O desastre ambiental provocado pelo afundamento do solo em Maceió (AL) voltou a travar a venda da Braskem. De acordo com a Agência O Globo, o fundo ligado ao empresário Nelson Tanure desistiu das negociações para assumir o controle da companhia, deixando mais uma vez incerto o destino da petroquímica.
A saída ocorreu após o fim do período de exclusividade das tratativas conduzidas pela Petroquímica Verde, que havia contratado o banco Rothschild para estruturar a operação. Com a desistência, a gestora IG4, especializada em reestruturação de empresas, passou a articular uma proposta junto a bancos credores e acionistas para assumir o comando da companhia.
Passivo bilionário em Alagoas
O maior entrave é o passivo ambiental em Alagoas. O fenômeno geológico, associado à extração de sal-gema pela Braskem, transformou cinco bairros de Maceió — Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e parte do Farol — em áreas fantasmas, marcadas por rachaduras em ruas e imóveis e pelo deslocamento forçado de cerca de 60 mil moradores.
Fontes ouvidas pelo O Globo afirmam que a falta de garantias sobre as indenizações bilionárias ligadas ao desastre foi decisiva para a retirada de Tanure. As dívidas e ações judiciais seguem sem solução definitiva e tornam o negócio considerado de alto risco por investidores.
Disputa entre bancos e Petrobras
Atualmente, a Novonor (antiga Odebrecht) detém 50,1% das ações com direito a voto, a Petrobras possui 47%, e o restante está nas mãos de minoritários. Desde 2018, a Novonor busca um novo sócio, já tendo negociado com grupos como LyondellBasell, J&F, Apollo Global Management, Adnoc, Petrochemical Industries Company (Kuwait) e Unipar.
Com a desistência de Tanure, os bancos credores — Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e BNDES — passaram a discutir a conversão das ações dadas como garantia no processo de recuperação judicial da Novonor em participação direta na Braskem, por meio de um fundo administrado pela IG4. Estimativas apontam a necessidade de pelo menos US$ 3 bilhões em capitalização para equilibrar a empresa.
Outro obstáculo é a posição da Petrobras. A estatal, embora não queira assumir o controle, pressiona por mudanças no acordo de acionistas para ampliar sua influência. Em entrevista ao O Globo, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, declarou que não interessa à estatal uma Braskem “independente demais”, defendendo maior sinergia entre as companhias.
Venda de ativos e acordos locais
Enquanto não resolve seu futuro societário, a Braskem estuda vender ativos no exterior. Segundo o colunista Lauro Jardim, a Unipar negocia a compra de três fábricas de polipropileno localizadas no Texas, na Pensilvânia e em West Virginia, em operação avaliada em cerca de US$ 1 bilhão.
Paralelamente, bancos e a IG4 buscam articular um novo acordo político em Alagoas. A avaliação é de que, sem garantias sobre os compromissos ambientais, nenhum investidor terá segurança para assumir o risco de comandar a sexta maior petroquímica do mundo.