O primeiro contato que eu tive com Tânia de Maya Pedrosa foi na infância. Ela estava no Festival de Cinema de Penedo, elegantemente vestida de forma diferente das outras mulheres naquele final dos anos 1970. Eu estava com meus pais e todos falavam que ela entendia de moda e de arte. Muitos anos depois, já trabalhando com seu filho, o então secretário do Planejamento de Alagoas, Sérgio Moreira, visitei pela primeira vez o apartamento da Ponta Verde.

Meu espanto diante da sua coleção de arte popular de Tânia só não foi maior que a alegria que vivenciei ao conhecer mais de perto sua exuberante obra. Uma das maiores representantes da arte naïf no Brasil, Tânia é, acima de tudo, uma apaixonada pelo imaginário popular e pelas raízes nordestinas. Mas o que seria o naïf e como ele desafia as convenções do mundo da arte?

O termo deriva da palavra francesa naïveté que significa ingenuidade. Os críticos usavam a expressão de forma pejorativa para se referir aos artistas autodidatas, de traços espontâneos, que não seguiam as regras ou formações tradicionais. Espíritos livres que não estavam inseridos nos ambientes acadêmicos ou nos circuitos oficiais de arte. Eram outsiders em um mundo repleto de hierarquia e normas.

A artista alagoana Tânia de Maya Pedrosa, nascida em Maceió, em 1933, representa esses espíritos livres e com sua arte evoca histórias de outros tempos e muitos lugares. Mas além de pintora, ela também é escritora, curadora e uma das mais importantes colecionadoras de arte popular do país. Ao longo dos anos, consagrou-se como a grande dama do naïf, com obras que ganharam destaque em salões de arte e bienais no Brasil e na Europa.

Entre os alagoanos, ela é reconhecida como uma personalidade com relevantes serviços prestados em defesa da preservação e desenvolvimento da literatura, das artes e da cultura. Com uma intensa trajetória artística, participou de exposições de grande sucesso, tanto como protagonista de suas próprias obras, como na promoção dos artistas locais.

Segundo conta o escritor e jornalista Mário Lima, Tânia Pedrosa descobriu sua paixão pela arte ainda menina. "Transitou pela literatura, pela moda e finalmente pela pintura. Apaixonada pela arte popular é uma colecionadora reconhecida por críticos de arte, galeristas, documentaristas e museólogos. Dedicou grande parte de sua vida à busca e valorização de artistas muitas vezes anônimos".

Ele sempre esteve presente nos grandes eventos nacionais e internacionais, como os Festivais de Cinema de Penedo, Festivais de Arte Popular na Europa, bienais e exposições de grande relevo. Sobretudo, Tânia foi amiga de personagens ilustres da literatura, das artes plásticas, do cinema e da moda, como Aurélio Buarque de Holanda, Lêdo Ivo, Roberto Burle Marx, e críticos de arte do Brasil e da Europa, a exemplo de Laurent Danshin e Ceres Franco.

Exposição

Para celebrar a vida e obra da artista, está em cartaz a exposição "Das Lagoas ao Imaginário Popular", no Complexo Cultural do Teatro Deodoro, até a próxima sexta-feira, dia 10. A iniciativa é fruto de uma colaboração entre a artista têxtil Parísina Ribeiro, de Minas Gerais, e o curador André Cunha, do Rio de Janeiro.

Mais de sessenta artistas naïfs de diversas partes do Brasil contribuíram para a exposição, retratando em telas pintadas e bordadas, a trajetória de Tânia, suas obras e sua influência na cultura popular brasileira.

"Das Lagoas ao Imaginário Popular", que originalmente aconteceu entre julho e agosto de 2023 na Galeria de Arte André Cunha, na histórica cidade de Paraty, foi reproduzida em Maceió com a colaboração de artistas alagoanos convidados, além das obras originais de Tânia e de parte de sua coleção de Arte Popular.

O evento conta ainda com pesquisadores, artistas e galeristas de todo o país, que proporcionam um amplo leque de atividades culturais relacionadas à arte popular. Com essa iniciativa, Maceió se tornou a capital do Naïf no Brasil, celebrando o legado e a influência artística de Tânia de Maya Pedrosa nos seus 90 anos de vida.