Em 2023 foram registrados, no país, 200.322 casos de estelionato por meio digital contra 120.470 registrados em 2022, representando um aumento de 65%, conforme dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. 

Embora não haja ainda um levantamento preciso, em Alagoas, assim como no restante do Brasil, a tendência é que a incidência dessa modalidade de crime tenha aumentado e siga aumentando de forma “aperfeiçoada”, com o uso da Inteligência Artificial (IA).

Em entrevista ao CadaMinuto, o delegado Sidney Tenório, da Seção de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de Alagoas, disse que, hoje, não tem conhecimento de golpes digitais diretamente com o uso de IA registrados nas delegacias locais, mas alerta que, mais cedo ou mais tarde, eles irão ocorrer. 

“Hoje ainda se tenta aqueles golpes clássicos, de Instagram e Whatsapp, mas muito em breve serão golpes mais sofisticados, simulando, por exemplo, que é a pessoa mesma que está pedindo alguma coisa no vídeo”, explicou o delegado, orientando: 

“O que sabemos é que teremos que ter muito mais cuidado. Porque, enquanto hoje a gente evita um golpe no WhatsApp com uma ligação ou chamada de vídeo para a pessoa, amanhã, com a IA, o golpista vai poder simular a voz e até a imagem de outras pessoas. Então, como a gente sempre fala, na dúvida não faz pagamento, não transfere dinheiro, não faz Pix e tenta um contato pessoalmente, porque a gente sabe que a dificuldade maior é a recuperação posterior”.

E, uma vez sendo vítima do golpe, o caminho é o mesmo: registrar Boletim de Ocorrência, seja na Central de Flagrantes, na Delegacia Virtual ou no Distrito Policial. “Nós sempre falamos que no caso de estelionato virtual, de crime cibernético, a prevenção é bem melhor que a repressão, porque são crimes geralmente praticados à distância, o que dificulta inclusive a logística de prisão”, reforçou.

 

Redes sociais

Por meio de sua assessoria de Comunicação, o advogado criminalista Ronald Pinheiro pontuou que as redes sociais impulsionaram de forma vertiginosa o número de vítimas de crimes digitais e que, inicialmente é preciso entender que para obter contato ou fazer qualquer transferência de dinheiro, por exemplo, é preciso confirmar se realmente é aquela pessoa que está do outro lado.

“Os criminosos podem usar a IA de diversas maneiras. Se você posta frequentemente nas redes sociais ou em qualquer lugar online, eles podem ensinar um modelo de IA a escrever no seu estilo. Se tiverem uma pequena amostra de áudio da sua voz, podem ligar para seus parentes reproduzindo exatamente a mesma voz e maneira de falar”, destacou.

Para tentar se precaver de golpes, ele orienta que os usuários fortaleçam contas com autenticação por dois fatores; mantenham contas privadas; não exponham muito sobre sua vida pessoal nas redes sociais; e não atendam chamadas de números suspeitos.

Ronald prossegue explicando que, já em situações onde haja mensagens que informem que houve uma transferência, por exemplo, o melhor caminho é buscar os canais oficiais do banco e não fazer o que determinadas mensagens dizem. “Eventualmente, se a vítima fez um pix para uma conta específica, ela poderá ingressar com uma ação para que quem recebeu a quantia o restitua, mas o primeiro passo é entrar em contato imediatamente com o banco para que eventualmente consiga cancelar aquela transação”, alerta.

Em caso de se tornar vítima, o primeiro passo é registrar um boletim de ocorrência, como orientou Sidney Tenório, e alertar a situação para a rede de contatos. Ele explica ainda que as compras online também devem ser fator de observância, antes de acreditar em tudo o que aparece no ambiente virtual.

“É preciso entender que existem muitas ofertas fraudulentas, que trazem vantagens e descontos absurdos. Por isso, nós orientamos a fazer as suas transações em ambientes seguros e sites conhecidos. Identifique se o site possui um cadeado no seu url, que dá a ideia de que é um site seguro. Hoje o consumidor possui inúmeras opções, mas é importante procurar fazer as transações nas plataformas mais conhecidas, porque se evita cair em uma fraude e ter um prejuízo maior”, finalizou.

 

Golpe x medo

A funcionária pública federal aposentada Natália Santos (nome fictício a pedido da entrevistada) foi vítima de um golpe. Ela disse à reportagem que estava aguardando um valor referente a uns precatórios e caiu no golpe.

"Recebi em meu celular, pelo WhatsApp a mensagem de uma pessoa se passando por um advogado que estaria à frente do caso. Ele confirmou meu dados, e para meu espanto ele tinha todos, e em seguida informou que deveria fazer um depósito para desbloquear algo e iniciar o trâmite", comentou Natália, sem perceber que estava caindo no golpe.

Em seguida, ela disse que "desconfiou" e foi consultar seu sobrinho, que também é advogado e foi então que percebeu que havia caído em um golpe:  “Tentei reaver o valor repassado mas não foi possível. O número de WhatsApp me bloqueou e nunca recebi nenhum retorno".

A servidora aposentada ressaltou que, o que mais a assustou, foi que o golpista tinha todos seus dados pessoais e ainda tinha conhecimento do caso. Apesar do prejuízo financeiro ela comentou que não registrou a denúncia, por vergonha e até por medo. "O golpista tinha muitas informações ao meu respeito e isso me deixou insegura para formalizar denúncia", concluiu.