Desde que a geração Z assumiu um papel de destaque como público consumidor, muito se fala sobre os hábitos desta parcela da população. Bebem menos, evitam baladas, são ambientalmente e socialmente mais responsáveis. Mas, afinal de contas, essas mudanças fazem parte de um inconsciente coletivo ou foram influenciadas pela pandemia de Covid-19? Na visão de especialistas, é um misto dos dois fatores.
Panorama da gen Z
O consenso sobre os anos exatos em que a gen Z nasceu costuma variar. São consideradas datas entre o fim dos anos 1990 e início dos 2010, mas a janela entre 1995 e 2010 costuma ser a mais usada. Alguns estudos ainda estendem o ano de nascimento da geração até 2012. Isso significa que muitos membros deste grupo estão entre 13 e 28 anos, iniciando ou se consolidando no mercado de trabalho nos últimos anos.
De acordo com o HubSpot, 50% dos gen Z acreditam que as marcas devem se posicionar de forma pública sobre questões sociais, como justiça racial (69%), a comunidade LGBTQIAPN+ (50%), mudanças climáticas (42%) e desigualdade de gênero (46%).
As experiências presenciais importam mais do que aquisições materiais para 62% desta parcela do público, que, em 63% dos casos, está mais disposta a dispor de mais dinheiro em produtos feitos de maneira ética, conforme dados da fintech Tink. O valor, segundo a CGS, pode ficar entre 50% a 100% a mais, nesses casos.
O que dizem especialistas
Para a estrategista de marcas Tamara Lorenzoni, especialista em mercado de luxo, a consciência sobre questões ambientais e a busca pela autenticidade são inerentes da geração Z, mas a pandemia funcionou como um catalisador. O consumo, neste caso, é menos sobre quantidade e acúmulo e mais sobre qualidade, identidade e experiências transformadoras.
“Ao viver o isolamento, a geração Z experimentou a vida sem excesso social, sem festas constantes e sem consumo compulsivo”, analisa. “Esse aprendizado coletivo cristalizou valores que dificilmente se perdem: a centralidade do bem-estar, a valorização de experiências menores e significativas e a vigilância sobre coerência entre discurso e prática.”
Consciência x radicalismo
O psicólogo Alexander Bez concorda que, por diversos fatores, a geração Z tende a valorizar mais o bem-estar e o consumo consciente. Entre eles, a pandemia, que acelerou um movimento já em andamento pela própria geração. Para Bez, o ponto central está na consciência como rota oposta ao radicalismo.
“O isolamento e a experiência de viver uma situação extrema levaram muitos jovens a refletirem sobre prioridades, segurança e qualidade de vida. A Covid-19 expôs fragilidades e mostrou o quanto a vida pode ser vulnerável. Isso despertou em parte da geração Z uma consciência maior sobre a importância de preservar-se.”
Cibele Santos, psicóloga clínica e especialista em transtornos do século, acrescenta que valores vistos como típicos da gen Z, que antes pareciam transitórios, têm mostrado raízes profundas. “Eles têm um panorama social muito mais amplo para comparar e aprender com erros do passado, promovendo uma busca ativa por mudanças sustentáveis em comparação a gerações anteriores”, observa.
Transformação cultural
Na visão de Tamara Lorenzoni, a geração Z inaugurou uma transformação cultural que ultrapassa a esfera da juventude e influencia toda a sociedade. Acontecimentos como guerras e crises também marcaram gerações anteriores, mas, desta vez, a diferença está na hiperconexão e na simultaneidade de forma globalizada e em tempo real, por múltiplas telas.
“Isso os torna mais ansiosos, mas também mais adaptáveis, com uma capacidade de reinvenção rápida. Enquanto os millennials ainda carregam um idealismo de transformação, a Gen Z se move pelo pragmatismo: como sobreviver, se diferenciar e manter coerência em meio ao caos”, avalia.