Carnaval: você conhece Rás Gonguila?

09/02/2024 09:13 - Geral
Por Guilherme Lamenha
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No próximo domingo, dia 11, a Beija-Flor de Nilópolis vai apresentar ao Brasil, e a muitos alagoanos, uma figura histórica dos antigos carnavais de Maceió: Rás Gonguila. Na verdade, o título foi criado pelo próprio personagem, que nasceu Benedito dos Santos e era um conhecido engraxate do centro da cidade.

Rás era um título nobiliárquico da Etiópia, equivalente ao duque europeu. Ao adotar o codinome, o maceioense evocava para si a nobreza de seus ancestrais africanos, na terra de Zumbi que, no século XVII, reinou absoluto no Quilombo dos Palmares, um dos maiores movimentos de resistência e liberdade da história do Brasil. 

Rás Gonguila também era uma figura rara. Foi fundador do bloco Cavaleiro dos Montes, agremiação famosa nos carnavais alagoanos. Os desfiles contavam com o apoio dos clientes importantes do engraxate, que mantinha um famoso ponto de atendimento no Café Cupertino, entre a Rua do Livramento e a Rua do Comércio, em frente ao Relógio Central.

Seu porte majestoso combinava com a túnica de botões dourados que usava nas apresentações públicas, acompanhado do tradicional clarim que anunciava o carnaval. Era assim que recebia os “foliões ricamente fantasiados, com muita animação, confete, serpentina e lança-perfume”, como recordou Ednor Bittencourt em seu livro de memórias, Corrupio, publicado em 1992.

A influência de Gonguila, no entanto, não se limitava aos carnavais. Influente na cidade, atraía o interesse de lideranças políticas e se tornou figura importante em inaugurações, a exemplo da abertura oficial da sede do Clube Fênix Alagoana,  e em festividades de datas especiais, como o 7 de Setembro em Maceió.

Rás Gonguila faleceu em 1968, vítima de um ataque cardíaco, e foi enterrado no Cemitério São José, no Trapiche da Barra. O bloco continuou a existir e manteve o frevo nas ruas da capital por muitos anos, conquistando em sua trajetória 23 títulos do carnaval de Maceió.

Apesar de “espremido” entre o frevo pernambucano e o axé baiano, o carnaval de Alagoas sempre teve relevância para moradores e visitantes, mantendo viva uma tradição que diz muito do espírito festivo do nosso povo. Os brincantes do carnaval, aqui chamados de “bobos”, sempre tiveram seu espaço nos animados "mela-mela", tanto na capital quanto no interior.

Figuras míticas como o Major Bonifácio, “major do povo” que comandava a alegria no bairro de Bebedouro; o moleque namorador, jornaleiro-folião imortalizado com nome de praça na Ponta Grossa; os corsos; os blocos da La Ursa e mais recentemente o Pinto da Madrugada que comanda um dos pré-carnavais mais animados do Nordeste demonstram o vigor das festas de Momo em terras alagoanas. 

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