A crise vivida pelo CSA ganhou novos contornos nesta terça-feira (2), com a renúncia oficial de Mirian Monte ao cargo de presidente executiva do clube, um dia após ter sido afastada pelo Conselho Deliberativo sob acusação de “gestão temerária”. O episódio escancara o racha político nos bastidores do Azulão e aprofunda o clima de instabilidade em um momento já marcado pelo rebaixamento à Série D do Campeonato Brasileiro.
Em coletiva de imprensa realizada em Maceió, Mirian confirmou sua saída e anunciou que o vice-presidente Robson Rodas assumirá interinamente o comando do clube, conforme prevê o estatuto. Rodas, que ainda não se pronunciou oficialmente, terá agora a missão de liderar o CSA em meio ao que pode ser a maior reconstrução institucional e esportiva de sua história recente.
“O vice-presidente legitimamente constituído, Robson Rodas, terá o direito de dizer se fica ou não. O que ele me disse é que assume o clube e passa a ser o presidente do CSA”, declarou Mirian.
No pronunciamento, Mirian evitou o tom de despedida e apostou em uma defesa firme de sua gestão. Negou as acusações que levaram ao seu afastamento e fez questão de apresentar números positivos, destacando equilíbrio financeiro, salários pagos e previsão de receita para 2026 na casa dos R$ 8,8 milhões.
Também pontuou a importância das campanhas em torneios de 2025 — como a Copa do Brasil e a Copa do Nordeste — que, segundo ela, geraram mais de R$ 11 milhões para os cofres do clube. Apesar disso, não deixou de criticar o modelo vigente no futebol brasileiro, principalmente os altos gastos com premiações a atletas, os chamados “bichos”, que classificou como uma cultura nociva e difícil de combater.
“Essa prática está enraizada no futebol e atrapalha qualquer tentativa de gestão responsável”, afirmou.
A ex-presidente também relembrou pontos considerados positivos, como a venda de jogadores formados no clube — Enzo para o Grêmio e Brayann para o Goiás — e minimizou a ideia de um fracasso total. “Se conseguimos colocar atletas na Série A, é porque alguma coisa foi feita com qualidade”, disse.
Sobre o rebaixamento, Mirian classificou como um “fato inesperado”, mencionando que o CSA tinha 99% de chances de permanecer na Série C antes da rodada final.
A renúncia ocorre em um momento de vacância de lideranças consolidadas no CSA. O afastamento de Mirian pelo Conselho e sua renúncia voluntária indicam um cenário de disputa interna que deve continuar mesmo após sua saída. A responsabilidade agora recai sobre Robson Rodas, que assume interinamente com pouco tempo para reorganizar o planejamento esportivo, financeiro e estrutural do clube — tudo isso em meio a um processo de reconstrução que exigirá diálogo, transparência e decisões firmes.
No encerramento da coletiva, Mirian adotou um tom mais pessoal e agradeceu aos colaboradores da sua gestão. Apesar da saída, deixou em aberto a continuidade de sua relação com o clube e prometeu lutar para que injustiças não se perpetuem dentro do CSA.
“Nessa jornada, conheci muitas pessoas dignas e honradas. E continuarei lutando para que nenhuma delas sinta o peso da injustiça”, finalizou.
Com a queda para a Série D e uma crise política escancarada, o CSA enfrenta agora o desafio de se reorganizar internamente para evitar novos retrocessos. A transição de liderança será determinante para definir se o clube consegue, em 2026, retomar seu caminho rumo às divisões superiores — ou se o cenário atual marcará o início de um ciclo ainda mais instável.