Setembro traz, não só a chegada da primavera e o aumento das temperaturas, mas a desculpa perfeita para se deliciar com um bom sorvete. No Brasil, o produto é quase uma unanimidade na hora que bate a vontade de se refrescar e adoçar o paladar na sobremesa, lanche ou durante um passeio. Impulsionado pelos hábitos de consumo e pela valorização de produtos artesanais e inovadores, o mercado de sorvete segue em expansão desde o fim da pandemia.
Mais de 85% dos brasileiros saboreiam sorvetes e, entre eles, a média de consumo é de 9,1 litros por ano, de acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvetes). O setor reúne aproximadamente 11 mil empresas no país, emprega mais de 31 mil pessoas e tem um faturamento anual em torno de R$14 bilhões. A previsão é de que, até 2028, esse faturamento alcance os R$20 bilhões, em um crescimento projetado de 21%.
A progressão dos números tem como principal fator a inovação. Embora os sorvetes e picolés de sabores tradicionais como chocolate ou morango tenham espaço cativo no coração dos brasileiros, combinações diferentes e opções fit, com redução de açúcar e gordura, tem ganhado a preferência dos consumidores.
E Alagoas não fica de fora da tendência. Sorveterias artesanais como a SorveShow, que nasceu em Piaçabuçu, e a Belo Monte, que começou no interior de São Paulo e atualmente está estabelecido em Maceió, mostram como a paixão pela sobremesa gelada, a criatividade e a superação podem transformar negócios locais em referências regionais.
Ivanildo tinha apenas uma batedeira de bolo e um sonho
Se você já se deliciou com algum sorvete Belo Monte, em Maceió, com certeza agora suas papilas gustativas estão relembrando o sabor. Seja na própria sorveteria, no bairro Santa Lúcia, ou como parte de alguma sobremesa em bons restaurantes da Capital, se o sorvete une a cremosidade e o sabor natural de frutas, como laranja, cajá, limão, abacaxi com hortelã, entre outras; provavelmente foi desenvolvido pelas mãos talentosas do empreendedor Ivanildo Lima.
Quem sente a doçura e a acidez na medida certa dos sabores desenvolvidos por Ivanildo não imagina a trajetória de resiliência e superação que ele percorreu até aqui. Aficionado pela sobremesa gelada, foi a insatisfação com o sabor artificial de um sorvete que foi convidado a experimentar, quando morava em São Paulo, que o levou a trilhar o caminho para se tornar sorveteiro.
O sorvete ruim fez ele lembrar de um tio, que fazia sorvetes caseiros. Desafiou-se a si mesmo e usando uma batedeira de bolo, preparou sua primeira receita e fez questão de convidar a mesma pessoa que lhe havia oferecido a sobremesa gelada antes para mostrar o que era sorvete de verdade. A receita deu tão certo e fez tanto sucesso que ele logo decidiu empreender no setor, conciliando com o trabalho em uma empresa. Fez um curso de sorveteiro e pouco depois começou a produzir e a vender potes de um litro de sorvete e picolés artesanais, com a ajuda da cunhada, Laudenice, que foi a primeira cliente e divulgadora.
A sorveteria ganhou o primeiro nome em 2012, quando Ivanildo foi desligado da empresa e passou a se dedicar totalmente à produção de sorvetes, ainda em São Paulo. Os sorvetes e picolés “Eita” foram um sucesso, tanto que após passar um período como ambulante na frente da empresa onde trabalhava antes, chegou a abrir uma sorveteria própria, mas o inverno rigoroso, que afetava o crescimento do negócio, e a vontade de voltar para Alagoas, falaram mais alto.
Pouco depois, ele abriu a “Sorvelim”, no bairro Pinheiro, em Maceió. Mas o início não foi fácil e Ivanildo pensou em fechar as portas. Graças à persistência e determinação da esposa dele, Maria, a sorveteria resistiu. “Mas os desafios não pararam por aí. Na época, a concorrência trabalhava com preços muito baixos e precisamos nos adaptar. Foi então que um cliente sugeriu mudar o nome da sorveteria para algo mais forte, e assim nasceu a SorveArt”, conta o empreendedor.
Dificuldades enfrentadas com resiliência
Algum tempo depois, a sorveteria foi selecionada em um projeto acadêmico de criação de marca por um professor universitário e os alunos propuseram uma nova mudança de nome: “Belo Monte”, em referência à cidade natal de Ivanildo, como estratégia para posicionar a marca como produto premium artesanal.
Com a nova marca, novos horizontes e mercados se abriram, e a sorveteria estava em crescimento quando veio a pandemia, reduzindo sensivelmente as vendas. Pouco depois, a crise provocada pela exploração do sal gema comprometeu a estrutura do bairro e Ivanildo, assim como muitos comerciantes da região, precisou abandonar tudo que havia construído com a família e recomeçar em um novo bairro.
E o local escolhido foi a Santa Lúcia, onde a sorveteria Belo Monte continua sua trajetória de sucesso, que já chegou a ser noticiada até mesmo no Globo Rural, quando dividiu sua receita do sorvete de abacaxi com hortelã, sem corantes nem conservantes.
“Hoje, a Belo Monte é mais do que uma sorveteria. É a prova de que com determinação, paixão, resiliência e o apoio da família e de parceiros como o Sebrae, é possível transformar os desafios em conquistas e oferecer aos clientes, não só sorvetes artesanais de qualidade, mas também uma história de superação”, afirma Ivanildo.

Sorveteria Belo Monte aposta em frutas naturais e traz na resiliência a marca da sua história.
Combinações inusitadas tornam SorveShow inesquecível
A SorveShow, de Piaçabuçu, tem um objetivo claro: tornar seus sorvetes inesquecíveis. E com os sabores exóticos que oferece, como cerveja, rapadura, cambuí e, até, queijo parmesão com carne seca, são realmente difíceis de esquecer.
