De há muito, e bote calendário nisso, já não guardo as melhores expectativas para o que almejo ou desejo, aquilo a que chamaríamos de “sonho acordado”, quando a nossa imaginação vence a prudência. Talvez porque também seja necessário projetar o tamanho da frustração - quando o imaginado não se torna realidade.
Assim, de primeira, lembro-me de duas grandes frustrações na minha já extensa existência – ambas coletivas, compartilhadas ou divididas com milhões de outros bípedes implumes que sonharam o mesmo sonho.
A primeira: a Copa do Mundo de 1982, com o time mais fantástico que eu vi jogar nos meus anos todos de futebol. Aquela derrota para a Itália adoeceu a minha alma, que entrou num luto dolorido e profundo e me afastou da condição de torcedor genuíno, aquela com a mais sincera paixão. Esta esmaeceu e já deu provas de que não volta mais. Ainda gosto e acompanho o futebol, mas sei que nada será como antes.
Dois anos depois - que triste!- veio a campanha das diretas-já. Que momento fantástico da cidadania brasileira! E já ali, um Congresso Nacional acovardado e com medo da ditadura - que já estava até enfraquecida - negou-nos a alegria. É verdade: hoje a coisa por lá parece até pior na qualidade da gente escolhida, mas fomos nós que colocamos essa turma nas cadeiras de deputados e senadores. Ou seja: pelo menos o erro foi nosso, coletivo – cuidemos de corrigi-lo.
Como já venho conversando com os pacientes leitores deste espaço domingueiro, busco hoje tão somente aquilo que os gregos chamavam de ataraxia: nada de grandes apostas de felicidade, muito menos de tristezas demolidoras – um viver tão calmo quanto possível.
Aqui estão apenas algumas palavras, soltas e sem maiores pretensões, antes do silêncio de verão: em janeiro entro de férias e, se tudo der certo, em fevereiro estarei de volta – para agrado de alguns, fúria de outros tantos.
Mas reparando bem, este 2025 tem, sim, um acontecimento que me deu uma rara felicidade: o pequeno show que pude fazer, graças ao Felix Baigon e à Eveline, no Café Sobrado, quando as estrelas no palco foram meus filhos Camila e Luiz e meus adoráveis netos João Vicente e Joaquim – todos afinadíssimos e cantando as canções do pai/avô.
Se, lá na frente, quando eu não mais for, eles recordarem desse dia (está no YouTube), haverão de (re)ver um sujeito gasto, encanecido, e que parecia estar vivendo ali o que poderia ser o melhor dia da sua infância.
Ricardo Mota








