Alagoas na passarela do São Paulo Fashion Week

14/11/2023 16:35 - Geral
Por Guilherme Lamenha
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Ele faz um trabalho de pesquisa que tem a cultura popular nordestina, e em particular alagoana, como ponto de partida e de chegada no processo criativo de suas coleções. Mas não é só isso. O designer de moda alagoano Antonio Castro, que vive em São Paulo desde 2014, tem um compromisso afetivo com os artesãos com quem trabalha.

Na última semana, ele fez seu primeiro desfile físico no SPFW, um dos maiores eventos de moda do país. A Foz, sua marca fundada no final de 2020, já tinha estreado no line-up do evento em maio passado em formato de fashion film. Dessa vez, a passarela foi tomada pelo Alambique Fantasia, uma viagem pela história da cachaça, em um engenho que existe apenas na cabeça de Antonio.

O ingrediente extra foi a presença, na primeira fila, de artesãos alagoanos que colaboram com o designer nas suas produções. Eles viajaram a convite do Sebrae Alagoas, um dos patrocinadores do desfile, junto com a Prefeitura de Maceió e o Senac. 

“Foi muito importante ter a presença deles nesse momento tão importante para a marca. Eles representam a expressão da minha cultura, que tanto enriquece meu trabalho”, revela Antonio Castro durante uma roda de conversa pós-desfile, no Museu A CASA do Objeto Brasileiro.

Desde cedo, o designer traz elementos do fazer manual em suas peças, sempre conduzindo as técnicas do artesanato têxtil tradicional no fazer de moda contemporâneo. “A Foz é um projeto independente que tem como objetivo tornar possível o acesso ao artesanato de raiz tipicamente brasileiro em um produto de moda pensado e desenvolvido com narrativa e intenção”, afirma no texto de apresentação da marca. 

Gestora de Artesanato do Sebrae Alagoas, Marina Gatto é uma entusiasta do trabalho de Antonio Castro. “Além do exímio trabalho que realiza na moda autoral brasileira, ele cria a Foz com um conceito de moda artesanal, valorizando nossa ancestralidade e o fazer manual. Outro ponto a ser destacado é o respeito e a atenção na relação dele com os artistas populares. É lindo de ver e acompanhar”, diz Marina Gatto, responsável pela ida dos artesãos a São Paulo.

Ela lembra a riqueza da arte popular alagoana e do papel do Sebrae no apoio às demandas do segmento. “Nós orientamos sobre  as melhores práticas no manejo das matérias-primas ou na comercialização de peças, em aspectos como precificação, divulgação e participação em feiras e eventos”, completa.

Alambique

O desfile apresentado no Shopping Iguatemi, de São Paulo, contou com 30 looks que teve como protagonistas bordado livre, rendendê, filé, cerâmica, patchworks, entalhe em madeira, trançado em palha e crochê. As estampas remetem a símbolos do cotidiano como o tradicional copo americano, rendas que remetem à cestaria, além de elementos como miçangas que marcam a decoração das casas do interior de Alagoas, retratadas pela Foz.

“Minha vontade era falar da cana como símbolo do Nordeste, para além da monocultura ou degradação do solo. É a cana-de-açúcar, mas é também a cana da cachaça, do melado e da rapadura. É simbolicamente e essencialmente o que o brasileiro faz por formação: comer, digerir, expelir. O que é do outro passa a ser nosso, do nosso jeito”, sintetiza Antonio Castro.

O desfile da Foz foi emoção do princípio ao fim. O regional ganha uma dimensão universal através de uma narrativa atemporal e agênero. “Eu fiquei impactada. Quando vi meu trabalho na peça criada pelo Antonio, entrando na passarela, comecei a chorar. Ele tem sempre um carinho e um respeito muito grande pelo que fazemos e hoje pude ver a materialização do sonho dele, que também é nosso”, resume a artesã Sandra Cartaxo, em nome do grupo. É o recorte feliz de uma trajetória de sucesso que está apenas começando.  

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