Em meio ao avanço das compras de fim de ano e ao forte apelo do consumo emocional, o economista Jarpa Aramis alerta que o período exige atenção redobrada das famílias para evitar o endividamento. Em entrevista ao CadaMinuto, ele explica por que as festividades aumentam o risco de comprometer a renda, aponta as principais armadilhas do crédito e orienta sobre o uso consciente do 13º salário, além de oferecer dicas práticas para quem já inicia dezembro no vermelho.

Por que as compras de fim de ano aumentam o risco de endividamento das famílias?

Existe um apelo muito forte do ponto de vista do marketing e do mercado. Então, a tendência é que haja um aumento do consumo pelo viés emocional. As pessoas são impulsionadas pelas festas, presentes, confraternizações e por toda essa pressão mercadológica. Além disso, surge uma falsa sensação trazida pelo 13º salário, como se tivéssemos dinheiro sobrando. Evidentemente, para quem tem uma vida financeira equilibrada, de fato existe esse dinheiro extra. Mas, para quem não tem, é importante avaliar a situação atual levando em conta a renda disponível.

Outro elemento é a agressividade do comércio em relação às ofertas: muita propaganda, facilidade de crédito e promoções de toda ordem. Juntando tudo isso, é necessário avaliar bem, pois esse recurso pode, e muitas vezes precisa,  servir para outras finalidades.

 

Quais são as armadilhas de crédito mais comuns nessa época e como evitá-las?

Parcelamentos muito longos podem parecer suaves e caber no orçamento, mas acabam se acumulando. Nossas necessidades não se limitam ao mês festivo. Portanto, é preciso estar atento às ofertas de crédito facilitado durante as compras, como crediário, cartão de loja e limite pré-aprovado. Isso precisa ser bem avaliado.

O rotativo do cartão tem um dos juros mais altos do mercado, por isso é importante observar atentamente os tipos de oferta disponíveis. A sugestão é não fazer nenhum tipo de crédito por impulso. Sempre que possível, no momento da compra, calcule o valor final e o impacto do parcelamento no orçamento da família. Ou seja, é necessário definir um limite pessoal máximo de parcelas que você pode comprometer na sua renda. E, evidentemente, desconfie dessas ofertas muito fáceis, como operações imediatas de dinheiro. Esses são pontos de atenção que precisam ser avaliados para evitar golpes.

 

Parcelar sem juros é realmente seguro ou pode comprometer o orçamento do próximo ano?

O fato de ser sem juros não significa que não exista risco. Quando eu comprometo uma parte da minha renda futura, preciso lembrar que existem outras parcelas, tanto as regulares quanto as esporádicas que, por menores que sejam, somadas podem comprometer uma fatia importante da renda mensal.

Isso só é seguro quando a pessoa tem controle do orçamento e não ultrapassa os limites estabelecidos de comprometimento da renda. É preciso cuidado para que esses “sem juros” não se transformem em uma bola de neve.

 

Como identificar promoções enganosas e evitar compras por impulso?

A orientação é sempre esgotar ao máximo as pesquisas de preço, já que alguns produtos têm os valores aumentados para depois serem reduzidos no fim do ano. Busque comparar preços de forma virtual e presencial. É importante também avaliar o histórico de preço do item. Desconfie de porcentagens muito altas de desconto, especialmente ao adquirir itens com alto valor agregado, como geladeira, fogão, carro ou equipamentos eletrônicos.

Para evitar compras por impulso, defina suas prioridades e coloque tudo no papel, para fugir de aquisições feitas pela emoção ou pela pressão. É melhor respirar e avaliar se realmente é necessário adquirir aquele item.

 

O 13º salário deve ser usado para gastar ou para quitar dívidas?

O primeiro passo é quitar dívidas, especialmente as mais caras, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos com juros altos. À medida que você quita, sente um alívio nas saídas da renda e pode formar uma reserva para o início do ano seguinte.

Janeiro concentra uma série de gastos: IPVA, IPTU, material escolar, matrículas, entre outros. Depois disso, você pode reservar um percentual para curtir o momento festivo e se proporcionar lazer. O 13º é uma excelente oportunidade para organizar a vida financeira.

 

Quais as orientações para quem vai às compras de fim de ano, mas não quer comprometer o orçamento de 2026?

Primeiro, defina um valor máximo total que você vai gastar: R$ 150, R$ 350, R$ 780, R$ 1.200. Com o teto definido, pague à vista; e, se o item for muito caro, pode parcelar, lembrando que isso impactará janeiro.

Evite ir às compras de última hora, pois os preços costumam estar mais altos devido à escassez no mercado. Evite ultrapassar 20% do orçamento com despesas de fim de ano e, evidentemente, priorize presentes simples, simbólicos ou combinados em grupo. Isso reduz bastante os gastos.

E não compre nada no “eu mereço” ou “eu realmente vou”, pois isso é emocional. Compre com base no seu orçamento real.

 

Para quem já está endividado, o que fazer neste período de tantas “tentações” de compras?

A sugestão é evitar shoppings, centros comerciais e sites, para ficar longe dessa exposição intensa a ofertas de bens e serviços,  onde a decisão impulsiva pode aparecer. Faça uma lista definindo o que pretende comprar e até quanto vai gastar, e evite utilizar crédito.

É importante lembrar que janeiro está aí, iniciando um novo ciclo financeiro. Se possível, renegocie suas dívidas, pois é um período em que empresas costumam oferecer boas condições de negociação. O foco é: renegociar e quitar.

Também faça um planejamento para o ano seguinte, definindo o que você precisa de infraestrutura básica, um computador novo, um curso, uma faculdade, preparação para concurso, e veja como esse dinheiro pode ser melhor empregado.

De forma geral, é importante ter conhecimento da sua realidade financeira. Use um caderninho, aplicativo ou planilha para registrar tudo e acompanhar a movimentação. Crie um cronograma com as datas de pagamento: água no dia 5, energia no dia 15, internet no dia 30. Se puder reunir as contas em uma única data, melhora ainda mais o controle.

Faça o registro e reflita sobre quanto está gastando com lazer, combustível e presentes. Depois, reflita também sobre quanto investe em formação e perspectivas de aumento de renda. Os números, quando interpretados, trazem um direcionamento mais assertivo para decisões de como gastar melhor sua renda.