Com a chegada de 2024 e as mudanças econômicas com o aumento do salário mínimo, muitos alagoanos se preparam para investimentos de alto valor agregado, como realizar o sonho da casa própria, ou tentam reorganizar as finanças a fim de melhorar o controle dos gastos.

O CadaMinuto conversou com os economistas Jarpa Aramis, Anderson Araújo e Lucas Sorgato, que compartilharam dicas sobre como se planejar financeiramente em 2024 e como desenvolver hábitos para uma vida economicamente equilibrada.

 

“Conhecer como você gasta seu dinheiro”

O economista Jarpa Aramis fala sobre hábitos e atitudes que podem ajudar a organizar as finanças para 2024. Ele afirma que a melhor conduta para uma vida economicamente equilibrada é conhecer sua realidade financeira e refletir sobre alguns gastos que podem ser alterados.

“O básico é você ter conhecimento de como você gasta o seu dinheiro. A partir do momento que você consegue reconhecer para onde o seu dinheiro está indo, é possível definir quais são os melhores caminhos para ele”, pontua.

Segundo ele, é importante manter um registro com dados sobre o que é gasto ao longo de um período. Jarpa defende que o registro ajuda no processo de reflexão e planejamento dos gastos para manter um orçamento equilibrado ao iniciar um novo ano.

“Quando você revisita esses dados e vai analisá-los, você começa a perceber algumas coisas que podem ser modificadas como, por exemplo, comer fora de casa. Se você alimenta essa informação, você consegue perceber o peso que o comer fora de casa impacta nas suas despesas”, explica.

O economista também argumenta que ter uma reserva emergencial ajuda em momentos inesperados, sobretudo quando não há a quem recorrer. Ele alega que até para as pessoas que têm dificuldade na sobra de dinheiro no final do mês, é possível construir uma poupança.

“O importante não é a quantidade em termos de dinheiro que você vai guardar, mas sim iniciar e construir uma nova rotina, um novo hábito, uma mudança de comportamento quando esse dinheiro chega na sua mão. O importante é iniciar”, reforça.

De acordo com o especialista, conhecer sobre impostos e taxas de juros é o ponto chave na hora de realizar alguma compra de alto valor agregado, como uma casa, terreno ou um carro. “Por exemplo, eu vou adquirir uma casa nova, vou comprar um terreno, tem impostos ali que serão pagos. Eu vou pegar um financiamento, vou pegar o dinheiro de um empréstimo, preciso entender efetivamente quanto vou pagar”. Para ele, conhecer esses itens diminui a chance de ser pego de surpresa.

 

“Manter um controle mensal de gastos”

O doutor em Economia Anderson Araújo diz que observar o planejamento anterior é imprescindível para corrigir erros e repetir acertos de um ano para o outro. Para ele, é necessário refletir sobre as despesas não planejadas e as metas descumpridas.

O economista argumenta que a melhor estratégia para criar e manter um orçamento equilibrado ao iniciar um novo ano é ter noção da sua receita e das suas principais despesas. Anderson reforça que é fundamental manter um controle mensal de gastos.

“Para valores médios de água e energia, é importante estabelecer um valor mensal com base no consumo dos meses anteriores. Em casos de cartão de crédito, estabelecer uma quota máxima para o valor da fatura todos os meses, com base no meu poder de pagamento. Por fim, tomar cuidado com as despesas típicas de início de ano, como matrícula escolar, módulos e material”, salienta.

Ele ainda pede cuidado com as dívidas ajustadas com base em índices, cuja prestação acaba variando mês a mês, como no caso dos imóveis e terrenos adquiridos por meios não tradicionais de financiamento bancário.

“O caso dos juros influencia diretamente a tomada de empréstimos e o pagamento de dívidas com atraso. É fundamental tentar manter as contas em dia, pagar cotas de tributos com desconto, se possível, e no caso de uma real necessidade de empréstimo, pegar o menor valor necessário, pesquisando a menor taxa e não a maior facilidade de ter o dinheiro em conta”, alerta.

