade ter chegado a um ponto em que tudo que se pode imaginar é permitido. Ela contou que já ouvi muitos relatos de problemas com essas pulseiras nas escolas, resultado da precocidade dos estudantes em relação à vida sexual.

"Há cenas de sexo mostradas indiscriminadamente na televisão e na internet e os adolescentes não são orientados a lidar com isso. É uma crise de valores, porque a liberalidade e a permissão são diferentes da liberdade. Os jovens precisam de limites, pois atualmente são estimulados a terem um comportamento arriscado. Isso não é brincadeira e sim, um jogo perigoso, que pode figurar um crime, como o estupro, o que preocupa educadores e operadores do direito", afirmou a pedagoga.

De acordo com Elizabete o fato da lei determinar como inaceitável a violação dos direitos de escolha de alguém já seria suficiente para impedir abusos referentes a brincadeira. Ela lamentou a forma como as mulheres continuam sendo sub-julgadas e tratadas como objeto sexual. A pedagoga ressaltou a importância da família e da escola na formação dos adolescentes e ainda, a inversão de valores, caracterizada pelo domínio dos pais por parte dos filhos.

"Nesse caso os homens, que na verdade ainda são meninos, acham que as meninas estão disponíveis para satisfazer seus desejos, apesar de toda luta do século passado pela liberdade feminina, que significa que a mulher tem direito a decidir sobre sua vida, dentro do que é aceitável", ressaltou Elizabete.

Ela é a favor da proibição do uso das pulseiras nas escolas, mas considera exagero a criação de leis específicas, quando seria necessário um trabalho preventivo e de conscientização. Questionada sobre a possibilidade da medida criar mais interesse dos jovens pela brincadeira, a pedagoga afirmou que isso dificilmente acontecerá se houver diálogo. "É típico do ser humano querer provar o que não é permitido, por isso tem que haver um acompanhamento por parte dos pais", lembrou.

"A família deve proibir em casa, mas orientando. Já dentro da escola isso também deve acontecer, para que o espaço institucional seja recuperado e para servir como referência. O legislador acha que pode resolver tudo com leis, mas assim como na Constituição Federal muitas ficam só no papel. O código penal prevê o que é crime, mas se funcionasse não haveria tráfico de drogas, por exemplo", destacou a pedagoga.

A estudante M.I.B.F, 13, afirmou que teve facilidade para encontrar o adereço em uma banca de camelô, no Centro de Maceió. Ela decidiu comprar a pulseira porque achou bonita e por já ter visto outras amigas usando na escola. M.I relatou que na hora da saída uma colega estava com três pulseiras - branca, roxa e vermelha – que foram arrebentadas por um menino, que quis receber a "prenda" a força.

"Um pacote com 20 pulseiras da mesma cor custa R$ 1,00. Eu não sabia do significado, comprei as roxas e minha irmã de 12 anos, as vermelhas. Misturamos as cores, mas minha prima mais velha arrancou do meu braço e pediu para eu não usar. Na escola minhas amigas só sabem o significado da cor preta", contou a estudante.

Proibição

Em Londrina o caso do estupro motivou audiências públicas, realizadas pela Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da Câmara de Vereadores. Uma das decisões tomadas foi proibir a venda das ‘pulseiras do sexo’ na cidade, além da criação de um Projeto de lei, de autoria da presidente da comissão, vereadora Lenir de Assis (PT).

Em Manaus o juiz da infância e juventude, Marcos Santos Maciel determinou, por meio de uma portaria, a proibição do uso e comercialização das “pulseiras coloridas”. O uso das pulseiras do sexo pode ter resultado na morte de duas adolescentes. Uma das jovens, de 14 anos, foi encontrada morta, na madrugada do último dia 3, em um quarto de hotel, localizado no bairro Morro da Liberdade. Com o corpo, estavam seis pulseiras, que segundo a polícia, foram supostamente arrebentadas pelo autor do crime.

Na cidade de Criciúma e Navegantes (SC), a venda das pulseiras já foi proibida. Professores e pais do Rio de Janeiro também se mostram contrários à suposta brincadeira, que já estaria sendo praticado na Internet e atraindo pedófilos interessados em aliciar menores. A Superintendência de Acompanhamento e Avaliação Educacional da Bahia também determinou a proibição nas escolas.

Algumas escolas da Inglaterra e dos Estados Unidos, onde as pulseiras passaram a ser conhecidas como sex bracelets também proibiram o uso. Porém, especialistas temem que a medida instigue ainda mais a curiosidade dos jovens, já que ao se tornar clandestina, a brincadeira ficaria mais interessante.

 Cores

» Amarela – Significa dar um abraço no rapaz;
» Laranja – significa uma “dentadinha do amor”;
» Roxa – já dá direito a um beijo com língua;
» Cor-de-rosa – a menina tem de lhe mostrar o peito;
» Vermelha – tem de lhe fazer uma lap dance (dança erótica);
» Azul – fazer sexo oral praticado pela menina (”boquete”);
» Verdes – são as dos chupões no pescoço;
» Preta – significa fazer sexo com o rapaz que arrebentar a pulseira;
» Dourada – fazer todos citados acima ou sexo oral simultâneo (“meia-nove”);
» Listrada– sexo na posição “frango assado”;
» Grená – Sexo anal sem lubrificante;
» Transparente – sexo com parentes consanguíneos;
» Marrom – sexo escatológico (“brown shower”);