Na infância, Edjane da Silva ia para a escola apenas para ter o que comer. Hoje, neste mesmo espaço, ela é uma das merendeiras que prepara a alimentação dos alunos. Sua história emocionante de superação foi contada durante a etapa final da 7ª edição do Concurso de Merendeiras, onde ficou em segundo lugar com a receita de risoto dourado com estrogonofe ao molho de biomassa, um dos seus pratos criados e apresentados.

 

“Hoje, vejo que aquele sonho de menina que ia pra escola só pra comer virou a minha missão: preparar com amor a merenda das nossas crianças e mostrar que é possível transformar realidades por meio da alimentação escolar”, conta emocionada.

 

 

De aluna que ia à escola pra comer a merendeira premiada! Edjane da Silva conquistou o 2º lugar com seu risoto dourado com estrogonofe ao molho de biomassa. Foto: Julio Vasconcelos

Ao decidir participar do Concurso, Edjane preparou sua receita para os alunos da escola que foram os primeiros jurados. “Elaborei esse prato pensando especialmente nas crianças. Meu desejo era que ele entrasse no cardápio escolar como uma opção nutritiva e gostosa. Os meus alunos aprovaram e isso pra mim não tem preço”, compartilha.

 

Apesar de não ter conquistado o primeiro lugar, a medalha de prata teve um sabor especial. “Hoje, estar de volta àquela escola, mas agora cozinhando para as crianças, é uma realização. O resultado foi ótimo, principalmente porque o prato foi inserido oficialmente no cardápio escolar das escolas de Limoeiro de Anadia. É impossível não se emocionar. Lembro da infância difícil e sinto uma gratidão imensa a Deus por ter chegado até aqui. Cada lágrima é de alegria e de reconhecimento pelo meu trabalho”, pontua Edjane.

 

Merendeiras premiadas

 

Ao todo, nove merendeiras participaram da etapa estadual do Concurso, onde as três melhores receitas foram premiadas com os seguintes valores: R$5.000 (1º lugar), R$3.000 (2º lugar) e R$2.500 (3º lugar). A nutricionista que acompanhou a merendeira vencedora também recebeu o prêmio de R$5.000.

 

A grande vencedora foi Andréa Maria, do município de Girau do Ponciano, com o prato macarrão de macaxeira com almôndegas de carne de bode. “A ideia do prato é minha, porque sou intolerante tanto a glúten quanto a lactose. Como gosto muito de massas, criei essa receita. Ralamos a macaxeira, colocamos ovos e fécula de mandioca e o resultado é uma massa maravilhosa. Durante as oficinas práticas com o instrutor do Sebrae e a nutricionista do município, chegamos à ideia da almôndega de carne de bode recheada com queijo, que completa o prato”, explicou Andréa.

 

A vitória teve um gosto ainda mais especial, pois na edição anterior ela havia conquistado o terceiro lugar, com a receita moqueca de tilápia com farofa de amendoim. “Do ano passado pra cá, fomos evoluindo e melhorando em tudo, com as dicas dos profissionais que nos ajudaram no processo. Receber esse prêmio hoje significa muito pra mim, e tenho certeza de que vou participar das próximas edições”, celebrou.

 

 

O primeiro lugar ficou com Andréa Maria, de Girau do Ponciano, e seu macarrão de macaxeira com almôndegas de bode. Foto: Julio Vasconcelos

O segundo lugar ficou com o risoto dourado com estrogonofe ao molho de biomassa, de Edjane da Silva, de Limoeiro de Anadia. Já a medalha de bronze foi conquistada por Janaína Venâncio, do município de Atalaia, com o prato pirão de macaxeira ralada com chambaril.

 

“Agradeço a esse projeto maravilhoso que vem exaltar e valorizar as merendeiras do nosso estado. Sabemos que o Programa Nacional de Alimentação Escolar é o único que consegue atingir praticamente 100% dos alunos. E, em muitas escolas, é a única refeição do dia. É muito satisfatório ouvir um aluno dizer: ‘Tia Jana, a merenda da senhora é maravilhosa’. Além de tudo, esse trabalho valoriza o agricultor familiar que muitas vezes é o pai daquele aluno. Só temos a agradecer”, destacou Janaína.

 

A novidade desta edição foi a Categoria Doce, que também premiou sobremesas. A vencedora foi Marciana Rosa, de Campo Alegre, com o bolo de coco com geleia de casca de fruta, uma receita sem adição de açúcar que surpreendeu os jurados pela leveza e sabor.

 

-

 

7ª edição do Concurso de Merendeiras

 

A etapa estadual reuniu as finalistas das duas etapas regionais, uma realizada em Maceió e outra em Arapiraca. No sábado, as competidoras reproduziram as receitas inscritas e foram avaliadas por três juradas: Nide Lins, Tina Purcel e Raquel Xavier, representantes das instituições organizadoras — Sebrae Alagoas, Senac e Senar.

 

Os pratos foram avaliados com base em critérios como sabor, criatividade, aparência, textura e uso de produtos da agricultura familiar. Entre as demais receitas apresentadas estiveram:

 

Torta de frango com batata-doce, de Francisca Andrade de Lima (Piranhas);

Carne ensopada com entrecasca de melancia, de Amara Maria da Silva (Delmiro Gouveia);

Lombo suíno ao molho de maracujá com arroz, farofa e vinagrete de manga, de Rosilda Lourenço (Rio Largo);

Barca de banana-da-terra, de Sandra Nunes (Coruripe);

Repolho recheado com carne moída e creme de milho, de Ortência dos Santos.

 

 

Nove merendeiras, nove histórias de dedicação e amor pela alimentação escolar. Finalistas que mostraram o poder transformador da cozinha nas escolas de Alagoas. Foto: Julio Vasconcelos

Criado em 2019, o Concurso de Merendeiras é uma iniciativa em parceria com o Senac e o Senar, com o objetivo de valorizar a alimentação escolar e incentivar o uso de produtos da agricultura familiar, além de reconhecer o trabalho das profissionais que atuam nas cozinhas das escolas públicas.

 

A edição de 2025 começou em abril, com uma chamada pública voltada aos municípios alagoanos. Vinte e um municípios cumpriram os critérios estabelecidos e avançaram para as etapas seguintes, que incluíram capacitações promovidas pelo Sebrae para aprimorar as receitas e fortalecer o vínculo entre escolas e produtores locais.

 

“O Concurso nasce como uma estratégia para mobilizar os municípios em torno das compras públicas da agricultura familiar, fortalecendo o que o PNAE já propõe: garantir alimentação saudável nas escolas e gerar desenvolvimento local. Quando a merendeira transforma um produto da agricultura familiar em um prato saboroso, ela dá visibilidade a quem produz e mostra o poder que a alimentação tem de transformar territórios. O concurso valoriza quem planta, quem cozinha e quem aprende”, destacou Íria Almeida, gerente da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae Alagoas.