Uma cena triste aconteceu na manhã da última quarta-feira (14). Uma servidora pública voltava ao expediente depois de levar seu filho autista à sessão de terapia. Mas foi impedida de entrar no local de trabalho por homens armados. Não, não estamos tratando de nenhum assaltante ou traficante. Os homens armados receberam as armas do Estado e as usavam para fazer valer suas vontades. Eram policiais civis contra os servidores da Procuradoria-Geral do Estado. O motivo? Queriam ser recebidos pela procuradora geral do Estado.
A manifestação organizada pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol) extrapolou qualquer limite do razoável ao intimidar outros servidores e fazer jogo político ao buscar a majoração de 40 horas. O pleito é justo? Acredito que sim. Serve de justificativa para constranger outros servidores? Com certeza, não.
A greve já foi considerada ilegal pela Justiça. A PGE sequer faz parte da mesa de negociação salarial. E mesmo assim, virou alvo de um protesto carregado de agressividade, com tentativas explícitas de coação contra procuradores e servidores, com carros de som atrapalhando o trânsito e um clima generalizado de medo.
Pior: essa disputa está deixando de ser apenas uma negociação trabalhista. Está virando combustível para o jogo político. Deputados estaduais e federais — de olho nas urnas de 2026 — manipulam o tema, insuflam os ânimos e usam a pauta como palanque eleitoral. E nesse teatro de vaidades, quem paga a conta é a sociedade.
O impacto do que pede o sindicato dos policiais civis supera os R$ 700 milhões. É mais do que o previsto para todos os reajustes salariais das demais categorias do serviço público estadual neste ano. Então a pergunta é inevitável: os servidores da saúde, da educação, da segurança — todos devem abrir mão de seus direitos por causa da pressão de uma única categoria?
Estamos falando de servidores armados invadindo prédios públicos, constrangendo colegas, desrespeitando decisões judiciais e instrumentalizando sua função como ferramenta de opressão. Isso não é democracia. Isso não é negociação. Isso é ameaça.
Todo policial civil merece valorização. Mas isso deve vir pelo diálogo, pela legalidade, pelo respeito às instituições e à sociedade. A mesma sociedade que paga salários, que sustenta o serviço público, que luta diariamente para não deixar filhos e filhas desassistidos — como a servidora impedida de trabalhar enquanto cuidava do filho autista.
Negociar é um direito. Intimidar é um crime.