O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em pronunciamento em rede nacional nesta quinta-feira (17) que as tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, têm apoio de políticos brasileiros, os quais classificou como “traidores da pátria”.
Sem citar deputados e senadores bolsonaristas, o presidente falou em “indignação” ao saber do apoio de “políticos” ao tarifaço e disse que essas pessoas apostam no “quanto pior, melhor”.
“Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo”, disse Lula. Play
O presidente afirmou ainda que as tarifas são uma “chantagem inaceitável” e ressaltou que o Poder Judiciário no Brasil é independente.
“No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional”, defendeu o presidente.
Nesta quinta (17), Donald Trump divulgou mais uma carta pública, dessa vez endereçada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dizendo que o aliado é alvo de "ataques" de um "sistema injusto".
"Este julgamento precisa parar imediatamente", afirmou, se referindo ao processo penal no qual Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por fazer parte do que seria um plano de golpe contra o resultado das eleições de 2022.
No pronunciamento, Lula também defendeu o sistema de pagamentos Pix, que foi alvo de críticas dos Estados Unidos nos últimos dias.
“Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo”, afirmou.
O sistema de pagamentos brasileiro foi citado como exemplo de como o governo favorece o país em detrimentos das empresas norte-americanas. Na terça (15), o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) anunciou uma investigação comercial contra o Brasil, que inclui o Pix entre as práticas consideradas “desleais”.
Em rede nacional, Lula também saiu em defesa da soberania brasileira nas decisões sobre regulamentação das redes sociais. Esta é uma briga que já se desenrola há meses com o governo americano, que é contra a regulamentação das big techs, alegando defender a liberdade de expressão.
"Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras. No Brasil, ninguém está acima da lei". Lula disse que é preciso proteger as famílias brasileiras de organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes, incitar a violência e os ataques à democracia.
Ainda sobre as tarifas, o presidente disse em rede nacional que usaria de “todos os instrumentos legais” para defender a economia brasileira, desde recursos à OMC (Organização Mundial do Comércio) até a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso Nacional.
Entenda o caso
No início de julho, Trump anunciou que aplicaria uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil. A nova alíquota entra em vigor a partir do dia 1º de agosto.
Trump fez o anúncio em carta endereçada a Lula na sua rede social, Truth Social. No documento, o norte-americano afirma que a cobrança é necessária tendo em vista a postura do STF (Supremo Tribunal Federal) para com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No mesmo dia, Lula afirmou que a medida seria respondida com a Lei de Reciprocidade Econômica. Aprovada pelo Congresso Nacional em 2 de abril, a norma estabelece critérios de proporcionalidade para a adoção de medidas em resposta a barreiras impostas a produtos e interesses brasileiros.
O governo aproveitou o impasse com Trump para reforçar o discurso de soberania. Conforme mostrou a CNN, a narrativa já melhorou a popularidade do presidente e influenciou na resposta diplomática aos Estados Unidos, com mais críticas ao tarifaço em uma nova carta.