O calendário eleitoreiro em Maceió

05/05/2024 00:09 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Houvesse algum vestígio de decência na governança instalada naquele prédio de Jaraguá, não estaríamos vendo o espetáculo dos dias atuais. A prefeitura de Maceió desencadeou verdadeira força-tarefa de inaugurações. No Graciliano Ramos, tem unidade de saúde reformada. No Joaquim Leão, a praça da Guarda Municipal acaba de ser reinaugurada. Às pressas, conjuntos residenciais na periferia recebem pavimentação.

Pavimentação é modo dizer. O que fazem é jogar uma mistura de areia, brita e piche, com prazo de validade de alguns meses. Em bairros como Vergel ou Santos Dummont, a buraqueira tem a duração de um mandato. Na reta final dos quatro anos de JHC, a correria espalha a gambiarra asfáltica. A qualidade do serviço, aliás, é bem diferente a depender das coordenadas geográficas. Na “área nobre”, é serviço de primeira. 

De última categoria é o que se faz nos endereços distantes da beira-mar e de outros pontos com CEP da elite. A disparidade no tratamento é um escândalo. Qualquer detalhe fora de lugar nas regiões frequentadas por ricaços e pela turistada é resolvido na velocidade de um clique no Instagram. Localidades pobres convivem com situações de calamidade por tempo indeterminado. Uma regra perversa que atravessa administrações.

Mas voltemos ao calendário eleitoreiro. Apartamentos à beira da lagoa, prontos para habitação desde o começo do ano passado (ou até antes), somente agora foram entregues. Não bastasse isso, a atual gestão se vale de um projeto para o qual nada fez por sua concretização. É claro que ninguém espera dignidade numa hora dessas, mas o respeito à História impõe o registro: tudo ali foi viabilizado na gestão de Rui Palmeira.

Em outro lance projetado para o palanque, o prefeito anuncia a construção de um mercado público no Benedito Bentes. Aqui, um clássico da nossa arte política: a grande realização é a assinatura de uma ordem de serviço. Por que agora? Porque logo mais em julho esse tipo de estripulia estará proibido pela Justiça Eleitoral. Vale o mesmo na convocação de aprovados em processo seletivo para trabalhar na rede de ensino.

No momento em que escrevo este texto, a última inauguração da prefeitura ocorreu há menos de 24 horas – mais uma praça, agora na Chã da Jaqueira. E assim vai até 5 de julho, último dia livre para turnê eleitoral disfarçada de cronograma para execução de obras. O constrangedor – e também irritante – é a manipulação da folhinha de cada mês. E é tudo assim, feito às claras, com naturalidade abusiva, como se isso fosse sério.

Travar obras necessárias, e correr com a encenação de ordens de serviço. A receita da feitiçaria para pescar votos. Com milhares de artigos na legislação, apegada a firulas de capítulos e parágrafos, a Justiça não dá conta de um golpe tão rasteiro. O descalabro é nacional. O alcaide maceioense é apenas mais um a reproduzir os princípios da tradição. É o que temos. No verso de Paulo César Pinheiro, “candidato é sujo, eleitor é pato”. 

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