Promotores do júri do MPAL alertam para alto índice de tentativas de feminicídio em Alagoas
Os promotores de Justiça do Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) que atuam no júri alertam para a quantidade de casos relacionados a feminicídio ou tentativa de feminicídio que têm ocorrido com frequência em Maceió e no interior de Alagoas.
A promotora de Justiça Adilza Freitas atua na 8ª da capital, sendo umas das representantes do MPAL que tem se debruçado nos processos relacionados a esse tipo de crime e busca a responsabilização criminal dos autores. Ela ressalta a continuidade dessa violência descontrolada e avalia essa realidade que, para ela, requer um olhar diferenciado.
“Temos compreensão da complexidade que norteia o feminicídio na sua forma tentada porque as vítimas geralmente comparecem em plenário para dizer que o seu agressor é bom pai e que mudou; e ela até já o perdoou. A sociedade representada pelo Conselho de Sentença tem repudiado esse tipo de crime, condenando os réus quer seja na sua forma consumada ou tentada, mesmo a vitima comparecendo em plenário e falando na defesa do seu agressor. Não somos obrigados a acusar quando o processo não oferecer elementos para tal. Vamos para o plenário com o compromisso de defender a verdade contida nos autos e o direito de viver, de acordo com a nossa consciência e os ditames da lei”, diz a promotora de Justiça Adilza Freitas.
Outra peculiaridade, ressalta a promotora, é o local da execução do crime que ocorre geralmente no lar onde convivia vitima e agressor, distante de testemunho ocular.
“E quando se tem quem presencia são descendentes ou ascendentes da vítima. Causa muita dor e sofrimento a conduta do agressor porque atinge toda família, principalmente os filhos”.
O promotor de Justiça Antônio Vilas Boas, que atua nos júris da 7ª Vara da Capital, também emite sua avaliação sobre o número de feminicídios e a violência com os quais são praticados no país e os julgamentos que tem participado.
“Nossa experiência no Tribunal do Júri tem nos revelado isso. São inúmeros casos de violência contra a mulher resultando em morte, notadamente em decorrência do agressor enxergar na vítima como ”algo” de que tem a posse, não admitindo o fim do relacionamento do casal, geralmente porque a mulher já vem sendo vítima de outras agressões, seja física, psicológica, sexual, moral, ou mesmo patrimonial. Diante desse inconformismo, mata”, enfatiza o promotor .
Vilas Boas complementa afirmando que, “levados a julgamento pelo Tribunal do Júri, os jurados são implacáveis com esses agressores, acolhendo na íntegra a tese acusatória, ainda que os réus tentem justificar a hediondez de suas condutas, não raro passando-se por vítimas de uma relação entre ambos, quando não alegando uma famigerada legítima defesa”
Para ele, os criminosos “são tão insensíveis e covardes, que sequer se importam com os filhos que resultaram dessa relação, que na verdade ficaram órfãos de uma mãe, que perdeu a vida, e de um pai, que perdeu a sua liberdade”.
Adilza Freitas lembra que o feminicídio ou a tentativa de feminicídio é sempre precedido de reiteradas condutas abusivas, violência psicológica e física. “São idas e vindas no relacionamento. Às vezes a mulher não percebe que vivencia um relacionamento abusivo, acredita que o agressor a ama e por isso lhe dá uma nova chance”.
*Com Ascom MP
Comentários
Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.
Carregando..