Férias costumam ser sinônimo de descanso. Mas quem viaja raramente o alcança. Quase tudo é correria e agitação, especialmente se há poucos dias para visitações. A realidade, porém, está mudando. Uma pesquisa nos EUA mostrou que 21% das pessoas estão optando por férias "para não fazer nada". Muitos aproveitam o período para uma meditação na natureza longe de casa ou passam praticamente o dia numa espreguiçadeira em resort, sem preocupações de conhecer nada novo. Ou seja: de fato, recarregando as baterias.
"Descobri que sou realmente bom em não fazer nada", disse o viajante Neil Hord, um dos adeptos do novo estilo de férias, de acordo com reportagem do "Wall Street Journal". Ele já tem um nova viagem marcada para Punta Cana (República Dominicana) nos mesmos moldes do "fazer nada", que os italianos chamam de "dolce far niente", o ócio prazeroso. Antes, ele e a esposa, Lorraine Sanders, que trabalha no mercado financeiro, costumavam passar férias bem agitadas, de safáris na África, passando pela exploração de Machu Picchu (Peru) a uma viagem como mochileiros pela Tailândia.
Eles trocaram a adrenalina e a agitação, em novembro, por um período "sabático" em Cancún (México), num resort só para adultos, a fim de evitar até o possível estresse do contato com crianças. Os quatro filhos, naturalmente, não foram.
"Descanso e relaxamento" superaram "diversão e passar tempo com a família" como o principal motivador para viagens de lazer, de acordo com uma pesquisa nacional de fevereiro com 1.000 viajantes americanos pela Longwoods International, uma empresa de pesquisa de mercado.
Vanessa Louis-Woolley, moradora de Denver (Colorado), recentemente voltou de uma viagem de uma semana num hotel em Napa Valley (Califórnia) com o marido. Durante sete dias, a única preocupação do casal era receber massagens, descansar, beber vinho e assistir a séries na TV. Nada de sair para explorar a paisagem californiana.
Contribuiu para esse cenário a pandemia de Covid-19. Logo após o fim das restrições, muitas pessoas buscaram viagens para reencontrar parentes ou para "aproveitar a vida" nos seus destino favoritos, muitos deles superlotados. Com o tempo, e a vida voltando ao normal e passando esse frisson turístico, muitas pessoas perceberam que, na verdade, precisavam "se cuidar" após o longo isolamento.
Foi quando surgiu uma nova ideia de "isolamento", desta vez por escolha. As crises geopolíticas na Europa e no Médio Oriente, as próximas eleições nos EUA e as preocupações financeiras levaram muita gente a usar as férias para desligar e recarregar as baterias, segundo Amir Eylon, presidente e executivo-chefe da Longwoods International.
"Os viajantes pensam: OK, já conversei com as pessoas, agora preciso de um tempo para mim", comentou ele.