O curta “Menina se quere vamo” foi produzido com o desejo de registrar e divulgar a influência das músicas e das trajetórias de vida das mestras Hilda e Virgínia de Moraes entre as novas gerações de mulheres ligadas ao Coco alagoano. A prática cultural do Coco ou pagode alagoano se reinventa e se fortalece no caminho dessas mestras pioneiras que nunca serão esquecidas.

O filme, dirigido por Juliana Barretto e Nicolle Freire, será exibido dia 26 de setembro, às 19h, no Cruzeiro da Chã de Bebedouro, bairro de referência cultural de Maceió. Realizado pela produtora Pisada da onça e pelo Cineclube Chão batido, o evento conta com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, operacionalizado pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa. Além do apoio da Rede Sociocriativa do Coco e do líder comunitário Cícero Batata.
O título do filme teve inspiração no trecho do Coco Meu beija-flor, de mestra Virgínia: “Meu beija flor/ Menina se queres vamos/ Meu beija flor/ Não se ponha a imaginar /Meu beija flor/ Se imagina cria medo/Meu beija flor/Se tem medo não vai lá/ Meu beija flor”. Essa música aparece também como uma linha de costura entre as mestras homenageadas e as mulheres do elenco entrevistadas no filme que conviveram de perto com elas ou passaram a admirar seu trabalho depois de conhecer suas histórias.
As entrevistas com Ivonete Ferreira da Silva (filha), Mestra Zeza do Coco (cunhada) e Joelma Ferreira da Silva (neta) relembram passagens de mestra Hilda, no seu convívio familiar e artístico. Conhecida como a Dama do Coco de Alagoas, Hilda Maria da Silva nasceu na cidade de Rio Largo, em 1921, e recebeu como herança de seus avós escravizados uma bagagem de saberes e conhecimentos.
Das mãos de tecelã, ela garantiu o sustento de sua família, enquanto levava adiante, com sua voz e cantoria, seu grupo de Pagode Comigo ninguém pode. Inúmeras vezes, teve de custear do próprio bolso os materiais para confecção de figurinos e adereços do seu grupo que atuou por várias décadas em Bebedouro até ser dissolvido após a morte da mestra, em 2010. Um ano antes, mestra Hilda teve sua carreira reconhecida com o Prêmio culturas populares, do Ministério da Cultura.
O percurso de vida e criação de mestra Virgínia são contados a partir de fragmentos de memória de Telma César, que é artista e professora de dança. No filme, Telma faz uma viagem de retorno a Fernão Velho, lugar onde a mestra morou.
Enquanto se aproxima da casa, ela relembra emocionada como eram realizados os ensaios e como aquela convivência influenciou seu universo de criação. Virgínia Moraes nasceu em Águas Belas (PE), no ano de 1906, e construiu suas andanças como mestra de reisado, benzedeira, rezadeira e parteira. Compositora e intérprete de músicas de coco e reisado, ela conduziu por um longo tempo o grupo de reisado Três Amores.
As histórias das Mestras Hilda e Virgínia se fundem com as cantorias e os depoimentos de mulheres que atuam na cena atual do Coco, seja como manifestação artística, como elo de mobilização comunitária ou como uma simples brincadeira.
O elenco do filme, formado por Íris Verdelinho, Linete Matias, Camila Queiroz, Ana Carla Moraes, Mary Alves, Isabela Barbosa, Ingrid Sousa, e pelas diretoras Nicolle Freire e Juliana Barretto, representa a manifestação do Coco na sua diversidade de afetos e experiências.
“Os momentos de gravação foram inesquecíveis. Ver aquela mulherada reunida na mesma cena, para cantar e reverenciar o legado das mestras, suas canções e suas histórias. Era como se a presença delas estivesse viva e pulsante na voz e no coração de cada uma”, relembra a diretora Juliana Barretto.
Menina Se Quere Vamo, que já circulou em algumas sessões de cineclube, recebeu o prêmio de Melhor Som do Júri Oficial da 15ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano, e integrou a seção de sugestões de filmes da exposição “Mulheres que fizeram e fazem a História do Brasil”, realizada num prédio da Esplanada dos Ministérios, em Brasília-DF.
Serviço
Exibição do filme Menina se quere vamo
Data: 26 de setembro
Hora: 19h
Local: Cruzeiro da Chã de Bebedouro, ao lado da Panificação Rainha da Paz
Fotos: Assessoria