A importância de subir a Serra

21/11/2023 14:07 - Geral
Por Guilherme Lamenha
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A cada ano um número maior de pessoas visita Alagoas para celebrar o Dia da Consciência Negra, também denominado Dia Nacional de Zumbi. Em Maceió e em União dos Palmares, mais precisamente na Serra da Barriga, a programação foca na memória, mas também atualiza o presente e aponta para o futuro.

Destacar a importância da data é um dos objetivos do movimento negro de Alagoas e do Brasil, que sempre questionaram a legitimidade do 13 de maio. A efeméride mais destacava a figura da Princesa Isabel como “a redentora” do que a luta por liberdade da população escravizada.

O Quilombo dos Palmares, para muitos historiadores, o maior núcleo de resistência contra a escravidão do mundo, tomou conta de parte considerável da Mata Sul da Capitania de Pernambuco. Os braços explorados nas extensas plantações de cana e nos engenhos que produziam o açúcar, buscaram refúgio nas serras da região, aproveitando o cenário tenso na colônia portuguesa invadida pelos holandeses. 

O quilombo resistiu bravamente entre 1632 e 1696. Durante 64 anos, cerca de 20 mil homens, mulheres e crianças viveram o único período de relativa autonomia ao longo de quase 400 anos de cativeiro, depois da maior diáspora negra no Atlântico Sul. A população dos mocambos reunia pretos, pardos e mestiços, mas não mais de 40 pessoas foram responsáveis pela fundação da República dos Palmares. 

A principal cidadela, no alto da Serra da Barriga, era defendida por uma tripla paliçada, que resistiu a inúmeras investidas ao longo do tempo e só foi vencida com a contratação dos "paulistas", grupo bandeirante composto por uma milícia armada, chefiado por Domingos Jorge Velho. Inúmeras versões cercam o fim de Zumbi, comandante guerreiro mais famoso do quilombo. Seu papel na luta por liberdade, no entanto, nunca foi uma lenda. 

Século XXI

 O Novembro Negro, que esse ano celebra os 323 anos de imortalidade de Zumbi e Dandara, ganhou uma dimensão nacional com repercussão em várias cidades de todo Brasil. Em Alagoas, além das prefeituras de Maceió e de União dos Palmares, o Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e o Governo Federal, por meio da Fundação Palmares, a culminância aconteceu nesta na segunda-feira, na Serra da Barriga.

A Praça Multieventos, na orla de Maceió, recebeu a sétima edição do projeto Vamos Subir a Serra, entre os dias 10 e 15 de novembro, que transformou o local no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares. Evocando dignidade, respeito e reconhecimento do povo negro, o movimento se consolida como o maior projeto afro-cultural do Norte e Nordeste.

No próximo sábado (25), o primeiro Festival Yá Dandara vai comemorar o aniversário do primeiro maracatu exclusivamente feminino de Alagoas. O evento vai ser gratuito e terá oito atrações culturais das 14h às 20h, como a Orquestra de Tambores e a Escola de Samba Girassol, além de coco e samba de roda, no Museu Theo Brandão. A programação também terá oficinas, feirinha de artesanato, bazar e praça de alimentação.

O festival, que destaca a força feminina e do povo negro em Alagoas, terá um momento de “femenagens” a mulheres com história de trabalho e luta pela cultura do povo preto. Serão homenageadas a mestra Zeza do Coco e a Mãe Mirian, ambas Patrimônio Vivo de Alagoas; a secretária da Mulher e Direitos Humanos de Alagoas, Maria José da Silva; a artista Leide Serafim; e a museóloga e diretora do Museu Theo Brandão, Hildênia Oliveira. 

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