Uma espécie de micose que pode afetar animais e humanos, a esporotricose é causada por um fungo que se manifesta com lesões na pele, podendo até se disseminar pelas articulações e pulmões.

Casos da suspeitos doença foram registrados em Maceió e o fato provocou um alerta nas autoridades. No início desta semana, após denúncia de uma moradora, a Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) da capital alagoana, capturou alguns gatos com lesões compatíveis com esporotricose, no Conjunto Aprígio Vilela, bairro do Benedito Bentes, parte alta da cidade.

Conforme a denúncia, os gatos que apresentavam as lesões estavam convivendo com outros felinos aparentemente saudáveis, o que colocava em risco a saúde da população, visto que a esporotricose é contagiosa e pode ser transmitida dos animais para os humanos. No caso dos animais, especialmente gatos, pode até matar.

De acordo com dados da Secretária Municipal de Saúde de Maceió, de janeiro a outubro de 2023, foram realizados 546 exames em animais, destes 253 foram positivos para esporotricose. Em 2024, no mesmo período, foram realizados 450 exames e 299 foram positivos.

Ao CadaMinuto, a médica veterinária Taíne Soares explica o que é doença, os riscos da transmissão e reforça a importância de levar o pet a um especialista, caso ele apresente alguma lesão.

A médica veterinária Taíne Soares / Foto: Arquivo Pessoal

Confira a entrevista:

 O que é esporotricose e quais as causas?

A esporotricose é uma micose (infecção por fungo) subcutânea causada pelo fungo Sporothrix spp., que está presente no solo, nas plantas, em matéria orgânica em decomposição, espinhos e troncos. Já foi conhecida como "doença do jardineiro" porque, historicamente, os primeiros casos foram observados em pessoas que lidavam diretamente com plantas, terra, palha e madeira, especialmente jardineiros e agricultores. É uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida dos animais para os humanos. O fungo penetra na pele através de ferimentos, arranhões ou mordidas, por isso comumente associada aos gatos.

Como ocorre a contaminação nos cães e gatos?

 A contaminação ocorre quando cães ou gatos entram em contato com materiais contaminados (espinhos, lascas de madeira, solo). Os gatos são os principais envolvidos pela tendência a brigas (mordidas e arranhões) com outros gatos infectados, ao hábito de arranhar, caçar ou cavar solos. Tanto pela lesão que serve de “porta de entrada” para o fungo do ambiente, quanto o contato direto com garras e dentes de outros animais contaminados.

De que forma ocorre a transmissão para humanos?

A principal forma de transmissão para humanos é através de arranhaduras, mordidas ou contato com secreções de lesões de gatos infectados. Também pode ocorrer por contato direto com o fungo presente no ambiente (mas esta via é menos comum comparada ao contato com gatos doentes).

Quais os sintomas?

Nos animais, especialmente gatos, uma ou poucas lesões nodulares ulceradas na pele (principalmente na face, cabeça e patas); geralmente lesões que não cicatrizam com secreção purulenta. Em alguns casos pode haver espirros, lesões no focinho, perda de apetite e emagrecimento, a depender da evolução da doença.

Nos humanos, se caracteriza por pequenas feridas avermelhadas ou nódulos na pele (geralmente nas mãos e braços), as lesões podem evoluir para úlceras, com prurido leve ou dor moderada, são lesões que não cicatrizam com tratamentos não específicos, e em casos graves, pode afetar ossos, pulmões ou órgãos internos (raro, mas possível).

O que fazer em casos suspeitos?

Em caso de qualquer suspeita, os animais devem ser levados ao médico veterinário para confirmação e inicio do tratamento, e os humanos ir ao dermatologista. Mas, deve-se isolar o animal suspeito para evitar contato com pessoas (principalmente crianças e idosos) e outros animais; usar luvas ao manipular o animal ou higienizar feridas; não espremer as lesões de forma caseira.

A esporotricose tem cura? Qual o tratamento?

