Nos últimos dias, divulgação de casos suspeitos de intoxicação por metanol em Alagoas provocou preocupação e uma sequência de informações contraditórias envolvendo órgãos de saúde e entidades do setor gastronômico. Apesar da repercussão, até o momento nenhum caso foi confirmado oficialmente pelas autoridades sanitárias e o estado já recebeu o 1º lote de antídoto contra o metanol.

O primeiro registro de um suposto caso de intoxicação no estado foi divulgado na segunda-feira (6). Informações sobre uma possível vítima de intoxicação após ingerir bebida alcoólica supostamente adulterada teria ocorrido em Estrela de Alagoas, o Agreste alagoano. Um jovem de 22 anos deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento de Palmeira dos Índios, com suspeita de bronquite asmática e logo foi transferido para a UTI do Hospital Regional Santa Rita.

A Prefeitura de Palmeira dos Índios divulgou a informação e afirmou que as autoridades de Saúde de Estrela de Alagoas teriam sido acionadas.

“A Secretaria de Saúde de Palmeira já iniciou uma operação de combate e controle à possíveis mercadorias contaminadas. Por ora, nenhum estabelecimento foi autuado ou mostrou possuir mercadoria de procedência duvidosa. Mesmo assim, a SMS e a Vigilância Sanitária pedem cautela e cuidado aos consumidores neste momento”, afirmou a Prefeitura por meio de nota divulgada no site oficial.

Nota divulgada pela Prefeitura de Palmeira dos Índios / Foto: Reprodução

 

Quase 20h depois de divulgar a internação do paciente por suposta intoxicação por metanol, a Prefeitura descartou, em nota, a hipótese da contaminação pela substância, depois de uma reunião com órgãos municipais. O Município afirmou que familiares relataram que o jovem em questão não havia ingerido nada alcoólico nos últimos dias e que tinha histórico de atendimento por sintomas semelhantes.

Leia a nota na íntegra:

A Prefeitura de Palmeira dos Índios, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, esclarece que não há registro de intoxicação por metanol no município.

De acordo com a secretária municipal de saúde, Zoé Duarte, o paciente, de 22 anos, deu entrada na unidade na tarde do domingo (5) com quadro de crise asmática e queixa de tosse. “Após atendimento e administração de medicação, o paciente apresentou piora no quadro respiratório, sendo necessária a intubação e posterior transferência para o Hospital Santa Rita”, informou a secretária.

Zoé ressaltou ainda que o jovem não havia ingerido bebida alcoólica e que já tinha histórico de atendimento por sintomas semelhantes, o que descarta qualquer relação com intoxicação por metanol, e destacou: “A Prefeitura reforçará as ações de vigilância e permanecerá em alerta permanente, em conjunto com os órgãos competentes, para assegurar a proteção e a segurança da população”, 

Caso registrado em Maceió é o primeiro oficialmente suspeito

Na quarta-feira, 08, um novo caso suspeito foi registrado em Maceió e foi divulgado oficialmente pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) como o 1º caso suspeito de intoxicação por metanol em Alagoas.

A vítima: uma mulher, de 43 anos, que teria ingerido uma bebida em um bar localizado na capital alagoana e estava internada em um hospital particular da cidade com sintomas compatíveis com os de intoxicação por metanol.

Em nota, a Sesau afirmou que amostras biológicas foram coletadas e enviadas para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), responsável por encaminhá-las para análise no Laboratório de Toxicologia da Polícia Científica de Alagoas. 

Veja a nota da Sesau

"A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informa que, nesta quarta-feira (8), foi notificada sobre um caso suspeito de intoxicação por metanol em Alagoas, relacionado ao consumo de bebidas alcoólicas destiladas. A paciente do sexo feminino tem 43 anos e está internada em um hospital particular de Maceió, cidade onde também reside.

As amostras biológicas serão coletadas e enviadas para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), que ficará responsável por encaminhá-las para análise no Laboratório de Toxicologia da Polícia Científica de Alagoas. 

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde segue em permanente monitoramento, visando esclarecer eventuais casos suspeitos e comunicá-los às autoridades competentes".

Bar interditado, apreensão de garrafas e desmentidos oficiais

Na quinta-feira (9), a Vigilância Sanitária de Maceió divulgou que havia interditado, provisoriamente, um bar localizado no bairro da Jatiúca, que poderia estar relacionado ao primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol em Alagoas.

O órgão afirmou que a mulher de 43 anos era cliente do estabelecimento e foi internada em um hospital particular de Maceió, após consumir uma caipirinha no local. 

Por meio de sua assessoria de Comunicação, a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió (SMS) confirmou que a fiscalização no referido bar, cujo nome não foi divulgado, teria ocorrido após o recebimento de uma denúncia anônima e que, na inspeção, foram apreendidos três litros de cachaça e colhidas amostras da bebida para análise no Laboratório Central de Alagoas (Lacen).

Em nota enviada à imprensa, a SMS informou que a paciente estava internada em estado estável e que aguardava os resultados de exames médicos para confirmação do quadro clínico.

Confira a nota divulgada pela SMS, na ocasião:

A Secretaria Municipal de Saúde de Maceió (SMS) informa que, nesta quinta-feira (09), uma equipe da Vigilância Sanitária (Visa) realizou uma ação de fiscalização em um estabelecimento localizado no bairro da Jatiúca, após o recebimento de uma denúncia anônima. 

Durante a inspeção, foram apreendidos três litros de cachaça e o local foi interditado de forma provisória. Amostras da bebida foram recolhidas e encaminhadas para análise no Laboratório Central de Alagoas (Lacen). Após a conclusão da análise, as medidas cabíveis serão adotadas.