Matheus Silva Santos está à frente da sorveteria fundada pelo pai, em 2016. Além dos sorvetes de massa tradicionais, oferece também milk shakes, açaí e taças, que combinam sorvetes e outras guloseimas. O sucesso da primeira unidade em Piaçabuçu, levou a abertura de outras duas unidades: a SorveShow Beach, localizada em um ponto estratégico para quem está de passagem pela cidade de Piaçabuçú em direção a Penedo, Maceió ou às praias do Litoral Sul, e a terceira unidade no município de Penedo.
Com mais de 25 sabores entre os tradicionais e os exóticos, a sorveteria vendeu nada menos que 20 mil litros de sorvete em 2024, uma média de 166 baldes de dez litros de sorvete divididos entre as três unidades todos os meses.
Para manter a clientela fiel e atrair novos públicos, aposta tanto em sabores consolidados, como creme de ninho, mousse de maracujá, doce de leite com caramelo salgado e deus grego, que combina sorvete de nata com morangos e calda de chocolate trufado; junto com os exóticos, como o exclusivo sorvete de cambuí, uma fruta extremamente rara, que em Alagoas aparece apenas na região e em um curto período do ano, além de sabores sazonais, como panetone, na época de Natal, e de pamonha e milho verde no período junino.
Pão com mortadela e queijo com carne do sol no cardápio da sorveteria
Com a variedade, busca atingir o público que sequer pensa no sorvete como primeira alternativa de sobremesa. Como o sabor de rapadura, uma homenagem às raízes nordestinas, ou os sabores alcoólicos como cerveja e caipirinha. Para atiçar o desejo dos clientes, também cria sorvetes em edições limitadas, como o sabor exclusivo que foi criado para o Festival Sabor de Jazz de Penedo, de pão na chapa com mortadela.
“Esses sorvetes diferentes são os que mais engajam, porque gera curiosidade e facilita o marketing boca a boca. O sorvete que criamos para o Sabor de Jazz foi uma inspiração do que vi na Fispal, maior feira de inovação da indústria alimentícia da América do Sul. Lá tinha uma empresa que oferecia sorvete de pão com manteiga e outro de pão com mortadela. Então desenvolvemos um sorvete de pão com um toque amanteigado, como se fosse pão na chapa, e acrescentamos mortadela defumada desidratada”, conta Matheus.
O sorvete de queijo parmesão com carne seca foi outra combinação inusitada em um sorvete que deu certo; criado apenas como forma de teste, o sorvete fabricado a partir do sabor de queijo parmesão recebeu toque final com carne seca desidratada, criando um contraste crocante e salgado na sobremesa, que conquistou o público da região.
Os sabores diferentes é uma das estratégias para manter o movimento na sorveteria o ano todo, e para aqueles que acham que os meses mais frios não combinam com sobremesas geladas, a SorveShow traz opções diversas, como croissants, tortas mousse, waffles e até fondue.
“Da época que foi fundada para cá, a SorveShow está sempre em busca de novidades, sejam sabores novos ou formas diferentes de servir. Desde o começo, sempre servimos o cliente que vai consumir no local em uma taça, trazendo uma experiência diferente, que é muito valorizada. Nossos clientes têm um paladar mais apurado e preferem chegar à nossa sorveteria e encontrar um sabor novo ou uma taça especial a uma promoção nos preços”, explica Matheus.

SorveShow conquista clientes com combinações inusitadas que vão de rapadura a pão com mortadela.
Sebrae: parceiro que adoça resultados
Enquanto a Belo Monte tem a sua trajetória marcada pela resiliência, a SorveShow tem a ousadia como parte da sua história. Em comum, as duas sorveterias têm a inovação como princípio e o Sebrae como aliado fundamental para o sucesso no mercado. Ambas passaram por programas de capacitação e consultorias que trouxeram avanços desde a gestão financeira do negócios até melhorias nos processos de produção, como explica a analista Sidartha Reis, gestora da carteira de clientes da alimentação fora do lar do Sebrae Penedo, que atende o sorveteiro Matheus, de Piaçabuçu.
“O Sebrae tem atuado de forma estratégica para fortalecer o segmento de sorvetes, apoiando empreendedores na criação de produtos inovadores que acompanham tendências de consumo e ampliam a competitividade no mercado. Por meio de mentorias especializadas, o Sebrae auxilia empresas na gestão do negócio, no desenvolvimento de novos sabores, processos e modelos de atendimento, promovendo maior valor agregado. Essa atuação impulsiona a profissionalização, fomenta a inovação e contribui para a geração de novas oportunidades de crescimento sustentável para o setor”, declara Sidartha.
Para Ivanildo, da sorveteria Belo Monte, o Sebrae foi essencial para a superação das dificuldades e o progresso nos negócios. “Passamos por treinamentos que ajudaram na gestão, na criação de um manual de boas práticas além das tabelas nutricionais que deram ainda mais credibilidade e organização ao trabalho. A partir da parceria do Sebrae, passamos a ter mais segurança e aprendemos estratégias que ajudaram a tornar nossa sorveteria em uma referência na região”, afirma o empreendedor, que está em busca constante de atualização.
Já Matheus conta que o Sebrae estava presente na sua empresa em momentos chave, como a decisão da abertura da SorveShow Beach em Penedo e, além das capacitações, tornou possível a participação dele em eventos voltados para o segmento, como o Fispal, que deixou o empresário atualizado com as tendências de mercado e até serviu de inspiração para um dos sucessos.
Para conhecer outras histórias de sorveteiros de sucesso em Alagoas, como a do Ivanildo e do Matheus, acesse o nosso youtube, que AQUI TEM HISTÓRIA