Sim, tem cura, desde que tratada corretamente com os fármacos apropriados e pelo tempo necessário. É importante ressaltar que nunca se deve interromper o tratamento antes do tempo recomendado, mesmo com a melhora das lesões. O tratamento em animais e humanos é feito com antifúngicos, por períodos prolongados (geralmente de 3 a 6 meses), e em casos graves, outros medicamentos podem ser associados, e o acompanhamento veterinário/médico é essencial.

Há maneiras de prevenção?

Evitar que gatos tenham acesso livre às ruas, onde podem se ferir e se contaminar; usar luvas ao mexer em terra, plantas ou ao cuidar de animais com feridas suspeitas; limpeza adequada de feridas em animais e pessoas; tratar rapidamente animais doentes para diminuir fonte de infecção; evitar aglomeração e superlotação em abrigos de animais; realizar campanhas de conscientização, diagnóstico precoce e tratamento de animais infectados para a comunidade em geral.

Esporotricose em humanos / Foto: Reprodução/ Journal Plos 

 

Esporotricose em humanos

A dermatologista Luisa Barbosa explica que a esporotricose em humanos geralmente se inicia com uma pequena lesão, parecida com uma picada de inseto ou um nódulo avermelhado, no local de contato com o fungo. 

Com a progressão da doença, surgem novas lesões dispostas em linha, acompanhando o trajeto dos vasos linfáticos na região afetada. “Esse é o tipo mais frequente da doença. Ela afeta a pele e também os vasos linfáticos, que ficam logo abaixo da pele. É a chamada esporotricose linfocutânea”, completa a médica.

A dermatologista afirma que a esporotricose pulmonar é considerada rara e é mais frequente em pessoas que já possuam alguma doença pulmonar crônica. 

“Este tipo acontece quando uma pessoa inala os esporos do fungo. Por isso, a infecção afeta diretamente os pulmões. Os sintomas podem ser parecidos com os da tuberculose e incluem tosse, febre, suor noturno, falta de ar e cansaço”, esclarece.

A médica acrescenta que há também a esporotricose cutânea, que só afeta a pele e se manifesta geralmente nas mãos, braços ou rosto, e a esporotricose disseminada - a forma mais grave e mais rara da doença - que é quando a infecção se espalha por meio da corrente sanguínea para outras partes do corpo, podendo afetar ossos, articulações e até o sistema nervoso central.

Quais são os sintomas de esporotricose em humanos? 

A forma mais comum, a linfocutânea, que se manifesta com o surgimento de lesões de pele ulceradas ou nodulares que evoluem com um cordão linfático, geralmente aparecem nas extremidades do corpo ou no rosto, e podem vir associadas ao aumento dos linfonodos, estruturas do corpo que filtram substâncias nocivas. As pessoas infectadas podem apresentar febremal-estar, lesões em mucosas, disseminação do fungo para articulações e pulmão.

Como é feito o diagnóstico? 

O diagnóstico pode ser clínico-epidemiológico, ou seja, aliando os sinais e sintomas do paciente com história de possível exposição ao fungo.   O principal exame para confirmar a doença é a cultura fúngica. Nele, o médico coleta uma pequena amostra de tecido ou secreção da lesão. E o material é enviado a um laboratório para verificar se o fungo Sporothrix cresce na amostra. 

Outros exames podem ser solicitados como o histopatológico, que analisa um pequeno pedaço da lesão em um microscópio, e a sorologia. 

Esporotricose humana tem cura? 

Sim. Ela inicialmente deve ser tratada com antifúngicos e, geralmente, atinge a cura após alguns meses. De qualquer forma, o paciente deve permanecer em acompanhamento médico regular para definir o tempo de tratamento.  O tratamento é feito com medicações antifúngicas. Para formas graves da doença pode ser realizado antifúngico venoso. 

A pessoa que tiver com suspeita de esporotricose deve procurar um dermatologista ou infectologista para realização do diagnóstico e prescrição do tratamento.