Sávio de Almeida comenta espetáculo "Uma noite em Tabariz" que estreou com casa lotada no Quarta no Arena

28/08/2009 06:41 - Eventos
Por Redação
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Na última quarta (26) foi dia de teatro lotado. Foi a estreia do espetáculo “Uma Noite em Tabariz”, da Cia. do Chapéu, que tem texto de Luiz Sávio de Almeida e música de Mácléim, que conta as histórias da boemia do antigo bordel de Maceió, de mesmo nome, num espetáculo musical com grande riqueza cênica, onde personagens imaginários revelam entre músicas e passos de tango uma das noites mais badaladas na década de 50, no Tabariz. A casa, antigamente localizada à Rua Sá e Albuquerque, no bairro do Jaraguá, em Maceió, é a inspiração para criação dos personagens. Criado por Benedito Mossoró, o prostíbulo marcou a história da capital alagoana, sendo reconhecido por trabalho de conclusão de curso da Universidade Federal de Alagoas e tema de samba conhecido nacionalmente.

O musical é composto por várias situações que se passam no bordel Tabariz, personagens fictícios mostram suas histórias circulando entre a música, a dança e o teatro. Com uma mistura de ritmos os personagens narram a boemia do bairro Jaraguá, em Maceió; retratando cenas que entrelaçam prostitutas e seus amantes de maneira inusitada, cantando e atuando suas próprias vidas. O espetáculo aborda com sutileza questões sociais que envolvem os dramas e as alegrias dos personagens, suas angústias, confusões, seus conflitos e emoções que se estendem e encantam, tanto quem viveu no início da formação dos bordéis da cidade, quanto os interessados em conhecer essa realidade tão pouco mostrada com uma beleza poética original e a uma musicalidade diversificada. O espetáculo, da Cia. do Chapéu, traz os atores: Fabrício Barros, Joelle Malta, Jonatha Albuquerque, Laís Lira, Magnun Angelo, Wallisson Melquisedec e Tácia Albuquerque que também é responsável pela direção e os músicos André Cavalcanti e Natalhinha Marinho, com texto de Luiz Sávio de Almeida e música de Mácleim.

O elenco do espetáculo traz os atores: Fabrício Barros, Joelle Malta, Jonatha Albuquerque, Laís Lira, Magnun Angelo, Wallisson Melquisedec e Tácia Albuquerque, que também é responsável pela direção e os músicos André Cavalcanti e Natalhinha Marinho.

O espetáculo volta ao Teatro de Arena, na próxima quarta, dia 02 de setembro, a partir das 19:30h.

Na estreia estava o autor do texto, Sávio de Almeida, que nos falou sobre essa montagem de "Uma noite em Tabariz":

O que você achou desta montagem de "Uma noite em Tabariz"? Como foi ver suas personagens de carne e osso?
Sávio - Este texto foi muito curtido durante a elaboração, especialmente pela beleza da partitura musical que é do Macléim. O grupo foi inteligente e honesto na montagem. A forma como os meninos conceberam o espetáculo foi bem mais inteligente do que o formato original; eles melhoraram. E digo isto com grande orgulho: são bem melhores do que eu. Foi um belo espetáculo: elegante, simples como deveria ser. Achei emocionante; mais uma vez o Macléim e eu temos a sorte de contar com um grande grupo teatral sustentando o que concebemos. Sou imensamente devedor ao Macléim e ao grupo. O Macléim tem sido a pessoa com quem tenho mais identidade na parceria musical: é impressionante a forma como ele escreve com o dó-re-mi, o que escrevo com abc. O grupo merece o meu maior respeito. Eu sou idoso; o prazer de ser escolhido por jovens, tira rugas e rusgas. A platéia estava linda; foi tudo encantador. Estreia sempre é uma noite de aprendizado. O grupo tem senso profissional e sempre crescerá. Espero que todos tenham entendido a tragédia da prostituição ou o "cansaço de anoitecer e amanhecer o dia". É pena que o Macléim estivesse adoentado e não visse o que eu vi.

O texto se trata de um musical. Esse fato e o próprio tema de "Uma noite em Tabariz" têm espaço no teatro alagoano e são bem assimilados pelo público alagoano?
Sávio - O espaço teatral é aberto e isto o torna extraordinário. Isto é a arte: uma busca de expressão de senso coletivo. Qualquer caminho, qualquer gênero, independendo de modismo, será sempre bem recebido pelo público. Senti tranquilamente o respeito da plateia pelo espetáculo, quando aplaudia em cena aberta e quando levantou sem qualquer alarde e aplaudiu aqueles jovens. Será sempre bem aceito, aquilo que é honesto.