Por fim, Anderson aconselha decisões pensadas e planejadas para quem está pretendendo comprar um carro ou um imóvel em 2024. Segundo o economista, isso requer uma avaliação cuidadosa e sem pressa, para verificar a possibilidade de honrar as dívidas sem enormes dificuldades.

Anderson informa que, no caso da compra de veículos, o período pós pandemia alterou muito o cenário, aumentando o valor médio e gerando financiamento com valores mais altos. “Sendo 0km ou usado, busque dar uma maior entrada possível, com o menor número de parcelas, observando o valor final a ser pago, não apenas a prestação. Também inclua os gastos anuais de seguro e licenciamento no orçamento, além de possíveis manutenções e revisões”.

Já no caso de imóveis, o especialista ressalta que é válido observar bancos públicos e privados, barganhando melhores taxas. “A entrada também ajuda a diminuir o saldo a ser financiado e imóveis novos tendem a ter maiores percentuais de financiamento.  A possibilidade de amortizar parte da dívida em períodos futuros também deve ser considerada, dando a possibilidade de quitar o financiamento em um menor prazo possível”.

 

“Determinar prioridades”

Para o economista Lucas Sorgato, não é necessário fazer somente uma comparação com o ano anterior, mas também definir e elencar quais são as prioridades de gastos. Ele afirma que, diante das despesas, deve-se priorizar aquilo que vai ser de melhor compatibilidade para a qualidade de vida.

Ele explica que analisar os gastos do ano anterior serve como base para estabelecer quais são as despesas médias e, ao ter essa noção, fica mais fácil determinar prioridades. “Você tem uma média dos últimos meses, você tem aí um horizonte do que aconteceu no ano passado, que certamente serve de base para se planejar para o futuro”.

Lucas diz que, na sua opinião, a reserva de emergência é uma das coisas mais importantes que uma pessoa pode ter. “O nome já diz, reserva de emergência, você está precisando de uma medicação, de uma cirurgia, de um eletrodoméstico, de uma viagem, alguma coisa do tipo, você tem um recurso que é seu, que está disponível para você”.

Ele enfatiza que a forma de construir essa reserva vai de pessoa para pessoa, pois cada um terá a sua maneira de guardar com base na sua realidade.

O especialista afirma que a palavra chave é planejamento. Em casos de grandes gastos, Lucas alega que tudo deve ser extremamente bem planejado dentro do seu orçamento e renda familiar.

“Uma compra maior dessas pode envolver pagamento de prestações por um ano, cinco anos, quinze anos, até trinta e cinco anos, no caso de uma casa própria. É um planejamento de longuíssimo prazo. Então, ele tem que ser muito bem feito, muito bem estudado dentro do orçamento para que o sonho não se transforme num pesadelo”, adverte.

 

Mudanças do salário mínimo

Jarpa diz que, em sua opinião, o valor que foi adicionado ao salário mínimo, na prática, muda muito pouco para a vida do trabalhador. Segundo ele, o salário mínimo necessário para uma família conseguir atender às suas demandas está muito distante do que seria efetivamente preciso para o brasileiro.

“O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) faz um levantamento mensal e ele estima que o salário mínimo necessário para uma família atender necessidades como alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência seja algo próximo R$ 6.900”, destaca.

Já Anderson acredita que grande parte do aumento do salário mínimo cobre os custos da inflação, ou seja, o aumento nominal dos preços dos bens e serviços. “Não deixa de ser importante [o aumento] porque mantém o poder de compra do trabalhador, isto é, permite a aquisição de bens e serviços que o mesmo deseje”.

Lucas defende que, com o aumento do salário mínimo, o gasto pessoal e o custo de vida geram um ciclo virtuoso na economia, pois se a população ganha mais, ela também gasta mais. De acordo com ele, é uma política interessante para reduzir a desigualdade salarial.

“Algumas vezes você nota um discurso no qual as empresas vão ter problemas. Não. Eu acredito que o aumento do salário mínimo não é dos maiores problemas para o quesito empresarial, até porque vai ter retorno de outras formas, como estou dizendo, a população passa a gastar mais, passa a comprar mais, o que reverbera novamente para o empresário”, explica.

*Estagiária sob supervisão da editoria