O sábado (1), segundo dia da Bienal Internacional do Livro de Alagoas, marcou o lançamento do livro Leitora, leitor… Indignai-vos!!! Entre o fato e a mídia: o avesso do discurso da Braskem na série entenda, escrito por Zoroastro Neto, com fotografias de Brunna Vasconcelos. O lançamento contou ainda com uma mesa redonda composta pelo engenheiro, geólogo e professor Abel Galindo; e pela psicóloga e pesquisadora Maria Nayara Campos para debater o conteúdo do livro, ocorrida na Sala Pitanga do Centro de Convenções de Maceió.
Para iniciar os trabalhos, a cantora Natalinha Marinho fez um pocket show, onde além de sucessos da MBP e canções autorais, recepcionou o público que lotou o espaço. Já no início da roda de conversa, o professor Galindo fez um panorama histórico desde o Acorda Maceió, nome simbólico do tremor de 2.4 na escala Richter que trouxe à tona os problemas oriundos da mineração de sal-gema, levando em consideração que o ele foi o primeiro engenheiro da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) a mostrar, ainda na década de 1980, que havia algo a ser estudado no modelo de extração do minério à época, já prevendo os impactos negativos do modo que era realizado o processo.
Segundo Galindo, o mapeamento feito pela Defesa Civil não contemplou nem metade da quantidade de pessoas atingidas. “Pegando da Fernandes Lima você tem centenas de imóveis rachados e isso a olho nu, que ficaram de fora da área atingida diretamente, segundo a Defesa Civil, e quando você faz as contas as cerca de 60 mil pessoas que foram incluídas neste mapeamento estão fora da realidade”, contou o professor.
Ele continua dizendo que são cerca de 220 mil pessoas, como ele mesmo aponta em seu livro Tragédia - Crime ambiental da mineração de sal-gema em Maceió, mais de 20% da população de Maceió, ou seja, 160 mil pessoas ainda precisam ser inseridas nesse mapa e serem minimamente indenizadas.
Por outro lado, a psicóloga e pesquisadora, Maria Nayara Campos, que trabalha a psicologia social, trouxe também um panorama histórico, mas do ponto de vista social e da psicologia, de como a mudança de moradia forçada e quebra de laços comunitários levou ao adoecimento da população dos cinco bairros afetados (Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Bebedouro e parte do Farol).
“Eu trabalho com psicologia social e venho, então, estudando gerenciamento de desastres há um bom tempo. É interessante que as pessoas falam em indenização, porque na verdade não houve indenização, né? Porque não há ali um crime de fato sendo reconhecido, o nome que deram a esse processo é de compensação financeira”, contou Nayara.
Nayara seguiu afirmando que "o valor financeiro não equivale a reparação de danos patrimoniais e nem extra patrimônio, e aí, quando eu falo de extra patrimônio, eu tô falando de saúde mental, por exemplo, né? Saúde mental, lazer, cultura, os laços... Aquela vizinha que dava o café, aquela vizinha que cuidava das crianças quando a gente saía e que fazia parte das rodas de conversa na calçada de casa”, disse a psicóloga.
Após as falas iniciais, o “protagonista da festa”, Zoroastro Neto, deu como oficial o lançamento do livro ao fazer um panorama geral sobre sua obra. O livro é fruto de sua tese de doutorado, de uma pesquisa realizada durante os quatro anos em que esteve na UFAL, no programa de pós-graduação de letras e literatura, sobre o discurso da Braskem em três informes publicitários veiculados entre 2020 e 2021, mostrando uma realidade construída por ela. A obra vem justamente para afirmar que a narrativa construída pela Braskem não é verídica, e que existe uma real camuflada pelos informes.
“Coralina de Jesus diz que a ‘vida é um livro’, e nós estamos diante da maior tragédia sociourbana em curso do mundo e trazer esse tema à Bienal é justamente mostrar à sociedade que esse discurso (da Braskem) é uma falácia, é um mascaramento que maltrata e maltratou várias famílias. Também é um diálogo de ancestralidade, de cultura, de memória, de religiosidade e, sobretudo, um discurso sobre o que estamos passando aqui em Maceió”, finaliza o autor.
Caso Braskem
O processo de afundamento de cinco bairros da capital alagoana, oriundos da extração desenfreada de sal-gema desde a década de 1970, resultou na maior tragédia socioambiental em curso dessa natureza em todo mundo. Em 2018, tremores de terra resultaram em diversas crateras nas ruas e rachaduras em casas e imóveis do bairro Pinheiro, evidenciando a ligação da Braskem com o episódio.
Contudo, os bairros do Mutange, Bom Parto, Bebedouro e parte do Farol também foram atingidos posteriormente, tendo como consequência a retirada praticamente por completa dos moradores desses bairros a partir de 2019, transformando-os em completos bairros fantasmas, fato esse que desfraldou as ações maléficas da Braskem e tornou o caso ainda mais grave.
Debates e lançamentos
Para debater esse assunto, várias outras atividades ainda ocorrerão durante a 11ª Bienal 2025. Neste domingo (2), haverá o lançamento de outros livros sobre a temática que serão lançados no estande da Edufal (todos marcados para às 19h):
1. Além dos mapas de risco: (In)Justiça ambiental e insurgências nas bordas do desastre – Crime Braskem em Maceió, de Juliane Lima, Wendel Assis e Camila Prates;
2. O caso Braskem em Maceió/Al: territórios que afundam, memórias que resistem, de Juliana Alejandra de Melo;
3. Mobilidade invisível: migração forçada a partir de subsidência em Maceió-Al, de José Anderson Bomfim.
Além destes lançamentos, outras duas atividades abordarão o tema: a sessão de autógrafos do livro Lugares de Maceió na Memória (dia 2, 9h, estande do Cau/AL) e o relançamento do fotolivro Expulsão (dia 2, 13h, Praça de Autógrafos Dandara).
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas acontece de 31 de outubro a 9 de novembro, é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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