A denúncia aponta que uma consumidora apresentou sintomas de possível intoxicação por metanol após ingerir uma caipirinha no local. A paciente está internada em estado estável em um hospital da rede privada e também aguarda os resultados de exames médicos que possam confirmar a causa do quadro clínico.

Horas depois da situação divulgada pelos órgãos municipais, a Abrasel/AL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Alagoas informou que nenhum bar ou restaurante teria sido interditado em Maceió em razão das recentes suspeitas de intoxicação por metanol. O órgão desmentiu a informação divulgada pela SMS e “informações divulgadas sobre possíveis suspensões de funcionamento de estabelecimentos não correspondem à realidade e devem ser corrigidas”.

“Não existe hoje na cidade de Maceió, nenhum bar ou restaurante interditado devido às fiscalizações por conta das suspeitas de intoxicação por metanol em bebidas. Essa informação não procede. Certamente foi um erro de comunicação”, disse, ao CadaMinuto, o presidente da Abrasel, Marcus Batalha. 

Após as declarações da Abrasel, a SMS, que havia divulgado nota informando sobre a interdição de um bar envolvido no caso, recuou e desmentiu a própria nota divulgada anteriormente. A instituição disse que a informação “não procedia” e que garrafas de bebidas foram apreendidas “de forma cautelar”.

Leia, respectivamente, a notas das instituições: 

Nota da Abrasel

“A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Alagoas (Abrasel/AL) informa que, em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió e com a Vigilância Sanitária do município, não há atualmente nenhum bar ou restaurante interditado na cidade em razão das recentes suspeitas de intoxicação por metanol.

A informação divulgada sobre eventuais interdições não procede e trata-se, certamente, de um equívoco de comunicação que deve ser corrigido e ajustado à realidade dos fatos.

Aproveitamos para parabenizar o trabalho da Vigilância Sanitária de Maceió e da Secretaria Municipal de Saúde, que vêm realizando ações de fiscalização com responsabilidade e compromisso, garantindo mais segurança e tranquilidade aos consumidores e ao setor de alimentação fora do lar.

Reforçamos que não existe, neste momento, nenhum estabelecimento interditado em Maceió em decorrência dessas inspeções.

Marcus Batalha

Presidente da Abrasel/AL"

Nota da SMS

Nota de esclarecimento

“A Secretaria Municipal de Saúde de Maceió (SMS) informa que não procede a informação divulgada nesta quinta-feira (09) sobre a suposta interdição de um bar no bairro da Jatiúca pela Vigilância Sanitária, por suspeita de comercialização de bebidas adulteradas com metanol.

Durante a ação, a equipe da Vigilância apreendeu, de forma cautelar, três garrafas de cachaça para análise laboratorial. O material foi encaminhado ao Laboratório Central de Alagoas (Lacen), onde passará por exames técnicos.

A SMS reforça que, até o momento, não há confirmação de adulteração nas bebidas e que qualquer medida adicional será adotada com base nos resultados emitidos pelo Lacen”.

Alagoas recebe antídoto contra o metanol / Foto: Sesau/AL

 

Alagoas recebe doses de antídoto contra o metanol

Apesar da falta de confirmação de casos, o Governo de Alagoas recebeu, nesta sexta-feira (10), 84 unidades de antídotos destinados ao tratamento de intoxicações por metanol. Foram 24 doses de Fomepizol e 60 de Etanol, que, conforme divulgado pela Sesau, ficarão armazenados para atender os casos que vierem a surgir.

Ainda segundo a Sesau, as doses foram enviadas pelo Ministério da Saúde (MS). O órgão enviou antídotos para todos os estados, que poderão demandar novas remessas conforme a necessidade, surgimento ou alta de casos. 

Situação de casos no Brasil

Até a noite desta sexta-feira (10), foram confirmados 29 casos de intoxicação por metanol, em decorrência de ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas, no Brasil. Cinco casos a mais do que na última quarta (8). 

Dos 29 casos confirmados, 25 foram registrados em São Paulo, três no Paraná e um no Rio Grande do Sul. Ao todo, há 217 notificações em investigação, um número menor do que no último balanço (quando havia 235 suspeitas). 

Até o momento, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul são os únicos estados com casos confirmados por esse tipo de intoxicação.

Em relação aos casos suspeitos, São Paulo investiga160 notificações, o que representa 73,73% do total. Em seguida, aparecem Pernambuco com 31 suspeitas, Rio Grande do Sul (4), Mato Grosso do Sul (4), Piauí (4), Rio de Janeiro (3), Espírito Santo (3), Goiás (2), Alagoas (1), Bahia (1), Ceará (1), Minas Gerais (1), Rio Grande do Norte (1) e Rondônia (1). 

O Ministério da Saúde há no país cinco óbitos confirmados, todas as vítimas morreram em São Paulo. No entanto, 12 óbitos estão sob investigação (um caso a mais do que na última quarta. Há mortes em investigação no Ceará (1), em Minas Gerais (1), no Mato Grosso do Sul (1), em Pernambuco (3) e em São Paulo (6).

Sintomas e cuidados

O metanol é uma substância altamente tóxica que pode estar presente em bebidas alcoólicas fabricadas ou adulteradas de forma irregular. A ingestão, mesmo em pequenas quantidades, pode causar dores de cabeça, náuseas, vômitos, tontura, falta de coordenação motora e visão turva. Em casos graves, leva à cegueira, falência renal e até a morte.

Especialistas orientam que, ao surgirem sintomas após o consumo de bebida alcoólica suspeita, a pessoa deve procurar imediatamente atendimento médico e, se possível, levar a embalagem ou amostra da bebida para análise laboratorial.

Além disso, é importante comprar bebidas apenas em locais regularizados, verificar lacres e rótulos originais, e desconfiar de preços muito abaixo do mercado.