Brigas, depredações de ônibus e imóveis têm marcado a trajetória das torcidas organizadas em Alagoas. Depois de clássicos como CRB e CSA, supostos integrantes da Mancha Azul e da extinta Comando Vermelho - atualmente Comando Alvirubro - acabam se envolvendo em confusões, que em 2005 resultaram em uma liminar do juiz da 11ª Vara Cível da Capital, Jerônimo Roberto dos Santos, extinguindo ambas as torcidas, a pedido do Ministério Público Estadual.

Na época, os membros das Mancha e da Comando ficaram proibidos de irem aos estádios de futebol e os dirigentes tiveram que parar de comercializar camisas e outros produtos.

A Mancha entrou com um pedido de suspensão da liminar e conseguiu o direito de continuar atuando, enquanto que a Comando Vermelho não contestou e teve que mudar de nome.

Jovens que se dizem integrantes da Mancha Negra, do Asa de Arapiraca também protagonizam atos de violência após jogos no interior do Estado, chegando a quebrar lojas e orelhões e até a serem presos.

Os clubes geralmente repudiam esses atos e a diretoria dessas torcidas organizadas promete buscar formas de diminuir a violência nos estádios, com cadastros e conscientização dos torcedores.

Medidas para extinguir as torcidas também já foram tomadas em São Paulo (Independente e Mancha Verde), em Minas Gerais( Cruzeiro e Atlético) e no Rio Grande do Sul (Grêmio). A justificativa seria o número de ocorrências policiais registradas nos últimos tempos, que inclusive resultaram na morte de torcedores que foram baleados ou espancados. A internet é um dos meios utilizados para marcar os confrontos.

No entanto, princípios legais amparam essas torcidas diante de tentativa de extinção, como o direito de livre associação (garantia constitucional). Mas, ele entra em conflito com o crime de formação de quadrilhas, previsto no Código Penal. Dirigentes e integrantes negam, com a justificavtiva de não haver finalidade de cometer reiterados delitos ao fazer parte delas.


O presidente da Mancha Azul, Marcelo Rocha disse que há quatro anos a torcida realizava o cadastro dos seus integrantes, o que ajudava a identificá-los diante de atos de violência nos estádios. Ele acredita que os políticos devem criar leis para punir os envolvidos e que algumas medidas, contribuiriam para diminuir as brigas. Na opinião dele, o Estatuto do torcedor também deveria ser seguido.

"Nos damos bem com as torcidas organizadas Trovão Azul (Confiança Sergipe), Inferno coral (Santa Curz Recife), Bamor (Bahia), entre outras. Em julho vamos voltar a cadastrar os torcedores, porque as pessoas que quebram ônibus nem entram no estádio e não temos como impedir que elas torçam e simpatizem com a Mancha. O que já fizemos foi parar de vender material a elas", disse Marcelo.

Questionado sobre a participação do traficante Ivanildo Nascimento da Silva, o "Aranha", na Mancha Azul ele disse que a afirmação foi feita pela polícia e que realmente existe um integrante da torcida com esse apelido, mas ele seria o segurança de um shopping de Maceió.


Para o vice-presidente da Comando Alvi rubro, Givanildo Silva também é preciso saber quem são os membros das torcidas organizados. Para isso, eles estão realizando um cadastro e mensalmente o integrante terá que pagar R$ 20,00 e terá direito ao acesso livre nos jogos do CRB.

"Muitos têm medo de se registrar e esses são os que não vão para o estádio apenas para torcer. Contamos com mais de 3.000 simpatizantes e não temos ligação com nenhuma facção. Pelo contrário, eu me dou bem com o presidente da Mancha, só que algumas pessoas se espelham na violência de outros Estados", afirmou.

De acordo com Givanildo, para participar os menores de idade precisam de uma autorização dos pais. Ele explicou que a violência é mais freqüente justamente entre os adolescentes, que marcavam brigas até em um shopping da cidade."Pedimos a segurança que fizesse uma identificação e que procurasse os pais deles, porque nem sempre são ligados a Comando Alvi rubro", esclareceu.

O jornalista Éder Patriota, que torce pelo CRB, revelou que sente medo de ir ao estádio, principalmente em dias de clássico. Ele disse que agora prefere não se identificar como torcedor do time, devido a represálias.

"Já levei um soco na nuca dentro do ônibus, só por estar com a camisa do CRB. Só visto se estiver acompanhado de outras pessoas, senão, prefiro usar uma camisa normal para não demonstrar minha preferência pelo time", contou Éder.

Já o ex-presidente da Mancha Negra - que conta com cerca de 500 membros - Luciano Sousa Santos, não concorda com a forma como todos os integrantes das torcidas são tratados, o que faz com que a população tenha medo de freqüentar os estádios.

"Sou assistente social e faço parte da Mancha. Quem é torcedor de verdade quer apenas ver o time ser campeão. Assim como na PM, em qualquer lugar tem gente ruim, mas médicos, advogados e promotores também torcem. Ninguém quer levar a família pra um lugar onde tem gente brigando e a PM ás vezes exagera, age de forma arrogante, por achar que todos que estão ali vestidos com a camisa são marginais", afirmou.

Segundo Luciano, a polícia sabe quem faz parte da Mancha Negra, pois os cadastros estão à disposição, uma vez que vinte pessoas já foram afastadas por não terem um comportamento adequado. Ele disse ainda, que já foi necessário que a PM escoltasse os torcedores arapiraquenses, devido a problemas com supostos integrantes da Comando, que jogaram rojões e pedras durante os jogos.