A estagiária do poder judiciário de Alagoas, que preferiu não se identificar, conversou com o CadaMinuto e desmentiu as informações envolvendo o juiz Phillipe Melo Alcântara Falcão, por suposta agressão física e violência sexual.
Segundo a jovem, a decisão do Desembargador Tutmés Airan que determinou a citação do magistrado reflete seu pedido de desistência do feito, protocolado logo após a abertura de um processo "que sequer deveria ter existido".
Confira abaixo o pronunciamento da estagiária na íntegra.
Na tarde de um domingo, sofri um acidente doméstico que me machucou bastante, o que me levou a procurar atendimento hospitalar. Fui atendida vestindo suéter e calça de alfaiataria — e faço questão de destacar isso, porque não condiz com o perfil de alguém em situação de emergência. Fui chamada por senha, sentada no fluxo normal de pacientes, e em nenhum momento houve urgência no atendimento.
Durante a avaliação, a médica identificou uma bolha de sangue na minha boca, muito semelhante àquelas que se formam em uma topada no pé. A bolha que surgiu na minha boca não é compatível com agressão física, como socos ou tapas. Esse tipo de violência, ao atingir a região bucal, costuma causar arrasto contra os dentes, resultando em cortes internos, sangramentos ou escoriações visíveis — o que não ocorreu no meu caso. Nenhum soco é dado e permanece parado: ou recua a mão, ou a cabeça se movimenta, o que produz lesões típicas. A minha lesão não sangrou externamente, não houve corte, nem qualquer marca característica de impacto direto. A localização e a forma da bolha indicam uma pancada acidental, como uma queda ou esbarrão.
O renomado médico-legista Vincent Di Maio descreve que lesões provocadas por socos ou tapas em região bucal costumam causar lacerações internas, cortes por arrasto contra os dentes e hemorragias — o que diferencia agressão de lesões acidentais.
O que relatei foi interpretado erroneamente no hospital. Informei que se tratava de uma queda, e a resposta foi de que aquela lesão seria “típica de terceiros” — e que quedas são “desculpas comuns para violência”. Pasmem: por influência de estereótipos e cenas de filmes, minha alegação de queda (posteriormente provada nos autos) gerou um constrangimento que talvez eu nunca consiga superar. Meu corpo apresentava ainda arranhões, joelho ralado, parte inferior dos dedos dos pés também. Mesmo assim, o hospital iniciou, sem minha anuência, o chamado protocolo de acionamento imediato da polícia em casos de suposta violência.
Fui conduzida à delegacia contra minha vontade. Lá, das 20h às 4h07 da manhã, passei por um interrogatório que não se aplica nem a um criminoso de alta periculosidade. Eu não era acusada. Eu sequer era vítima de nada. Mas precisei provar isso por horas. Exausta, percebi que tentavam me convencer de que eu era vítima, principalmente por estar em um relacionamento com um magistrado. Aquilo deixou de ser um cuidado e passou a ser predatório.
Ninguém passa tanto tempo em uma delegacia negando ser vítima. Nem um acusado passa tanto tempo sendo ouvido. Mas, como eu negava, a condutora policial registrou a “constatação” da médica — o que, somado à suspeita infundada, abriu o inquérito.
Em meio à exaustão, ainda houve invasão da minha intimidade. Viram meu celular. Interpretaram erroneamente uma mensagem que enviei bêbada para meu namorado pedindo que me buscasse, alegando que isso representava um “abuso”. Conversas íntimas que mostravam que tivemos relações foram distorcidas para dizer que eu não poderia ter consentido. Ora, nas mensagens seguintes, eu converso normalmente, rememoro a noite, provoco. Isso parece comportamento de uma vítima de estupro? Não. Mas foi com base nisso que foi aberta uma acusação grave. Contra ele, contra mim. Vítima de estar feliz ao lado do homem da minha vida.
No dia seguinte, pedi a desistência. Era absurdo. Exaustivo. E assustador acordar como vítima de alguém que, em qualquer situação, seria a primeira pessoa para quem eu correria se o mundo estivesse em chamas. E igualmente assustador para a pessoa mais decente, honesta e cuidadosa que conheço. Ele é o tipo de homem que lava o carro antes de me buscar para não sujar minha roupa. A ferida que isso deixa — toda essa má interpretação e conclusões precipitadas — é irreparável.
A informação é uma bênção. A falsa informação, um tormento. E a distorção dos fatos foi o que gerou tudo isso. Não a imprensa, mas é a vocês que trago agora a verdade, sustentada por todas as provas documentais.
Voltemos à queda. Por que não poderia ter sido ele? Ele é pai. Pai amoroso de duas crianças. Na data dos fatos, esteve o dia inteiro com elas e com seus pais. Eu, por minha vez, estava voltando de viagem, onde fui visitar minha família. Não nos vimos naquele dia.
É por compromisso com a verdade que venho agora esclarecer, para que enfim possam ter acesso ao que realmente aconteceu — conforme demonstrado nos autos, hoje arquivados por inexistência de qualquer ocorrência delituosa.
O cúmulo é um inocente ter sua imagem exposta e ser chamado de estuprador ou espancador. Isso não se sustenta diante da realidade, tampouco diante de quem conhece sua história, sua reputação e sua índole. Tampouco condiz comigo esse papel de vítima ao qual fui injustamente submetida.
Por fim, venho esclarecer que a publicação feita não condiz com a verdade dos fatos. Trata-se de uma narrativa baseada em alegações iniciais levantadas por terceiros, as quais foram construídas sobre suposições equivocadas e desmentidas pela própria evolução do processo. A matéria ignora que o feito foi encerrado a pedido da suposta vítima — eu — e arquivado por inexistência de qualquer crime, conforme consta nos autos.
Dessa forma, a exposição do nome e da imagem de uma pessoa inocente, especialmente com o uso de expressões como “estuprador” ou “agressor”, torna-se gravemente lesiva, podendo configurar violação à honra, à imagem e à dignidade da pessoa humana, direitos garantidos pela Constituição Federal (art. 5º, incisos V e X), bem como suscitar responsabilização civil e criminal em caso de reiteração.
Reitero: não houve vítima, tampouco houve agressor. A verdade está demonstrada documentalmente e encontra-se à disposição. Estou inteiramente disponível para quaisquer esclarecimentos adicionais e para apresentar todas as provas que sustentam este relato.
A informação é um direito sagrado — mas quando distorcida, torna-se um instrumento de dor. Que este esclarecimento, enfim, traga o que nos foi negado até aqui: justiça, verdade e paz.