Evento reuniu representantes dos setores público e privado para debater os desafios da inteligência artificial no Brasil

A transformação digital promovida pelo projeto “Integrando o Governo e Aproximando o Cidadão”, criado pela X-Via, foi apresentada pelo presidente da empresa, Roberto Florentino Junior, durante o 3º Brasília Summit, realizado nesta terça-feira (30), no Brasília Palace Hotel. O evento, promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), reuniu empresários, pesquisadores, autoridades e magistrados para debater os desafios e oportunidades dos avanços tecnológicos em Inteligência Artificial (IA) nas diversas esferas da sociedade.

Durante sua palestra, Florentino destacou que o projeto nasceu com a proposta de ser uma espécie de “Poupatempo digital”, permitindo que o cidadão tenha acesso a diferentes serviços do governo via aplicativo, sem precisar sair de casa. “A inteligência artificial nos permite conversar com os dados e transformar a experiência do cidadão, garantindo disponibilidade, segurança e personalização dos serviços públicos”, afirmou.

Roberto Florentino esteve no Brasília Summit acompanhado do diretor executivo de Gestão Estratégica da X-Via, Hugo Leahy, e da secretária da Fazenda de Alagoas, Renata dos Santos. O estado é um dos primeiros a adotar o sistema de governo digital desenvolvido pela empresa, voltado à otimização da gestão pública. A construção de um framework estruturado para a aplicação da inteligência artificial (IA) no setor público é um dos principais desafios do Brasil, avaliou o presidente da X-Via. “Segundo o MIT, 95% das empresas do mundo que aplicaram inteligência artificial tiveram ganhos pouco relevantes. Apenas 5% alcançaram saltos extraordinários justamente por planejar com um framework. Essa etapa no Brasil está sendo iniciada agora em Alagoas”, comentou.

Florentino ressaltou que a integração de serviços digitais exige mais do que tecnologia: depende de superar entraves culturais, regulatórios e estruturais. Ele citou como exemplo a resistência de órgãos públicos em compartilhar dados, mesmo quando a informação pertence ao próprio cidadão. “Quando pedíamos informações à Fazenda para integrar ao aplicativo, a resposta era: ‘Não vou ceder meus dados’. Mas, na prática, esses dados já pertencem ao cidadão. O desafio é cultural e envolve confiança na segurança do sistema”, observou.

Outro obstáculo, relatou, está na fragmentação dos sistemas e nos dados desestruturados. “Os hospitais, por exemplo, possuem vários data centers com informações que não se conversam. A solução passa por organizar esses dados e usar IA para gerar resultados práticos ao cidadão”, explicou. Ele reforçou que experiências internacionais, como as da Estônia, demonstram que a digitalização exige visão integrada e segurança como princípios básicos.

Para Florentino, o maior ganho da inteligência artificial aplicada ao setor público será a capacidade de criar perfis de cidadãos e oferecer serviços personalizados e antecipados, reduzindo custos e aumentando a eficiência. “Hoje, o Brasil gasta R$ 174 bilhões por ano só para provar que cada pessoa é quem diz ser. Se tivermos perfis integrados, o gestor público pode se antecipar às necessidades do cidadão e entregar serviços de forma muito mais eficiente”, concluiu.

IA no Judiciário

Considerado um dos principais eventos da capital federal, o Brasília Summit se volta à discussão dos temas que têm dominado o debate público e o mundo dos negócios. A edição deste ano contou com presenças como a do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que analisou as discussões em curso sobre regulação e uso de inteligência artificial.

Ele reforçou que há uma revolução em curso, mas que precisa ser acompanhada da inteligência humana e de investimentos em pesquisas consistentes. “É preciso regular, sem cercear a pesquisa e o conhecimento, para não atrasar potencialidades. Não se deve temer o progresso, mas não devemos entregar a alma da condição humana a divindades não humanas. Apesar de todas as modernidades que vivemos, os valores da vida ética continuam a ser os mesmos: a justiça, a verdade possível num mundo plural e a dignidade de todas as pessoas”, disse.

Ao lado de Barroso, também esteve presente o ministro Flávio Dino, do STF , que reforçou as palavras do magistrado. “A tecnologia não se trata de ser contra ou a favor, ela já faz parte da nossa vida. O que devemos temer são modelos abusivos de modo geral. Precisaremos sempre de um ambiente que estimule inovações”, completou. As aplicações da IA na saúde também estiveram em debate, com a participação da cardiologista da Rede D’Or, Ludhmila Hajjar.

Congresso

Deputados e senadores presentes ao 3º Brasília Summit apresentaram um panorama atualizado dos debates em curso no Congresso sobre regulação da IA. Marcaram presença nomes como o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PI), relator do projeto de lei que estabelece um marco regulatório para a inteligência artificial (PL 2338/2023); a deputada Luísa Canziani (PSD-PR), presidente da Comissão Especial sobre Inteligência Artificial; e o vice-presidente do Senado, Eduardo Gomes (PL-TO).

“A IA sempre vai depender da genialidade, da oportunidade e da realidade para que ela faça parte da nossa vida. Portanto, investimentos em legislação são necessários. Temos uma política eficiente de proteção de dados no nosso país e assim será com a inteligência artificial”, falou Eduardo Gomes.

Os parlamentares ainda destacaram que a proposta busca equilibrar inovação e segurança, criando regras claras para o setor sem inibir avanços tecnológicos. A expectativa é de que o texto seja apreciado ainda este ano.