A prática de atividades físicas pode ser uma grande aliada no desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além de promover benefícios físicos, como melhora da coordenação motora, o esporte também contribui para o bem-estar emocional, a socialização e o aumento da autoestima. Com as adaptações ideais e o olhar atento dos profissionais, o projeto Academia do Povo, da Secretaria Municipal de Esporte, se transformou em um espaço de inclusão e crescimento para jovens e adultos diagnosticados.
Na unidade localizada no coração da Serraria, o esporte ganhou um novo significado na história de Dilson Tenório Neto, de 20 anos, e de sua mãe, Leila Tenório. Este é um exemplo de como o esporte pode ser um poderoso aliado no desenvolvimento de indivíduos com TEA. No caso de Dilson, a inclusão no esporte tem se mostrado fundamental, não apenas para a melhora do condicionamento físico, mas também para o fortalecimento da saúde mental e emocional. Autista de nível 2, o jovem conta que encontrou na musculação uma forma de superar as dificuldades da rotina e da interação social.

Dilson e sua mãe, Leila Tenório, frequentam a academia do José Tenório e consolidaram a prática esportiva como parte essencial em suas rotinas. Foto: Itawi Alburquerque/Secom.
Dilson foi diagnosticado com autismo aos 7 anos, depois de uma infância marcada por dificuldades de adaptação, isolamento social e incompreensão tanto de familiares quanto de profissionais da saúde e educação. Sua trajetória escolar foi repleta de desafios, sendo muitas vezes taxado como "diferente". No entanto, a virada na sua vida começou quando ele se envolveu em um projeto de natação e basquete adaptado, em uma escola da capital, onde descobriu o prazer pelo esporte. Essa experiência foi essencial, mas foi na Academia José Tenório, lançada posteriormente, que ele realmente se encontrou.
"Quando estou na academia, me sinto mais leve, calmo, e minha ansiedade diminui. O esporte me ajuda a controlar meu humor e a melhorar minha postura, literal e metaforicamente, diante das adversidades da vida". Ele frequenta a academia de três a quatro vezes por semana, e essa rotina se tornou sua principal terapia.

Para Dilson, o acolhimento das professoras torna tudo mais fluido e inclusivo. Foto: Itawi Albuquerque/Secom.
Leila Tenório, mãe de Dilson, é o alicerce emocional do filho. Ela lembra que, apesar de ter sido um filho muito esperado, as dificuldades começaram logo após seu nascimento. "Quando ele era bebê, eu percebi que algo estava diferente, mas o diagnóstico demorou a chegar. Sempre busquei ajuda, e quando ele finalmente foi diagnosticado, foi um alívio, mas também uma surpresa", conta Leila.
O autismo de Dilson, no entanto, não foi encarado como um obstáculo, mas como um ponto de partida para buscar alternativas que o ajudassem a se desenvolver. Leila ressalta a importância da academia na vida do filho, principalmente na superação da depressão profunda que ele enfrentou na adolescência, depois de concluir a escola e bagunçar a rotina. "A terapia sozinha não resolve, e foi o esporte que estabilizou a saúde mental dele. A academia se tornou a principal terapia do Dilson, onde ele encontrou novos amigos e se livrou do quadro depressivo", afirmou a mãe.
Leila compartilha que quando o filho está agitado, ou passando por uma mudança de rotina, a solução sempre está no movimento. "Eu o levo para a academia, fazemos caminhadas, meditamos juntos. Isso ajuda a acalmá-lo e a equilibrar suas emoções."
Benefícios do esporte para pessoas com TEA
A prática esportiva pode ter um efeito transformador, especialmente em pessoas autistas, como reforça a educadora física Marcela, professora na academia do José Tenório. "O esporte vai além do condicionamento físico. Ele auxilia na organização da rotina, na regulação emocional, na coordenação motora e, principalmente, na autoestima. Muitos alunos, como o Dilson, chegam com dificuldades de socialização e de confiança, mas o esporte, com seu ambiente estruturado e previsível, se torna um verdadeiro aliado no desenvolvimento", explica Marcela.
Ela reforça que o transtorno do espectro autista não acontece de forma igual para todos. Existem os níveis de suporte, que são: nível 1, nível 2 e nível 3. Isso vai influenciar na hora da escolha de uma atividade esportiva, mas não é um fator que deve limitar a busca por um esporte. “Por terem ganhos variados, cada caso vai ser um caso, mas, no geral, o esporte melhora níveis de endorfina no organismo, auxiliando, por exemplo, em quadros de depressão e ansiedade”.

No esporte, ele encontrou equilíbrio, rotina e alívio para os sintomas da depressão. Foto: Itawi Albuquerque/Secom.
Além disso, ela também destaca que, para quem está no espectro, é possível melhorar o equilíbrio, a cognição e a parte motora. Mas, considerando que a maioria dos esportes é praticada em grupo, é importante levar em conta os ganhos na socialização. O esporte varia o ambiente para além da casa e da escola e apresenta novas possibilidades.
No caso de Dilson, Marcela afirma que a evolução é visível. "Hoje ele é mais seguro, mais disposto, interage melhor com outras pessoas e tem mais autonomia. O mais bonito de tudo é ver como ele se orgulha das suas pequenas vitórias", conta.
A luta de Leila e Dilson pela inclusão está longe de ser uma jornada solitária. Além do apoio da academia e dos amigos que lá fizeram, Dilson agora também compartilha suas experiências com o mundo. Ele é criador de conteúdo no YouTube, onde produz histórias sobre o universo atípico, e também um pequeno empreendedor, vendendo variedades em sua loja virtual. Para ele, a inclusão é um processo que envolve o entendimento e o respeito por parte da sociedade. "Eu sonho com um mundo onde todos tenham as mesmas oportunidades, sem precisar lutar para ser aceito", conclui Dilson.

Segundo Marcela, a prática regular de atividade física ajuda na regulação emocional, concentração e autoestima. Foto: Itawi Albuquerque/Secom
Sobre as Academias do Povo
A academia de José Tenório não só oferece um espaço físico de exercícios, como também se torna um centro de acolhimento, autoestima e evolução. O projeto traz à tona a importância de um espaço preparado, que respeite as particularidades de cada aluno, promovendo a saúde física, mental e emocional.
Com unidades em diversos bairros de Maceió, como Jatiúca, Feitosa, Praia do Sobral, Vale do Reginaldo, Fernão Velho, Ouro Preto e Vergel do Lago, as Academias do Povo atendem mais de 200 alunos por unidade diariamente, podendo beneficiar até 180 mil pessoas por mês.
Para ter acesso às aulas, os alunos fazem a matrícula via aplicativo, o MUDE-Yoga e Fitness, e podem agendar as aulas, além de acompanhar seu progresso individual. O projeto também conta com uma ação solidária: a doação mensal de dois pacotes de leite, que são distribuídos para instituições e projetos sociais, beneficiando ainda mais a comunidade.