Confesso que a questão me provoca um agradável friozinho na espinha, pela oportunidade do bom uso da ciência e da tecnologia - a serviço da vida, inclusive aquela que ainda não nos é inteiramente conhecida.
Trato da possibilidade de trazermos de volta espécies que foram extintas, principalmente pela ação do Homem, “o lobo de todos os lobos”. Diz o noticiário especializado que uma empresa de biotecnologia, a Colossal Biosciences, investe pesado para trazer de volta, por exemplo, o dodô (Raphus cucullatus), uma ave gigante, que era endêmica nas Ilhas Maurício e que desapareceu por ser, na língua dos homens, grande e tolo. Podia chegar a um metro de altura e pesar até mais de 20 kg, mesmo sendo um parente próximo do pombo.
Ela virou alvo fácil da nossa espécie, de que não tinha medo, por não ver nenhum perigo nos serezinhos insignificantes, mas, eis o busílis, com grande capacidade para a morte alheia. Acabou no prato dos invasores do seu ambiente, ou foi simplesmente morta por esporte – entre os preferidos dos nossos iguais -, ou ainda retirada de circulação pela mudança decorrente da ação humana no seu habitát.
Mesmo com o forte investimento em engenharia genética, não parece muito factível ter de volta o dodô original. O ambiente mudou, sua alimentação não deve estar mais disponível, e a Evolução já ensinou que permanecem apenas as formas de vida adaptadas às mudanças que se sucedem.
Fato triste, ainda que obrigatoriamente rememorável, diz respeito à ação do Homo sapiens no planeta. A chamada megafauna – animais gigantes que habitavam os vários continentes até a nossa chegada – foi sumindo, acredita-se, principalmente porque não nos considerava exatamente um perigo a sua existência.
Sabe-se que a megafauna nas Américas e na Austrália havia sobrevivido a 22 Eras Glaciais, mas esses bichos gigantes acharam de sumir exatamente quando aquela espécie – nós – aparentemente inofensiva resolveu se espalhar pelo planeta: há cerca de 30 mil anos no território australiano (de hoje) e entre 17 mil e 12 mil anos no que viria a ser conhecido como as Américas.
Seriam, suponhamos, todos grandes e tolos, por não suspeitarem das nossas reais intenções. Chegamos, vimos e passamos a competir com a força - também - destruidora da Natureza, até então senhora absoluta da vida e da morte na Terra.
O retorno, quando e se possível, de algumas espécies que viveram por aqui bem mais tempo do que nós, até agora pelo menos, aplacaria um tanto da nossa justificada curiosidade, além de enriquecer a fauna miúda que restou. Seria o caso, citando apenas um, da preguiça-gigante, que chegava a pesar cinco toneladas, alcançar até seis metros de altura e que andava sobre quatro patas.
Recentemente, um fotógrafo da Natureza, Alessandro Abdala, conseguiu registrar o que seria “o maior tatu do mundo”, na Serra da Canastra, em Minas Gerais – do tamanho de um fusca, assim descrito. Deve ser um parente direto, um quase remanescente, dos tatus-gigantes que habitaram o então desconhecido – do mundo “civilizado” - território brasileiro, há mais de 10 mil anos.
Claro: houve a Era do Gelo, mas houve também, e ainda há, a atividade puramente utilitarista dessa espécie genial e geniosa de que fazemos parte.
Façamos um exercício de pura imaginação, de fantasia quase infantil, e podemos até ver e ouvir algumas dessas espécies repetindo Darci Ribeiro:
- Eu detestaria estar no lugar dos que me venceram.
Motivos não faltariam. Afinal, o mais tolo de todos os tolos se tornou também o maior predador dos seres humanos.

Ricardo Mota