Em Brasília, não basta ver para crer, é preciso que a versão oficial autorize. Na noite de quarta-feira, 06, as câmeras da Câmara dos Deputados e dos diversos parlamentares que estavam no local,  registraram o momento em que a deputada Camila Jara (PT-MS) desfere um golpe certeiro nas partes íntimas do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que caiu no chão logo em seguida. Mas, segundo o Partido dos Trabalhadores, a cena muda de gênero: de agressão para “auto-defesa” contra um empurra-empurra.

Entre os que reforçam o enredo está o deputado Paulão (PT-AL), que correu às redes para manifestar “toda” a sua solidariedade à colega e classificar como “teratológica”, ou seja “monstruosa", qualquer tentativa de punição. Assim, a gravação perde para a retórica, e a política brasileira reafirma sua vocação para reescrever até o que está registrado em replay. Afinal, aqui, as imagens são apenas sugestões.

O Partido dos Trabalhadores também engrossou a defesa, alegando que Camila foi vítima de “campanha de ódio e fake news” e que agiu apenas para se proteger.  

A versão oficial, contudo, ignora o detalhe de que as imagens mostram algo bem diferente. O registro é direto e objetivo, mas, na disputa de versões, a imagem sempre corre o risco de perder para a narrativa, especialmente quando há capital político em jogo.

No jogo político brasileiro, não é novidade: basta escolher o lado certo da trincheira e qualquer ato pode ganhar status de heroísmo. Agressor pode virar vítima, vítima pode ser tratada como culpada e até a física é reinterpretada para caber no discurso. É a era das verdades sob medida, onde replay é opcional e a indignação, seletiva.

 

"Violência não é argumento"

Sóstenes Cavalcante, líder do Partido Liberal na Câmara dos Deputados, apresentou à Corregedoria da Casa uma representação contra a deputada petista por quebra de decoro e pediu a suspensão do mandato.

O pedido aconteceu após verificar imagens que mostram Camila Jara agredindo Nikolas Ferreira, causando sua queda. Em seguida as imagens mostram que a deputada ri da situação.  

Em seu perfil no X, Sóstenes diz que "violência não é argumento. Imunidade parlamentar não é salvo-conduto para agressão. Estamos vigilantes. E vamos até o fim”.

 

 

 

Confira a nota do PT na íntegra:

A Bancada do PT na Câmara manifesta total solidariedade à deputada Camila Jara (PT-MS), alvo de uma campanha de ódio e fake news após o tumulto provocado por parlamentares da extrema-direita, nesta terça-feira (6), na Câmara dos Deputados, durante a ocupação da Mesa Diretora no Plenário.

A deputada reafirma, em nota, seu compromisso com o diálogo, a democracia e a coragem de seguir lutando por um país mais justo — e repudia as falsas acusações de agressão que estão tentando lhe atribuir.

Durante a confusão gerada por deputados bolsonaristas na sessão de ontem, Camila Jara, ao tentar se aproximar do presidente da Casa, Hugo Motta, apenas se protegeu do empurra-empurra iniciado por membros da extrema-direita, entre eles o deputado Nikolas Ferreira.

Não aceitaremos que ataques coordenados e narrativas mentirosas tentem calar mulheres e parlamentares combativas, defensoras da democracia, do Brasil e do povo brasileiro.

Estamos com Camila Jara!