A presença de tubarões - peixes cartilaginosos - no litoral alagoano tem sido observada por pescadores há alguns anos, que já os encontraram na praia de Ipioca, da Avenida e inclusive, na lagoa Mundaú, geralmente presos á redes de pesca. A possibilidade deles chegarem mais próximos da praia assusta os banhistas, embora especialistas garantam que por enquanto, isso é difícil de acontecer.
Mesmo estando próximas de Recife, capital pernambucana que registrou mais de quarenta ataques de tubarões, com treze mortes, principalmente na praia de Boa Viagem, cidades alagoanas como Maceió e Marechal Deodoro - onde está localizada a famosa praia do Francês, que atrai turistas e surfistas de todo o Brasil - ainda não registraram ataques.
De acordo com o professor Vandick Batista, do Laboratório de Ecologia, Peixes e Pesca (Labepp/Labmar), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) os tubarões estão presentes há muitos anos no litoral do Estado, mas não se aproximam dos seres humanos, por ficarem em alto mar. Ele destacou que o que acontece na praia de Boa Viagem é um problema local, por conta da construção do Porto de Suape, que começou a funcionar na década de 90, mesma época em que os ataques se intensificaram.
“Os tubarões são vizinhos comportados dos alagoanos. Sem saber, as pessoas até comem carne de tubarão que é vendida aqui. Em Recife foi a mudança das correntes marítimas e do curso dos rios e também o lançamento de resíduos orgânicos no mar, pelos matadouros e barcos pesqueiros que fez com que esses ataques acontecessem. Aqui não há razão para isso, apesar da construção de portos e de marinas representar uma grande ameaça à vida marinha”, destacou o professor.
Batista explicou que a maioria dos ataques ocorre com surfistas pelo fato dos tubarões enxergarem apenas as pernas deles dentro d´água e as confundirem com um peixe debilitado. “Dentro da água nossas pernas ficam desajeitadas e quando acontece um ataque, o tubarão não engole a pessoa, mas arranca pedaços, o que ocasiona a morte. Dificilmente eles vão chegar a áreas para banhistas em Alagoas”.
Ele ressaltou ainda, que as praias alagoanas são protegidas por barreiras de corais, que impedem que peixes desse tipo causem acidentes e lamentou o fato de algumas pessoas não contribuírem para a preservação dos ecossistemas marinhos, por pisarem e até jogarem água sanitária nos corais, quando vão pescar.
“Aqui é possível nadar em alto mar e são essas barreiras que protegem algumas espécies de peixes e os seres humanos. Na piscina natural de Pajuçara e nas praias da Sereia e da Jatiúca as pessoas precisam ter consciência e preservar essas espécies, porque quanto mais elas se desenvolverem melhor para o meio ambiente. O Poder público também deve incentivar essa preservação para continuar com o turismo”, disse.
Ainda segundo o professor, a poluição das praias, principalmente em Maceió contribui para o desequilibro ambiental, mas não tem relação com a aproximação dos tubarões no litoral. “Isso prejudica a saúde das pessoas, causa doenças, mas por não haver abatedouros jogando dejetos com restos de carne ou sangue no mar, os tubarões irão continuar longe de nós”.
Espécies de elasmobrânquios encontradas no litoral alagoano
O professor Vandick Batista contou que a maioria dos tubarões encontrados nas praias alagoanas não são considerados carnívoros, comem carangueijos e a mandíbula não é composta por dentes afiados e sim, pequenas placas em forma de dentes.
Um trabalho desenvolvido pelo Labepp/Labmar trata da diversidade de elasmobrânquios (tubarões e arraias) no litoral alagoano, a partir da pesca artesanal, realizada na Praia da Avenida, embora o litoral alagoano possua 230 quilômetros de extensão.
Esses elasmobrânquios foram capturados em pescarias realizadas com linha e rede de emalhe, desde 2007. Os tubarões e arraias coletados foram levados para o laboratório, fotografados e caracterizados pela coloração e dados biológicos.
Nesse período foram pescados dezessete tubarões, pertencentes a dez famílias. Entre eles, seis eram da espécie de Carcharhinidae, três de Dasyatidae, e uma espécie de cada das famílias Gymnuridae, Myliobatidae, Mobulidae, Narcinidae, Rhinopteridae, Rhinobatidae, inglymostomatidae e Sphyrnidae.
Durante o trabalho foram identificadas ainda, nove espécies de arraias, representadas por sete famílias que foram comercializadas pelos pescadores do bairro de Jaraguá em 2006.
Desses elasmobrânquios, 59% possui hábito epipelágicos, enquanto 29% são recifais e 12% são estuarinos. A explicação para a diversidade de espécies encontradas em Alagoas é o fato da região Nordeste propiciar as condições ideais de temperatura, reprodução e desenvolvimento dos elasmobrânquios.
Sentidos do tubarão
Os tubarões podem sentir os campos elétricos de outros seres vivos, como as batidas do coração de um peixe enterrado na areia, através de "captadores" localizados na cabeça (são como buraquinhos, ou poros), chamado de ampolas de Lorenzini.
Esses órgãos são também responsáveis pela capacidade de o tubarão se guiar, nas suas migrações pelos oceanos.
Entre suas minúsculas escamas há células receptoras químicas que percebem mudanças de temperatura e de salinidade na água. A visão dos tubarões tem um alcance de dois a três metros de distância e seu ouvido, é capaz de sentir as vibrações de um peixe a se debater até a 600 metros de distância. O tubarão-branco pode até mesmo enxergar fora da água.
Importância ecológica do tubarão
Os tubarões são de grande importância para o ecossistema e para os seres humanos. Por serem grandes predadores, estão no topo da cadeia alimentar e contribuem para o controle e a saúde das espécies que são suas presas. Além disso, muitas vezes se alimentam de bichos doentes e velhos.
O ser humano se beneficia dos tubarões comendo sua carne ou extraindo vitamina A de seu fígado. As células do tubarão possuem um lipídio (célula de gordura) que parece ser um poderoso antibiótico e está sendo testada no tratamento de doenças humanas.
Estudos dizem que 73 milhões de tubarões são mortos por ano por causa de suas barbatanas - que contêm cartilagem, além de serem uma iguaria cara e muito apreciada pelos japoneses e chineses.