Janela partidária: a matemática que expõe a ausência de convicções e o “mero cálculo”

09/04/2024 13:05 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Com o fim da “janela partidária” se consolida a reconfiguração da composição da Câmara Municipal de Maceió. Partidos que elegeram bancadas nas eleições municipais passadas sumiram da Casa, como é o caso do PSD. Outros que não tinha sequer vereadores, agora se fazem presentes, como o Solidariedade.

O motivo é simples? Tudo é matemática.

Como para se eleger, na disputa proporcional, é necessário que a legenda oferte cociente eleitoral, que é somado com os votos dos candidatos de peso e dos chamados “poca urnas”, nasce as estratégias dos chapões e das chapinhas.

No primeiro caso (os chapões), o objetivo é atingir o cociente eleitoral várias vezes, elegendo bancada. De preferência, garantindo as reeleições.

É o que o prefeito JHC fez com o PL, juntando vários vereadores que não necessariamente são de direita, como deveria ser, hoje, o partido que tem como principal liderança o ex-presidente da República. Jair Bolsonaro.

Mas isso não importa tanto ao cacique maior da legenda em Alagoas, JHC.

Afinal, a sigla abriga o bolsonarista histórico Leonardo Dias, que se encontra na legenda antes mesmo do prefeito, mas também recebe Cléber Costa, que já passou até pelo PT, em sua trajetória política, e sempre foi ligado a pautas progressistas.

Todavia, não é exclusividade do PL.

O MDB – do senador Renan Calheiros – é forjado no mesmo fisiologismo da matemática eleitoral, tendo seus quadros reforçados com base em números, para também abrir espaço para os que não são emedebistas históricos, alguns – inclusive – que já foram da bancada de JHC, como é o caso de Zé Márcio, atualmente um ferrenho opositor do Executivo municipal.

No caso das chapinhas, atingir o cociente eleitoral uma única vez já é o suficiente. Afinal, o vereador de mandato lá presente só precisa da chapa enquanto escada para sua vitória, como ocorre com o Podemos de Samyr Malta.

Malta, por sinal, traçou este mesmo plano nas eleições municipais passadas, com o PTC. Diante disto, se reelegeu naquele momento. Ele parte para repetir a dose.

Mas não só ele: Silvânia Barbosa depende dos mesmos cálculos no Solidariedade.

O Republicanos – em que pese ter a mesma linha de ação – guarda um diferencial: o pastor Oliveira tem identidade com o movimento evangélico que se faz presente na sigla em vários cantos do país.

O fato dos partidos se apresentarem – neste momento – como meros cartórios na busca por viabilizar condições de disputas aos nomes que buscou atrair é algo histórico e crônico na política brasileira multipartidária, com seus 50 tons de fisiologismo.

Se há algo raro de se ter nas legendas é identidade entre estas e os filiados. Até mesmo na Federação (PV, PCdoB e PT), que tem uma linha ideológica muito bem definida, tivemos – durante muito tempo na Câmara Municipal de Maceió dois casos interessantes, a presença de Eduardo Canuto e Gaby Ronalsa nesse bloco. Ambos possuem perfis mais à direita, digamos assim. Não por acaso, hoje no PL, Canuto se sente muito mais à vontade.

Ronalsa não vai concorrer à reeleição, por isso não foi ativa nas mudanças da janela partidária. O grupo político do qual faz parte tem outro candidato: Milton Ronalsa, que vai disputar a cadeira de vereador pelo PSB.

Até o Doutor Valmir, um petista histórico, sentiu o peso desses cálculos ao receber um presente de grego na Federação: a entrada da vereadora Teca Nelma (ex-PSD). É óbvio que o perfil de Nelma coincide com tudo aquilo que o PT defende, mas convenhamos, seu destino político tem muito a ver com a matemática eleitoral. A Federação passou a ser atrativa agora, como – lá atrás – foi o PSDB, partido pelo qual ela se elegeu. Assim como já foi o PSD, partido que havia ofertado condições para ela disputar uma das cadeiras da Assembleia Legislativa, sem ter conseguido êxito naquele momento.

No final das contas, partido é cartório com gente especializada em projeção de cálculos, usando de estimativas que antecedem uma necessária combinação com o eleitor. O que não significa dizer que não haja aqueles políticos que de fato se identificam com as legendas onde se encontram, como é o caso de Leonardo Dias e Eduardo Canuto no PL ou de Teca Nelma no PT.

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