Chegar à terceira idade é perceber que não há mais tempo para adiar decisões, porque chega a consciência da finitude, a morte passa a fazer parte do cotidiano. Isso é bom porque você ganha uma força extra pra agir e limpar os caminhos, porque internamente brota uma vontade louca de viver: com menos preocupação com a aparência, com menos necessidade de se adequar, com menos violências internas.
Chegar aos 60, especialmente sendo mulher, é perceber ser necessário encontrar um caminho que garanta uma renda extra para os anos seguintes, caminho esse que não pode ser o de trabalhar nas mesmas condições, nas mesmas atividades e do mesmo jeito que sempre se trabalhou. O corpo não aguenta, a mente não aguenta e a gente não quer mais, não suporta.
Chegar aos 60 é sentir a flacidez aparecer onde nunca esteve, é ver pelos e cabelos brancos crescerem numa rapidez inacreditável e em lugares inimagináveis.
Chegar aos 60 é despertar o interesse para coisas que antes não faziam o menor sentido, a menor diferença. É valorizar cenas simples, é descobrir novos hobbies e desejos, é amar de forma diferente, é descobrir que aquele modo de viver já não cabe mais.
Chegar aos 60 com (certa) saúde é poder sonhar com mais tempo pela frente, mesmo sendo um tempo de rugas, de memória falhando, de um tesão menos intenso, de um corpo cansado.
Chegar à terceira idade exige coragem, porque todos os dias somos convidadas a desistir.
Desistir da vitalidade, desistir de sair de casa, desistir de ter novas e diferentes experiências, desistir de ser bonita, gostosa, desistir de ter opinião, desistir de ocupar espaços. Porque todo dia tem quem tente lhe enquadrar numa caixa onde ninguém mais lhe enxerga. Esse enquadramento rumo à invisibilidade está em todos os lugares: na família, no trabalho, na rua, na sociedade. E dentro de nós.
Chegar aos 60 é buscar recursos internos, espirituais, para levantar da cama todo dia e não desistir. Eu preciso todos os dias pensar que não vou me entregar porque, todo santo dia, sinto o peso do tempo e do preconceito.
Envelhecer pode ser uma droga, ladeira abaixo sem freio, mas no meio dessa lama e da ladeira sem fim há pequenos e preciosos prazeres… para quem resiste, para quem manda à merda, pra quem enfrenta, para quem tem sede de viver.
*É jornalista, é aposentada, é empregada pública, é uma enxerida e curiosa, uma eterna danadinha prestes a entrar nos 6.1