Dantas se diz perseguido, mas a narrativa política não é defesa jurídica...

03/08/2023 16:04 - Blog do Vilar
Por redação
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O papel de dizer se o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), é inocente ou não diante das acusações que embasam o inquérito da Polícia Federal, que resultou em seu indiciamento, é da Justiça. Obviamente, a todo mundo cabe duas coisas: 1) presunção de inocência e 2) o amplo direito à defesa.

Agora, há, nas investigações da PF fartos indícios de uma quadrilha que agiu dentro da Assembleia Legislativa para subtrair recursos por meio de funcionários ditos "fantasmas".

Como visto em imagens, pessoas foram acompanhadas, foram feitos registros e se construiu uma história a partir deste processo que aponta para Paulo Dantas quando este ainda não era governador.

O inquérito é cheio de pontos que necessitarão de explicações por parte da defesa jurídica de Dantas. Como são elementos concretos, inclusive com depoimentos, o discurso político do atual governador, colocando-se como "perseguido", a vítima das circunstâncias, não servirá de nada no âmbito jurídico.

Conforme publicado pelo jornalista Edivaldo Júnior em seu blog, na Gazetaweb, é de Dantas a seguinte frase: “A justiça vai repor a verdade. Continuo sendo perseguido , pois a PF não conseguiu alcançar o seu objetivo, que era me derrotar na eleição de 2022.”.

No máximo, tal discurso de perseguido é mera narrativa política para preservar a própria imagem e a de seu governo diante de um escândalo que antecede a gestão. Afinal, seja Dantas culpado ou não, nada do que ele fez envolve o atual Executivo, mas sim seus passos no parlamento estadual.

É claro e evidente que a oposição a Dantas - que também tem seus caciques políticos com algo a explicar à Justiça - poderá se utilizar disso para atacá-lo, como faz o aliado do emedebista, o senador Renan Calheiros (MDB), diante de qualquer acusação que envolva seus adversários; que o diga - por exemplo - o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas).

Por sinal, Calheiros é o comentador oficial dos escândalos da República, com exceção daqueles que miram em seus aliados. Aí, com pesos e medidas próprios de um estrategista político e não em nome da verdade, Calheiros silencia. Era o esperado!

Mas, voltando a Dantas, o perseguido: o escândalo que o envolve, e é descrito pela PF, não lhe causou tantos danos políticos, pois os deputados estaduais não ligam (por que será?) e muitos arautos acompanharam a mesma posição de Renan Calheiros.

Assim, o terreno é propício a dar explicações simplórias que só recheiam narrativas, uma vez que poucos entram nos detalhes, como das demais pessoas envolvidas possibilitarem a construção de uma teia que se interliga e aponta para o gestor.

Dantas não precisa "sofrer" com aquilo que era esperado de um homem público: se defender do que está escrito no inquérito. Basta dizer que é perseguição...

Cobrar explicações em detalhes os pontos das acusações feitas não é colocar sobre o governador a sentença de culpado. Jamais! É simplesmente, antes de tudo, cobrar de um homem público em posto tão importante aquilo que se espera de quem se encontra em tal posição. 

A vida pública, ainda mais de um político, tem ônus e bônus e ambos - este sim! - perseguirão Dantas.

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