Como foi o seu contato com a Cia do Chapéu até a estreia e o fato de ser um grupo novo, lhe criou algum outro tipo de expectativa?
Sávio - Não, criou não. O fato de ser novo, pareceu-me positivo desde o início. Infelizmente não acompanhei como costumo fazer e foi por não querer. Desejava ter a experiência do afastamento. Tive ideia do espetáculo, dois dias antes da estreia e foi gratificante. Conhecia a diretora, mais uns dois componentes, um dos quais havia sido aluno meu. Sabia que a Tácia era extremamente responsável também. Olhe, uma das coisas que retarda a senilidade, é acreditar nos jovens. Eu juro que mesmo se eu não gostasse do espetáculo, morreria defendendo o que o grupo tivesse feito. Era o direito dele pensar e elaborar. Na medida em que dei o meu consentimento - combinado, evidentemente, com o Macléim - deveria saber aguardar. O autor teatral deve saber que ele desaparece assim que termina seu texto. Note a distância entre uma página em branco, a cabeça do autor, a cabeça do diretor, do ator, do grupo e finalmente do espectador. O autor foi para as cucuias... Depois tudo vai para as cucuias, restando o momento magistral que é chamado de espetáculo. É nele que tudo se integra.

Qual foi o seu objetivo ou motivação em falar de um bordel tão famoso, do ponto de vista das "meninas" do velho Mossoró?
Sávio -
Pouco conheço da história do Tabariz. Lembro. Trabalhei naquela área, quando menino. Cheguei a entrar no Mossoró, a quem conheci pessoalmente. A maior coisa que o grupo conseguiu neste espetáculo foi manter a fidelidade ao espírito do texto e não transformou a ideia de zona em uma extensão do que poderia ser considerado como "glamour" malévolo da época, um dos prolongamentos do complexo ideológico do machismo. Apesar das situações engraçadas e caricatas, o grupo manteve durante todo o espetáculo, a dignidade do drama humano na prostituição, e o final do espetáculo dá o tom de respeito por aquelas vidas humilhadas e ofendidas. Na verdade, o final do espetáculo é um chamamento a todos para uma retificação do mundo. Afinal de contas, o mundo pode ser salvo de suas formas atuais. Temos futuro. A Tácia é quem fica com o que chamo de ária da Zefa Gemedeira e ela como atriz consegue lançar o que a música do Macléim e minha pobre letra desejam: que o anoitecer seja de paz.

Poucos sabem que apesar de ser a primeira montagem a ir ao palco, "Uma noite em Tabariz" teve uma outra montagem (em 2006), com o Embracanto, que não chegou a estrear...

Sávio - Eu tenho que agradecer e agradecer demais ao Embracanto. Nossa, como agradeço. Infelizmente, houve uma promessa não concretizada de recursos. É hora de agradecer a ele, ao Embracanto; quem sabe um dia seremos parceiros novamente. Resta meu beijo a todos os marmanjos e marmanjas do Coral e dizer: Obrigado. Abraçá-los mesmo e pedir ao Ivan (Barsand) que me faça sempre presente junto ao Coral. São pessoas extraordinárias e altamente capazes de realizarem um bom espetáculo também.

Como você avalia um projeto como esse, da DITEAL, "Quarta no Arena"?
Sávio -
Acho bom, mas talvez fosse possível o estado ou município mobilizar alguma coisa mais. Não é que dinheiro faça obrigatoriamente um bom teatro, mas facilita em alguns aspectos. No fundo contudo, acho de extraordinária importância. Montar um dia para encontro semanalmente, além de dar oportunidade a diversas montagens, traz o encontro da cotidianização. Parabéns.

SERVIÇO
Projeto Quarta no Arena
Realização: Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (DITEAL)
Espetáculo: Uma Noite em Tabariz
Grupo: Cia. do Chapéu
Local: Teatro de Arena Sérgio Cardoso
Dia: 02 de setembro
Horário: 19:30h
Ingressos: R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (estudantes)
Classificação: 14 anos
Informações: (82) 3315-5665 / 5656
www.teatrodeodoro.al.gov.br

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