O ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, alegou “questões pessoais” e “preservação da segurança da família” para justificar sua ausência em uma audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado Federal nesta quarta-feira, 30.

O presidente da comissão, senador Flávio Bolsonaro (PL), reproduziu durante a sessão um áudio enviado pelo advogado de Tagliaferro, no qual o ex-assessor de Moraes explicou as razões por não ter comparecido.

“Boa tarde, Eduardo Tagliaferro aqui que tá falando. Queria agradecer ao convite recebido através do meu advogado. Infelizmente não pude comparecer por questões pessoais e também pela preservação da minha segurança, da minha família. Mas, em um momento oportuno, estarei aí à disposição de todos dessa comissão pra que vocês possam fazer as perguntas que desejam e obter as respostas que precisam. Uma ótima tarde a todos e fiquem com Deus”, disse em áudio.

O requerimento para a audiência é do senador Eduardo Girão (Novo-CE), que acusa o gabinete de Moraes de ter ordenado, em 2022, a produção de relatórios no TSE para embasar medidas contra apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro.  

Quem é Eduardo Tagliaferro?

Indiciado no início de abril, Tagliaferro foi chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE. Segundo a PF, ele teria vazado informações sigilosas à imprensa enquanto exercia o cargo.  

As mensagens foram obtidas após a apreensão de seu celular, em 2023, quando Tagliaferro foi preso por suspeita de violência doméstica.

Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal, a PF afirma que o ex-assessor divulgou informações internas para “arranhar a imagem do ministro do STF” e “desacreditar a imparcialidade dos membros da corte”.  

As mensagens, segundo os investigadores, foram trocadas entre Tagliaferro e sua companheira e indicam que ele teria repassado detalhes sobre o funcionamento interno da assessoria do TSE ao jornal Folha de S.Paulo.

A defesa de Tagliaferro nega qualquer irregularidade. O advogado Eduardo Kuntz afirma que seu cliente não foi responsável pelo vazamento e critica a fragilidade da investigação.

A Polícia Federal ainda aponta que, ao prestar depoimento, Tagliaferro teria tentado responsabilizar a Polícia Civil de São Paulo pelo vazamento. Após a devolução do celular apreendido, o ex-assessor alegou ter detectado falhas no aparelho e decidiu descartá-lo.

Vaza Toga

Em 2024, a Folha publicou uma série de reportagens com mensagens trocadas entre o gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e assessores do setor de combate à desinformação do TSE.

Na ocasião, o gabinete de Moraes encomendava clandestinamente relatórios do TSE para embasar decisões contra ativistas e veículos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A julgar por áudios e mensagens de WhatsApp do principal assessor de Moraes no STF, Airton Vieira, e do então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação, do TSE, Eduardo Tagliaferro, o ministro não só comanda a investigação, mas também direciona a coleta transinstitucional de provas, mantendo-se ainda como acusador e julgador dos alvos.