O Setembro Amarelo demonstra como uma campanha de conscientização pode gerar impacto real, se destacando por ter evoluído de uma mobilização social para uma política pública e culminando na sanção de uma lei nacional (Lei nº 15.199, de 2025). Um aspecto fundamental dessa iniciativa é a capacidade de aprofundar o debate nas vulnerabilidades de grupos específicos, como a comunidade LGBTQIAPN+. Isso demonstra uma estratégia essencial ao reconhecer que a proteção da saúde mental requer ações específicas para diferentes populações.

Segundo a revista Pediatrics, 62,5% dos LGBTs já pensaram em suicídio e apresentam seis vezes mais chance de tentar tirar a própria vida. O risco aumenta em 20% quando vivem em ambientes hostis à sua orientação sexual ou identidade de gênero. Para João Victor Pessanha, psicólogo e docente do curso de Psicologia da UNINASSAU Arapiraca, a LGBTfobia funciona como um controle aversivo crônico. “Essas pessoas sofrem punições, como insultos, rejeição e violência, o que resulta em intensa dor emocional. Para lidar com isso, muitas recorrem à esquiva experiencial, isolando-se ou abusando de substâncias”.

De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 42% da população trans já tentou suicídio. O relatório Transexualidades e Saúde Pública no Brasil revelou que 85,7% dos homens trans já pensaram ou tentaram cometer o ato. “Esses são resultados diretos de uma realidade de violência e exclusão extremas. Nosso país, pelo 15º ano consecutivo, lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans. A ideação suicida elevada é, portanto, uma resposta a um contexto de desumanização sistemática”, explica o professor.

Se a discriminação funciona como um veneno, o acolhimento da rede de apoio, família, amigos e comunidade, é o antídoto. Enquanto o controle aversivo pune e enfraquece, o apoio social oferece reforço positivo. “Interações como validação, aceitação, elogio e afeto fortalecem o bem-estar e a resiliência. A aceitação da família tem papel central na saúde mental de pessoas LGBTs, fortalecendo a autoestima e o pertencimento. A comunidade também atua como suporte, oferecendo combate ao isolamento e exemplos de como é possível prosperar com orgulho da própria identidade”, enfatiza o psicólogo.

 

A psicoterapia afirmativa cria um espaço de acolhimento e validação, tratando a identidade LGBT como parte saudável da diversidade, não como algo a ser corrigido. “O foco terapêutico recai sobre o sofrimento causado pelo preconceito, oferecendo ao paciente um ambiente de segurança e aceitação. A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) desenvolve flexibilidade psicológica, ajudando a viver com propósito mesmo em meio à dor. Ela utiliza processos como desfusão cognitiva, aceitação emocional, presença no agora e percepção de si. Com a clarificação de valores e a ação comprometida, promove uma vida guiada por autenticidade, conexão e significado”.

O profissional destaca ainda a obrigação ética do psicoterapeuta em oferecer um atendimento qualificado, respeitoso e livre de preconceitos. No Brasil, a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), instituída no âmbito do SUS, é o principal documento norteador. “É preciso usar uma linguagem inclusiva, nunca presumir a orientação sexual ou a identidade de gênero, perguntar e utilizar o nome social e os pronomes adequados e focar nas necessidades de saúde, não em estereótipos. Essa é uma forma de superar visões preconcebidas que associam, por exemplo, homens gays ao HIV ou pessoas trans à prostituição”. 

O sofrimento psíquico e o risco de suicídio na comunidade LGBTQIAPN+ são graves, resultantes de discriminação e não de falhas individuais. A resiliência e o acolhimento mostram a possibilidade de construir uma vida significativa mesmo diante da dor. “Buscar ajuda é um ato de coragem. Há recursos como o CVV 188 e centros de referência oferecendo apoio gratuito e seguro. Clínicas-Escola, redes de apoio on-line e grupos comunitários também fornecem suporte psicológico afirmativo e acessível. Falar sobre sentimentos, buscar ajuda profissional e se conectar à comunidade são passos essenciais para viver com propósito e esperança”, finaliza João Victor Pessanha, professor do curso de Psicologia da UNINASSAU Arapiraca.