Xameguinho era sanfoneiro de raiz, de forró, de lamentos sertanejos, a que ele tocava de forma sentida, com a alma na ponta dos dedos.

É até verossímil imaginar que ele deixou para se despedir exatamente após o final das festas juninas, período em que seu instrumento não haveria de saber do silêncio. 

Tive a chance de conviver estreitamente com ele, principalmente na década de 1990, quando chegamos a viajar para João Pessoa, em uma apresentação pelo SESC, e, depois, em uma animada excursão pelo Sul da França, onde dividimos o mesmo quarto de hotel.

As nossas conversas seguiam em tons amenos, sem alardes ou sofreguidão, mas prenhes de risadas e de tiradas com malícia de adolescentes. Porque assim nos sentíamos na hora de jogar conversa fora: sem compromisso com as dores do mundo. 

Sim, Xameguinho, era uma alma simples, limpa, cheirando a mato molhado, com a vivacidade de um menino que teimava em existir, mesmo quando o corpo já cobrava o preço de uma existência prenhe de dificuldades.

No ano passado, pelas mãos do nosso amigo comum  Felix Baigon, ele participou da gravação de duas músicas do meu álbum Nós (disponível nos streamings).

Sua sanfona está em “Saudade” e “Estrada”. E com o toque do instrumento, eu bem sabia, que buscava as notas que traduzissem o sentimento que lhe corria nas veias, naquele momento, o que nem sempre as cifras traduziriam.    

Sei que ele gostava das minhas canções nordestinas, carregadas de uma tristeza atávica , assim ele me disse mais de uma vez, e apesar das promessas, de parte a parte, não nos tornamos parceiros em alguma canção que há de ter ficado suspensa no ar. 

Nesse momento de despedida, em que a saudade ainda é somente um botão, indago-me sobre o que há de fazer mais falta: se o sanfoneiro e seus acordes, se o homem bom que espalhava harmonia.