O CM Cast, podcast que analisa os bastidores da política local e nacional, lançou um novo episódio nesta quinta-feira (23).

Os jornalistas Carlos Melo, diretor do Grupo CadaMinuto, e Ricardo Mota analisam a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou no último dia 15, que o Congresso Nacional “nunca teve a qualidade de baixo nível que tem agora.”

“O Lula está numa fase de frases feitas, né? Voltou. As pesquisas estão colocando ele na frente, ele está se sentindo mais à vontade, com o microfone solto. O Eduardo Bolsonaro é o camisa 10 dele, segundo o próprio Lula. É impressionante aquilo ali”, disse Melo.

Ricardo Mota destacou que, historicamente, Alagoas já teve parlamentares de grande relevância nacional, e questionou qual tem sido a atual “contribuição” do estado para esse cenário de decadência.

“Nem vou falar de Teotônio Vilela, que é uma figura historicamente superior. Quando Teotônio falava, todo mundo parava para ouvir. Tivemos também Zé Costa, um grandíssimo orador, e Djalma Falcão — que foi prefeito de Maceió e um tribuno corajoso”, lembrou.

O jornalista citou ainda nomes como Mendonça Neto, Antônio Saturnino e José Thomaz Nonô, ressaltando que, à esquerda ou à direita, eram políticos com voto de opinião, respeitados por sua atuação.

“Todos tinham voto consciente, não apenas de reduto. Eram respeitados. Quando falavam, eram ouvidos”, observou. Segundo ele, figuras como Renan Calheiros também tiveram importância histórica, embora “tenham se deteriorado com o tempo”, acrescenta.

Mota afirma que hoje o cenário seria bem diferente. “Em Alagoas, quem tem voto de opinião para deputado federal são Fábio Costa e Alfredo Gaspar. Nada contra. Mas qual é a pauta do Fábio Costa? ‘Bandido bom é bandido morto’. Alfredo, que tem mais potencial, poderia contribuir mais em discussões como a CPI do NISS, mas prefere o papel de ‘xerifão’”, avaliou.

Durante a conversa, Melo e Mota concordaram que o diagnóstico de Lula sobre o “baixo nível” do Congresso reflete uma degradação mais ampla da política nacional. Para Melo, o problema não está apenas nos parlamentares, mas “no perfil do eleitor que os elege”.

Os jornalistas ressaltam que o voto deixou de ser um instrumento de reflexão coletiva e passou a ser movido por impulsos de redes sociais e discursos simplistas. “Enquanto o eleitor não entender o peso de um voto para deputado, vai continuar elegendo quem grita mais alto, e não quem pensa melhor”, afirmou.

O episódio também destacou a influência crescente do poder econômico no Congresso. Melo e Mota citaram o lobby das “bets” e das fintechs como exemplo de como o dinheiro dita a pauta legislativa, em detrimento do interesse público.

“Deixaram de taxar as bets para não desagradar o governo, mas quem paga o preço é o país”, criticou Melo, que ainda classificou as apostas como “pior que droga.”

Os apresentadores convergiram em um ponto, o pessimismo em relação ao futuro. Para Ricardo Mota, “o Congresso é o espelho da sociedade”, e, enquanto o eleitorado não exigir mais seriedade, continuará recebendo exatamente o que produz. Carlos Melo resumiu o sentimento com uma frase dura, mas precisa: “Nós criamos esse Congresso — e agora temos que aprender a conviver com ele.”

Os episódios do CM Cast vão ao ar às segundas e quintas-feiras, a partir das 12h.