A Braskem levou quase dois anos para definir o fechamento da Mina 18 com areia, mesmo método usado em outros oito poços. A informação é de relatórios da Agência Nacional de Mineração (ANM), que acompanha desde 2020 o planejamento da mineradora para fechar as 35 cavidades que operava às margens da Lagoa de Mundaú. A empresa alega que cumpriu as recomendações das autoridades.
O preenchimento desta mina, porém, nem começou: estava previsto para o dia 25, quatro dias antes de a Defesa Civil de Maceió emitir o primeiro alerta de risco de colapso. Mesmo nos outros poços, que tiveram o trabalho iniciado, o Ministério Público Federal apontou irregularidades no material usado e chegou a suspender a extração de areia usada pela mineradora.
A responsabilidade da Braskem pelo afundamento do solo, associada à extração de sal-gema no bairro Mutange que afetou outros quatro bairros vizinhos onde viviam 57 mil pessoas, foi atestada por estudos técnicos do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) em 2019.
No ano seguinte, a ANM, agência vinculada ao Ministério de Minas e Energia, determinou que a empresa apresentasse um plano de fechamento das minas de sal-gema, conforme as peculiaridades de cada uma. Somente em fevereiro de 2021, dois anos após o caso ser associado à atividade da Braskem, a empresa registrou um plano de fechamento da Mina 18 — a segunda maior das 35 cavidades, com 494 mil m³ à época.
O plano original, porém, previa apenas o tamponamento do acesso ao poço, sem o preenchimento de todo seu volume. Em maio de 2021, conforme relatório da ANM, a Braskem informou que estava reavaliando a decisão porque, ao iniciar o processo, “constatou-se que a cavidade se encontra despressurizada, impossibilitando assim, seguir com o plano de fechamento”.
Somente em fevereiro de 2022 houve a alteração do planejamento, incluindo a Mina 18 entre as que seriam preenchidas com areia. Na ocasião, a mudança foi submetida pela Braskem e aprovada pela ANM.
Das nove minas selecionadas para fechamento com areia, a Mina 18 seria a penúltima a ter o processo iniciado, segundo cronograma divulgado pela Braskem no último mês. A demora ocorreu mesmo com sinais de evolução do afundamento nos últimos meses. Em junho e agosto, medições com sonares registradas em novo relatório técnico da ANM indicaram que a Mina 18 tinha uma “configuração complexa de cavidades segmentadas e conectadas por uma passagem estreita”, indicando que parte do poço já vinha cedendo. Na ocasião, o volume total medido foi de 489 mil m³.
Houve nova redução de volume, mais brusca, em nova medição no início de novembro, quando a Defesa Civil registrou 116 mil m³ na mina — 75% a menos do que nos meses anteriores.
O que diz a Braskem?
A empresa informou ter seguido prazos pactuados com a ANM, além de se basear em estudos nacionais e internacionais para definir a técnica de fechamento de cada poço. Segundo a empresa, o preenchimento da Mina 18 não teve início “por conta dos microssismos e movimentações atípicas” detectados nas últimas semanas, e que estão associados ao afundamento acentuado nos últimos dias.
A mineradora alegou ainda que a redução de volume da Mina 18 desde o início deste ano estava “na margem de erro do método de varredura por sonar”, e por isso não exigiria “qualquer ajuste nas medidas já definidas”.
*Com informações do O Globo